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Desta vez, a alta do dólar pode não ser inflacionária

Banco Espírito Santo lista quatro motivos para que a inflação de 2009 caia para 4,7% mesmo com três reduções dos juros

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Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h34.

Há muito tempo não surgiam rumores de que o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, poderia deixar o cargo. Os bons ventos internacionais ajudaram a economia brasileira a registrar fortes taxas de crescimentos nos últimos anos, com inflação sob controle. No entanto, bastou a economia dar sinais de forte desaceleração e o Banco Central não indicar que esse movimento será acompanhado também pela queda dos juros que os boatos voltaram a circular. Nesta segunda-feira, o Terra Magazine foi o primeiro a sugerir, ainda que sutilmente, que Meirelles poderia deixar o cargo caso a economia freie demais sem um relaxamento monetário.

Se há pressões políticas para que o BC baixe os juros na reunião do Comitê de Política Monetária que se encerra nesta quarta-feira, também já começam a surgir argumentos técnicos para um corte - ainda que num prazo um pouco mais distante. Contra a baixa dos juros, estão o crescimento do PIB acima do esperado no terceiro trimestre e a forte alta do dólar nas últimas semanas. A moeda americana subiu rapidamente de 1,60 real para mais de 2,50 reais, o que pode ter um efeito extremamente inflacionário na economia brasileira, como aconteceu nos últimos períodos de desvalorização do real. A equipe de análise do BES Investimentos afirma, no entanto, que há quatro bons motivos para acreditar que a alta do dólar, desta vez, terá efeitos inflacionários muito menos severos que no passado:

1 - Ações em baixa: a crise internacional que levou a saída de recursos do Brasil e elevou a cotação do dólar motivou também um forte ajuste nas cotações da ações, o que deve reduzir o dinheiro disponível para o consumo e a atividade econômica.

2 - Matérias-primas mais baratas: o preço das commodities foi afetado pela percepção de que a desaceleração global será aguda - provavelmente a maior desde a Grande Depressão. Esse fenômeno deve limitar o impacto do dólar sobre o preço dos alimentos mesmo com a alta do dólar. Para sustentar a conclusão, o BES montou um gráfico que mostra uma forte correlação histórica entre o preço das commodities e o IPA-DI, índice de inflação agrícola no atacado da Fundação Getulio Vargas. Nos últimos meses, houve um forte descasamento porque o IPA não acompanhou a queda das commodities. Agora, já começa a haver uma reaproximação entre os indicadores e o banco aposta que lentamente os alimentos mais baratos puxarão o IPA para baixo, apesar da alta do dólar. Para o BES, a queda do IPA em breve terá reflexos positivos também no IPCA, o índice oficial de inflação ao consumidor que serve de base para as metas de inflação do governo. "Desta forma, esperamos que o comportamento dos alimentos deva contribuir para o arrefecimento do IPCA, especialmente nos próximos seis meses."

3 - Desaceleração global: o comportamento da atividade econômica nos próximos meses também será desinflacionário. Os efeitos da crise mundial se somarão aos efeitos defasados da política monetária - os juros começaram a subir em abril de 2008, mas os efeitos da medida costumam demorar seis meses para aparecer. Desta forma, mesmo com a alta do dólar, o comportamento dos preços mais ligados à renda doméstica será de acomodação, ao contrário do que foi verificado até agora.

4 - Não há pressão sobre tarifas públicas: não há fortes pressões sobre os preços administrados, que devem subir 4,8% em 2009. O BES traçou esse cenário com uma premissa positiva: o retorno do dólar para 2 reais ao final de 2009. Por outro lado, o banco desprezou os impactos negativos de uma provável queda dos preços da gasolina e do diesel devido ao recuo de quase 70% no valor do barril do petróleo, movimento já cogitado pela ministra Dilma Rousseff (Casa Civil). O banco acredita que, como o governo reduziu a Cide (Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico) para mitigar o impacto da última alta de preços dos combustíveis, agora deverá optar pelo movimento contrário para recompor a arrecadação com esse tributo.

Devido a esses quatro motivos, o relatório assinado pelo economista-chefe do BES, Jankiel Santos, aposta que a inflação medida pelo IPCA cairá de 6,1% neste ano para 4,7% em 2009 mesmo que o BC baixe os juros. O economista diz que "o Banco Central perseguirá com afinco" a meta de inflação de 4,5% no próximo ano, mas, mesmo assim, "haverá espaço para que o BC inicie um processo de flexibilização da política monetária em abril de 2009." Haveria três cortes consecutivos de 0,25 ponto percentual cada, levando a Selic [taxa básica de juros] a 13% ao ano até o final de 2009. Esse cenário provavelmente seria bem-recebido por empresários e investidores, mas o próprio BES avisa: sua opinião ainda é "diferente do consenso de mercado".

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