Saiba como escolher um investimento (Gustavo Mellossa/iStock/Getty Images)
Agência O Globo
Publicado em 31 de agosto de 2020 às 14h47.
Última atualização em 4 de setembro de 2020 às 16h36.
Poupar e investir pode ser um desafio, principalmente em momentos de crise econômica e desemprego em alta. Mas é justamente nessas horas que ter uma reserva financeira de emergência faz a diferença, e garante mais tranquilidade ao trabalhador. Para ajudar o leitor, reunimos dicas de especialistas para sair do endividamento e se tornar um investidor, mesmo com pouco dinheiro.
"A primeira coisa que precisamos nos conscientizar é de que estamos vivendo um momento grave, que afeta a economia e o emprego, e que não sabemos quanto tempo vai durar. O consumismo precisa dar lugar a um agente econômico mais responsável, que foque aquilo que é relevante para a sua família", alerta Alexandre Espírito Santo, professor de finanças do Ibmec-RJ e economista da Órama.
Isso significa identificar as prioridades e planejar os gastos, consumindo de forma consciente. É por isso que a primeira dica dos economistas é verificar quais são as receitas — isto é, quanto dinheiro a pessoa ganha — e as despesas mensais fixas, como contas de consumo, aluguel, plano de saúde etc. Se os gastos fixos extrapolarem os ganhos da família, é a hora de rever essas despesas e fazer alguns cortes.
"Às vezes, a pessoa tem gastos que nem sabia que tinha. É preciso pensar: do que posso abrir mão? Caso contrário, a pessoa vai sempre gastar mais do que ganha e achar que não sobra dinheiro. E, muitas vezes, o problema são as escolhas erradas", diz Ana Laura Magalhães, fundadora do canal @ExplicaAna e sócia da XP.
Segundo ela, depois de analisar as despesas essenciais, o trabalhador pode dividir o dinheiro que sobra entre os gastos adicionais, como lazer, e o que será investido.
"A pessoa tem de investir o dinheiro que sobra. Se não consegue fazer o dinheiro sobrar, já entra em outra esfera, a do endividamento. É como uma empresa. Se eu não tenho controle de meus próprios gastos, eu quebro. Para começar a investir, tem de ter um balanço próprio positivo."
Para o economista Alexandre Espírito Santo, o ideal é que cada pessoa tenha uma reserva financeira de emergência que seja suficiente para cobrir seis meses de seus gastos fixos. Como é um dinheiro para ser usado em situações inesperadas, é importante que ele possa ser sacado a qualquer momento, sem prejuízo para o investidor.
"Essa reserva pode ser feita no Tesouro Direto ou nos fundos de renda fixa que rendem mais do que a poupança. Como a taxa de juro está muito baixa, é importante que os fundos tenham uma taxa de administração também baixa, porque senão não vale a pena. A poupança não cobra imposto de renda, mas existem opções de investimentos tão seguros quanto, que mesmo pagando IR compensam", explica.
Professora de finanças na Fundação Getulio Vargas (FGV), Myrian Lund aconselha o Tesouro Selic para a reserva de emergência, por ter liquidez diária.
"O Tesouro Selic é o substituto da poupança, você pode deixar até 10.000 reais sem custo algum, com exceção do IR, que varia de 15% a 22,5%. Mas a poupança tem a desvantagem de que, se a pessoa sacar antes da data de aniversário, não recebe os rendimentos. No Tesouro, ganha em qualquer dia."
A planejadora financeira ressalta, porém, que não é preciso formar primeiro a reserva financeira para somente depois começar a juntar dinheiro para outros objetivos, como aposentadoria ou compra da casa própria.
"Pode fazer tudo ao mesmo tempo, até porque assim você faz os juros trabalharem a seu favor. A pessoa pode colocar dividir os investimentos por objetivos de curto, médio e longo prazos."
Especialista em investimentos, Ana Laura Magalhães afirma que a escolha de uma aplicação financeira deve levar em conta as necessidades do investidor:
"O mercado financeiro é muito parecido com um mercado normal. Se eu quero comprar uma bolsa preta, tenho um objetivo, não quero uma bolsa rosa. O produto financeiro é a mesma coisa: qual a rentabilidade que eu quero? Qual a liquidez?"
Por isso, uma das estratégias utilizadas na escolha dos investimentos é traçar planos de vida, como a compra de um carro ou de um apartamento, ou ainda juntar dinheiro para a aposentadoria, por exemplo. Como cada plano tem um tempo diferente, isso ajuda a determinar a liquidez, ou seja, a velocidade e a facilidade com que o dinheiro aplicado pode ser resgatado.
"Também é preciso entender que tipo de risco eu quero que esteja envolvido. Talvez a pessoa prefira um investimento no qual não terá desconforto, mas ganhe menos. Então, com essas respostas, a gente vai filtrando. Mas é importante ter a ajuda de um assessor de investimentos, porque no começo é mais complicado mesmo", aconselha Ana.
1 - Anote num caderno ou faça uma planilha com seus ganhos e despesas fixas mensais
Os ganhos incluem salário e outras fontes de renda permanentes, como recebimento de aluguel, por exemplo. Trabalhos temporários devem ser considerados como dinheiro extra. Já as despesas fixas incluem contas de serviços essenciais, como água, luz e telefonia, além de aluguel, mensalidade escolar, plano de saúde etc.
É aconselhável criar uma tabela de despesas variáveis como supermercado, restaurantes, gastos com lazer, consumo de supérfluos, entre outros.
2 - Identifique quais são seus maiores gastos e se precisa mesmo deles
Pode ser preciso rever os planos de internet e telefonia e substituí-los por opções mais baratas. Essa também é a hora de analisar quanto tem sido gasto com o pagamento de dívidas, como crédito consignado, rotativo do cartão ou carnês de lojas.
3 - Corte os gastos desnecessários
O cafezinho depois do almoço todos os dias faz diferença no total gasto no fim do mês, assim como a compra por impulso. Veja onde é possível cortar sem que haja prejuízo em sua qualidade de vida.
4 - Assim que receber o salário, guarde uma parte, mesmo que seja pouco
Investimentos trabalham com juros sobre juros. Logo, quanto mais cedo começar a investir, mais o trabalhador terá no futuro. No Tesouro Direto é possível fazer aportes a partir de 36,34 reais.
5 - Estabeleça um limite de gastos com o cartão de crédito
O cartão de crédito é um bom instrumento para parcelar dívidas de grande valor, além de adiar o pagamento de um produto, quando não se tem dinheiro naquele momento. Mas é preciso estabelecer um limite de gastos que inclua o valor dos parcelamentos. Esse limite tem de caber no orçamento, deixando espaço para juntar dinheiro.
6 - Converse com a família sobre as mudanças
Para quem tem filhos ou pessoas que sejam dependentes financeiramente, é importante avisar que haverá mudanças no orçamento, para que seja possível começar a investir, e que todos devem colaborar. Lembre que o dinheiro poupado hoje pode resultar em recompensas futuras, como viagens ou uma casa própria.
7 - Estabeleça metas financeiras de curto, médio e longo prazo
Metas são fundamentais para planejar os investimentos. E ajudam a criar estímulos para poupar e resistir às tentações de consumo imediato.
8 - Se tiver dívidas, renegocie
O pagamento das dívidas também precisa caber no orçamento. Se tiver dívidas com juros muito altos, como rotativo do cartão de crédito ou cheque especial, troque por opções com juros mais baixos, como o consignado. Mas lembre-se de que as parcelas do empréstimo devem estar de acordo com sua renda e gastos fixos.
9 - Descubra seu perfil de investidor
Nos sites das corretoras é possível fazer testes para descobrir qual seu perfil de investidor: conservador, moderado ou arrojado. Eles variam de acordo com sua tolerância para o risco das aplicações.
10 - Pesquise aplicações adequadas ao seu perfil e comece a investir
Há uma infinidade de investimentos disponíveis no mercado. Não existe o melhor, mas sim o que melhor atende ao seu perfil e às suas necessidades. Estudar sobre o assunto e se conhecer é a melhor forma de descobrir a aplicação ideal.
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