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EXAME Research: a estratégia dos fundos em meio ao risco fiscal

A possibilidade de o governo furar o teto dos gastos inibiu a recuperação dos ativos locais

Fundos de investimento: ouro e câmbio seguem em alta, mas o risco é grande devido ao cenário (Priscila Zambotto/Getty Images)

Fundos de investimento: ouro e câmbio seguem em alta, mas o risco é grande devido ao cenário (Priscila Zambotto/Getty Images)

Karla Mamona

Karla Mamona

Publicado em 4 de setembro de 2020 às 16h04.

Última atualização em 4 de setembro de 2020 às 16h16.

O fantasma da disciplina fiscal, velho conhecido do investidor brasileiro, voltou a assustar o mercado no mês de agosto. A possibilidade de o governo furar o teto dos gastos inibiu a recuperação dos ativos locais em relação a outros lugares do mundo, e isso se refletiu no desempenho da indústria de fundos de investimento.  

Em relatório publicado pela EXAME Research, os analistas Juliana Machado e Renato Mimica destacaram o questionamento dos investidores diante deste cenário. A dúvida que paira no mercado é se, passada a urgência das medidas para conter a crise causada pela pandemia, o governo conseguirá prosseguir com o controle de gastos.  

 “O Brasil ficou para trás em relação ao restante do mundo. Tivemos ruído em termos fiscais, mas isso não afeta nossa visão de longo prazo. Ninguém é contra o pagamento do auxílio fiscal, mas a questão é saber quais outras medidas serão anunciadas. Se haverá um descolamento do compromisso com as contas públicas”, explica Juliana Machado, especialista em fundo de investimento.  

Além da questão do teto dos gastos, em agosto, outro fator que impactou o mercado foram os balanços financeiros das empresas no segundo trimestre. Os resultados, de forma geral, foram bem ruins refletindo o impacto da pandemia de coronavírus e a forte redução nos fluxos de mercadorias e pessoas.   

Apesar do cenário, Juliana Machado ressalta que investimentos em fundos miram um horizonte de no mínimo de três anos. “Os gestores sabem muito bem o que é ruído. Eles olham mesmo o fundamento das empresas.” 

Fundos de macro e ações 

No mês de agosto, os fundos de ações e de multimercado em estratégia em macro indicados pela EXAME Research tiveram um resultado bastante modesto devido ao tema fiscal. Entretanto, a analista destaca que a maioria dos fundos, e um total de 22, já se recuperou das fortes perdas do primeiro semestre. Em prazo mais longos, entre seis e 12 meses, todas as recomendações de fundo estão no azul.  

Segundo Machado, com a queda do Ibovespa em 3,44% em agosto, muitos gestores estão aproveitando a assimetria para se posicionar melhor e manter a qualidade. “Percebemos que as estratégias estão focadas em comprar e carregar, pensando sempre no longo prazo.”  

Entre os destaques do relatório está o Fundo Ibiuna equities 30 Fic Fia. No último mês, a rentabilidade do fundo ficou negativa em 2,38%. Já em 12 meses, acumula alta de 3,43%. Na estratégia de ações, os analistas destacam que a posição comprada em Totvs foi o destaque positivo do portfólio, assim como Klabin e Itaú. Já na estratégia macro, o Ibiuna Hedge Sth Fic, que acumula alta de 19,31% em 12 meses, a posição foi vendida em dólar e comprada em moedas locais, ao mesmo tempo em que manteve as compras em dólar ante o real.   

Renda fixa 

Em relação aos fundos de renda fixa (pós-fixada e inflação), os analistas destacam que a recuperação do crédito privado permitiu aos fundos uma melhora em agosto. Machado explica que, nos fundos high grade (bons pagadores, com menor risco de crédito), as carteiras são robustas para enfrentar choques e não contam com a exposição de fluxo de caixa duvidoso. Já os produtos high yield (alto rendimento) dão mais retorno, mas o risco é maior.

Os analistas acreditam que o mercado de crédito passará por um grau de maior volatilidade do que no ano passado. Na carteira EXAME, os oito fundos tiveram rentabilidade negativa no mês passado, mas em 12 meses, a maioria acumula alta.

Ouro e câmbio  

Por fim, os analistas destacam os fundos de ouro e câmbio. Eles afirmam que naturalmente é arriscado tentar adivinhar para onde os ativos vão. O cenário de pandemia trouxe uma disfuncionalidade dos preços e de liquidez ainda maior. “Os investidores não devem tentar acertar o ponto de entrada e de saída do ouro e do dólar. A recomendação é deixar com o gestor”, diz Machado.  

Sobre o dólar, a expectativa é que permaneça em patamares mais altos enquanto prevalecer a dúvida sobre a questão fiscal. Somado a isso, o cenário de juro baixo empurra o dólar para fora do país. O ouro também está sendo impactado pelos juros baixos em todo o mundo e é procurado por investidores para se refugiar. “Nossa indicação é que quem está animado com ouro e câmbio revise suas posições nas carteiras, mas pensando em proteção e assim evitar perda de patrimônio se houver mudanças bruscas.”

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