Desenhado para crises, fundo quantitativo já subiu 11% neste ano
O fundo usa uma série de algoritmos para determinar o que e quando negociar está entre os de melhor desempenho na indústria local de multimercado
Karla Mamona
Publicado em 12 de maio de 2020 às 18h05.
Última atualização em 12 de maio de 2020 às 19h01.
(Bloomberg) — O caos recente nos mercados deixou um rastro de perdas para a indústria brasileira de fundos . Para o Giant Zarathustra Master, a turbulência é um ambiente propício para ganhos. Com retorno de 11% no acumulado do ano, o fundo quantitativo, que usa uma série de algoritmos para determinar o que e quando negociar, está entre os de melhor desempenho na indústria local de multimercado em meio à crise de 2020 — em grande parte graças a uma aposta contra a moeda brasileira. Também conseguiu evitar o acerto de contas que afetou os maiores investidores sistemáticos do mundo, como a Renaissance Technologies, de Jim Simons.
“O fundo foi desenhado para performar melhor em momentos de euforia ou pânico”, disse Flavio Terni, sócio-fundador da Giant Steps Capital, com 2,5 bilhões de reais sob gestão.
Não faltam turbulências no Brasil para dar margem a cenários extremos: a pandemia de coronavírus não dá sinais de desaceleração e, no cenário político, polêmicas e renúncias de ministros dão o tom. O Ibovespa acumula queda de 31% em moeda local desde janeiro.
O Zarathustra tem o quarto melhor desempenho no mercado brasileiro entre 177 fundos multimercado em 2020. O ganho de 32% do Zarathustra nos últimos 12 meses supera quase todos os outros, com exceção de dois fundos, de acordo com dados compilados pela Bloomberg. E cerca de metade do ganho recente está atrelada a apostas contra o real, disse Terni. Com a valorização do dólar de 30% neste ano, o real tem liderado as perdas entre moedas globais, em meio à trajetória descendente dos juros no Brasil.
Embora a aposta contra o real também tenha sido feita por outras gestoras locais, Terni disse que a abordagem quantitativa do Zarathustra trouxe uma vantagem de velocidade sobre os pares. O fundo, que executa quase 10.000 ordens por dia, utiliza estratégias que aproveitam oportunidades de arbitragem e correlações difíceis de detectar. O fundo possui cerca de 50% do risco alocado fora do Brasil.
“Quando o mercado fica irracional, é muito difícil fazer conta e olhar fundamento”, disse Terni. “Nessa hora, o que você quer fazer é ser rápido.”
A Giant Steps, cujo nome foi inspirado no álbum de John Coltrane, foi uma das primeiras gestoras brasileiras a adotar estratégias quantitativas, também chamadas de sistemáticas. Não há dados oficiais sobre o peso dessas estratégias no Brasil, mas elas ainda representam uma pequena fração dos 5,1 trilhões de reais em ativos da indústria.
A gestora planeja expandir neste ano, enquanto a maior parte da indústria de fundos multimercado enfrenta as piores perdas em décadas.
A empresa planeja contratar dez pessoas até o fim do ano, aumentando o número de funcionários para 35. A gestora também pretende lançar um fundo de ações nos próximos meses, projeto que está sendo liderado por uma equipe que inclui Henrique Fiuza, cientista de dados que veio do Nubank. A Giant Steps planeja dobrar os atuais 2,5 bilhões de reais sob gestão até o fim de 2020.
Para Terni, os mercados devem permanecer turbulentos por mais algum tempo. “O Fed imprimindo dinheiro, o mercado subindo sem fazer a menor ideia de quando a crise do coronavírus vai acabar, um cenário político conturbado. É uma salada”, disse. “Não queria estar na pele de um gestor discricionário.”