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Empresas abrem portas a pequeno investidor

Santander cria área exclusiva para atender investidor pessoa física e empresa que não é da área financeira

Fábio Barbosa e executivos do Santander: respostas a dúvidas dos acionistas (Divulgação)
DR

Da Redação

Publicado em 26 de fevereiro de 2011 às 08h00.

São Paulo - Na bolsa de valores, informação vale ouro. Para comprar uma ação que todo mundo está vendendo e se dar bem, algumas vezes só é necessário ter coragem e uma dose de sorte. Mas para quase sempre ganhar dinheiro dessa forma, é preciso ter mais sabedoria e conhecimento que o resto do mercado sobre a natureza de determinado negócio. Aí entra o investidor bem-preparado, que estuda muito uma empresa antes de comprar sua ação, que constrói uma rede de relacionamentos com seus executivos e que tem capacidade para avaliar o impacto de diversos cenários econômicos nos resultados de uma companhia. Para reduzir a assimetria de informação entre os gestores profissionais e as pessoas físicas que investem em bolsa, as empresas têm desenvolvido cada vez mais canais de comunicação com os pequenos investidores para que eles também possam aplicar dinheiro com estratégia.

Uma iniciativa inovadora veio do Santander. O banco criou uma área para atender apenas pequenos investidores, como pessoas físicas e empresas não-financeiras. Muitas outras companhias, como a Petrobras e a CCR, já possuem em sua área de relações com investidores funcionários responsáveis por atender gente de menor porte. A diferença é que o Santander criou um departamento específico separado da área de RI para responder as questões desse público.

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"O que percebemos é que são duas classes de investidores totalmente diferentes, que possuem dúvidas e falam linguagens distintas. Ao separarmos as duas coisas, conseguimos dar um atendimento mais adequado a ambos", diz Silvia Vilas Boas Magalhães, superintendente do Santander Acionistas.

O banco de controle espanhol possui uma base de cerca de 200.000 acionistas minoritários no Brasil. O número não chega a ser tão grande quanto o de concorrentes como o Bradesco, mas está muito acima da média das companhias abertas brasileiras. Boa parte da base de acionistas foi herdada de bancos adquiridos pelo Santander no passado, como o Banespa. São, portanto, acionistas de longuíssimo prazo, bastante interessados nos dividendos distribuídos pela instituição.

Muitos deles carregam as ações do Santander negociadas sob os códigos SANB3 e SANB4 - a mais líquida é a unit SANB11, vendida na oferta pública de 14 bilhões de reais realizada em 2009. O perfil desse investidor é tão diferente da média que muitos deles possuem papéis registrados em livro - e não na câmara de custódia da bolsa. Essa é uma forma de fugir dos custos de custódia e corretagem que afugentam muita gente do mercado acionário. Muitos dos donos dos papéis nem utilizam o home broker - ter conta em corretora será necessário apenas quando eles decidirem liquidar a posição.

Para atender a investidores como esses, o Santander avaliou que era necessária uma infraestrutura específica. O site do Santander Acionistas possui ferramentas como uma calculadora de dividendos. A pessoa coloca apenas o número e a classe de ações que possui e já fica sabendo quanto será depositado em sua conta em proventos periodicamente. Foram contratados funcionários para responder as dúvidas que chegam por um telefone e um e-mail específicos para as questões dos minoritários. "A demanda pelo serviço cresce em dias que divulgamos balanços ou fatos relevantes", diz Silvia.

O formato da área de atendimento é o mesmo adotado pelo Santander em todas as suas unidades onde há ações em bolsa, como na Espanha ou nos Estados Unidos. O banco não desenvolveu esse serviço custoso porque é bonzinho. Tanto ele quanto outras empresas já perceberam que construir uma base grande de acionistas e manter com eles uma relação de transparência e confiança vale dinheiro. Afinal, a oferta gigante de ações realizada pelo Santander em 2009 não foi a primeira nem a última vez que o banco acessou o mercado de capitais. Se tiver uma imagem lustrada e uma boa reputação junto aos investidores, o banco terá mais chance de conseguir dinheiro barato no mercado sempre que precisar financiar a expansão da estrutura física ou da carteira de crédito. "O mercado gosta de empresas transparentes e abertas ao diálogo", diz Reginaldo Ferreira Alexandre, presidente da Apimec-SP, entidade que reúne analistas do mercado de capitais e que promove dezenas de reuniões entre empresários e investidores todos os anos.


Acesso direto

As reuniões promovidas em conjunto com a Apimec são outro importante pilar da estratégia de relacionamento do Santander com os acionistas. EXAME.com acompanhou a reunião realizada na última terça-feira pelo banco, que reuniu cerca de 150 pessoas em sua sede em São Paulo. O anúncio de que a reunião seria realizada foi feito por meio do site oficial e de publicidade paga em jornais. A entrada era gratuita. Os analistas de mercado, investidores profissionais e pessoas físicas que compareceram tiveram a oportunidade de tirar suas dúvidas sobre as perspectivas para o banco diretamente com o presidente do conselho de administração, Fábio Barbosa, e com outros cinco executivos do alto escalão da instituição.

A reunião começou com uma apresentação sobre o cenário macroeconômico brasileiro e mundial, feito pelo economista Mauricio Molan. O panorama esperado é bastante favorável ao setor bancário. Ele disse que o PIB vai crescer 4,5% neste ano e que as ações ligadas ao mercado interno devem se destacar. Na sequência, Barbosa falou sobre os resultados do Santander em 2010 e não fugiu de temas apontados pelo mercado como pontos fracos do banco, como o crescimento da carteira de crédito um pouco abaixo da média dos rivais.

Na parte das perguntas, o que se viu foi uma oportunidade real para que investidores pudessem tirar suas dúvidas. Temas espinhosos foram levantados, como a queda das ações do Santander desde a oferta de 2009 ou os problemas tecnológicos na integração com o banco Real. Ainda que as respostas possam ter soado otimistas ou até mesmo ensaiadas, nenhuma questão deixou de ser enfrentada com objetividade pela cúpula do banco.

Nos próximos meses, o Santander deve realizar eventos semelhantes no interior de São Paulo e também em outros estados. A avaliação do banco é que eventos desse tipo também são uma oportunidade de melhorar a educação financeira dos investidores e atrair mais gente para o mercado de capitais. A BM&FBovespa possui uma meta de elevar de 600.000 para 5 milhões o número de pessoas físicas que negociam ações em bolsa nos próximos quatro anos. Empresas abertas preparadas para lidar com um público pouco experiente são essenciais para que a meta seja atingida.

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