Dólar: para especialistas, quem vai viajar ou estudar no exterior ainda neste ano deveria comprar a moeda agora (Karen Bleier/AFP)
Da Redação
Publicado em 12 de agosto de 2011 às 15h03.
São Paulo – A crise nos países desenvolvidos derrubou as bolsas mundiais nos últimos dias, mas não abalou a crença dos especialistas de que o real deve continuar a ser uma moeda sobrevalorizada ainda por algum tempo. Economistas e operadores ouvidos por EXAME.com afirmam que o dólar tende a não fugir da faixa que vai de 1,55 a 1,75 real nos próximos meses. Da mesma forma, um grande avanço do euro fugiria do esperado. Então por que quem vai viajar para fora ou estudar no exterior nos próximos meses deveria comprar essas moedas neste momento? A explicação está na volatilidade do mercado de câmbio, que disparou nesta semana.
Até o mês passado, o câmbio vinha se comportando de maneira quase entediante, variando um ou dois centavos por dia, dentro de uma margem bem estreita de cotações. Na última segunda-feira (08/08), dia em que o Ibovespa despencou mais de 8%, o dólar variou entre 1,58 e 1,65 real em poucas horas. “Há muito tempo não víamos uma volatilidade tão grande no mercado de câmbio”, afirmou Fernando Bergallo, gerente de câmbio simplificado da corretora TOV. “A pressão sobre o real esteve diretamente relacionada à fuga de estrangeiros da bolsa paulista naquele dia.”
Praticamente nenhum economista trabalha com um cenário-base em que o dólar dispararia da mesma forma como aconteceu no segundo semestre de 2008. Naquela época, em poucos dias a cotação saltou de 1,70 para 2,50 reais e até mesmo colocou em risco empresas vendidas em moeda americana, como a Aracruz e a Sadia. O problema, alertam esses mesmos analistas, é que, assim como em 2008, determinados fatos, ainda que considerados improváveis neste momento, poderiam novamente colocar forte pressão sobre a cotação do dólar.
Para o mercado, uma eventual desaceleração da economia chinesa causada por uma recessão na Europa e nos Estados Unidos poderia funcionar como principal motor do enfraquecimento do real. Nos últimos anos, a forte demanda chinesa tem mantido os preços das principais commodities produzidas pelo Brasil nas alturas. A importância das commodities para a balança comercial brasileira é tão grande que a maioria dos economistas acredita que o país teria um grande déficit ao invés de um superávit se os preços das matérias-primas não estivessem tão altos.
Por outro lado, há fatores financeiros que devem contribuir para manter o real valorizado ainda por um bom tempo. O principal deles é o diferencial de juros entre o Brasil e o resto do mundo. Enquanto nos Estados Unidos, por exemplo, o Federal Reserve promete manter as taxas próximas a zero até 2013, o Banco Central do Brasil elevou a Selic (taxa básica da economia) para 12,5% ao ano. Ainda que a Selic comece a cair já neste ano, juros tão mais altos no Brasil que no resto do planeta continuarão a atrair recursos de investidores interessados em aproveitar nossas taxas mesmo após o governo ter anunciado uma série de medidas para a taxação de estrangeiros na renda fixa.
Outro dado que favorece o real é a situação da economia brasileira quando comparada ao dos países desenvolvidos. Segundo os analistas da corretora XP, o PIB nacional deve registrar a sexta maior alta do mundo neste ano. Ao mesmo tempo, EUA e Europa correm o risco de entrar em uma nova recessão. Esses dados são importantes porque, em países com câmbio flutuante, o bom desempenho da economia costuma ter uma correlação direta com a força da moeda local.
Diante desse cenário, André Massaro, especialista financeiro da consultoria MoneyFit, afirma que quem planeja viajar ainda neste ano para o exterior, seja como turista ou estudante, deve aproveitar o atual momento para comprar ao menos a metade dos dólares ou euros que serão usados. Ele lembra que sempre que o dólar chega a 1,55 real, o governo toma alguma medida para evitar que a valorização do real continue. Com o dólar a 1,62 real, o investidor teria, portanto, muito pouco a perder se comprar agora.
Um salto momentâneo do dólar, por outro lado, poderia ser desastroso. “Eu não recomendo a ninguém especular no mercado de câmbio, mas acho muito importante que o turista se proteja de variações que podem até mesmo inviabilizar uma viagem”, afirma. “Costumo fazer um paralelo com o mercado de ações. Da mesma forma que não acho que ninguém deve investir na bolsa com um horizonte de curtíssimo prazo, também acho que quem vai viajar e deixa para comprar dólar na última hora pode se estrepar.”
Essa regra, no entanto, não vale para quem planeja viajar só em 2012. Essas pessoas não devem entrar no mercado de câmbio agora, explica Massaro, porque é melhor deixar o dinheiro aplicado em algum investimento de renda fixa que aproveite os juros altos pagos pelo governo brasileiro e só comprar dólar ou euro mais para frente, em um momento de clara oportunidade.
Outra dica de Massaro é para que a pessoa utilize os cartões de viagem pré-pagos - emitidos por Visa, Mastercard ou American Express – para comprar moeda estrangeira. Em primeiro lugar, ele não acha seguro comprar dólar ou euro e guardar as cédulas em casa por vários meses. Essa opção ainda embute uma vantagem tributária. O IOF pago por quem compra dólar ou euro em espécie ou carrega esses cartões de viagem pré-pagos é de 0,38% do valor da aquisição. Já quem gasta no exterior com cartão de crédito, além de ficar sujeito às oscilações do mercado de câmbio, tem de arcar com uma alíquota de 6,38% de IOF.
A única desvantagem dessa opção é que a compra à vista segue a cotação do dólar turismo. Segundo Fernando Bergallo, da TOV corretora, o dólar turismo costuma custar cerca de 5% a mais que o dólar comercial, utilizado por alguns bancos e empresas de cartão de crédito para a conversão para reais de compras no exterior. Bergallo explica que o “spread” não pode ser considerado alto porque reflete os custos com custódia, segurança e entrega dos dólares aos clientes. “O tíquete médio no varejo é de apenas 1.000 dólares. Isso gera um custo de distribuição para a corretora.”
Proteção especulativa
Para Mauriciano Cavalcanti, sócio-operador da OM DTVM, uma forma mais inteligente para o investidor que quer se proteger de uma recessão na Europa e nos Estados Unidos seria com a compra de ouro – e não as moedas dessas duas regiões. Ele acredita que são os mesmos os fatores que podem mover dólar, euro e ouro para cima, mas a valorização do metal tende a ser muito maior porque as moedas devem ter suas altas limitadas pelo fato de que os problemas financeiros mundiais estarem concentradas na própria Europa e nos Estados Unidos.
Olhando para o histórico dos últimos meses, essa aposta faria realmente muito sentido. Considerado porto seguro em um momento em que as dívidas americana e europeia têm sua sustentabilidade questionada, o ouro realmente tem registrado uma valorização bem superior.
O problema é o conteúdo especulativo desse tipo de aposta. Ao comprar ouro para se proteger da alta do euro ou do dólar, o turista assume o risco embutido no óbvio descasamento de ativos. O segundo entrave para que essa operação seja colocada em prática com sucesso é que o risco de queda da cotação do ouro é bem maior que a do dólar ou do euro. Enquanto o metal bate recorde atrás de recorde no mercado internacional, as duas moedas estão com valores historicamente muito baixos. Há, portanto, diversas resistências para que elas continuem a perder valor.