Avião da Avianca: companhia já cancelou 1400 voos, conforme comunicado oficial (SOPA Images / Contributor/Getty Images)
Marília Almeida
Publicado em 2 de maio de 2019 às 11h56.
Última atualização em 2 de maio de 2019 às 13h21.
São Paulo - A crise da Avianca e o anúncio do pedido de recuperação judicial da companhia, feito em março, já teve grande impacto no preço das passagens aéreas, que subiu até 185% em alguns trechos. O cancelamentos de voos e perdas de aeronaves da companhia fazem com que a oferta de voos diminua, enquanto a demanda se mantém a mesma, o que provoca o aumento do valor dos bilhetes.
É o que aponta um levantamento do buscador de preços Viajala, que analisou preços de 100 rotas nacionais pesquisadas pelos usuários entre a segunda quinzena de março e a primeira de abril de 2018 e de 2019, para voar entre abril e junho de cada ano. A amostragem utilizada foi de 100 mil buscas por ano.
Foram compiladas todas as rotas porque houve impacto nos preços tanto nas rotas que a Avianca deixou de operar quanto nas rotas que ainda opera, mas nas quais o número de voos caiu drasticamente. Em todas elas a Avianca operava até os cancelamentos começarem.
"O preço das outras companhias aumenta tanto nas rotas que a companhia deixou de operar, já que as opções diminuíram, quanto nas rotas que ela ainda opera por conta da insegurança do consumidor em comprar com a empresa neste momento delicado, por mais baratos que sejam seus voos", explica o diretor nacional do Viajala, Eduardo Martins.
O trecho que apresentou o maior aumento de preços de bilhetes foi entre Recife e Petrolina, em Pernambuco: no trecho as passagens aéreas aumentaram 185%. Em segundo lugar, estão voos entre Rio de Janeiro e Porto Alegre: as passagens subiram 180% no trecho. A rota entre São Paulo e Salvador também ficou mais cara: os bilhetes aumentaram 153%.
A Avianca, que já havia cancelado mais de mil voos na semana passada, deve cancelar mais dois mil até o dia 8 e voltar ao patamar que tinha quando começou a transportar passageiros regularmente em voos domésticos no Brasil, 15 anos atrás, fazendo pouco mais de 30 voos diários.
A companhia já anunciou o cancelamento de mais de 1.400 voos em seu site e perdeu mais de 10 aeronaves, que foram usadas para pagar credores. A partir de agora, deve perder mais 18 aviões. O leilão dos ativos da Avianca acontece na semana que vem, no dia 7 de maio.
Atualmente, a empresa está operando apenas entre quatro aeroportos: Congonhas, em São Paulo; Santos Dumont, no Rio, Brasília e Salvador. "Encerrar as atividades em aeroportos de intensa movimentação, como Guarulhos e Galeão, gera impacto não só para o consumidor que tinha um voo marcado envolvendo esses destinos, mas para qualquer um que planeja comprar uma passagem em breve, para qualquer lugar", completa o executivo do Viajala.
O aumento de preços atingiu apenas voos nacionais. Quem tem voos internacionais agendados com a Avianca não tem tantos motivos para se preocupar. "A Avianca Brasil, que opera os trechos nacionais, não é a mesma empresa responsável pela maior parte das rotas internacionais da companhia, que tem sede na Colômbia e está operando normalmente", ressalta Martins.
Confira abaixo o ranking do buscador Viajala com as 15 rotas que mais apresentaram aumento de preço médio de 2018 para 2019 entre os meses de março e abril:
Rotas | Aumento | Variação do preço médio |
---|---|---|
Recife (PE) e Petrolina (PE) | 185% | De R$ 237 para R$ 675 |
Rio de Janeiro (RJ) e Porto Alegre (RS) | 180% | De R$ 256 para R$ 716 |
São Paulo (SP) e Salvador (BA) | 153% | De R$ 280 para R$ 708 |
Belo Horizonte (MG) e Rio de Janeiro (RJ) | 137% | De R$ 169 para R$ 400 |
Salvador (BA) e Belo Horizonte (MG) | 136% | De R$ 310 para R$ 731 |
Florianópolis (SC) e Chapecó (SC) | 130% | De R$ 201 para R$ 462 |
Rio de Janeiro (RJ) e Florianópolis (SC) | 126% | De R$ 265 para R$ 598 |
Rio de Janeiro (RJ) e Belo Horizonte (MG) | 124% | De R$ 177 para R$ 396 |
Juazeiro do Norte (CE) e São Paulo (SP) | 122% | De R$ 418 para R$ 927 |
Brasília (DF) e Porto Alegre (RS) | 122% | De R$ 411 para R$ 912 |
Porto Alegre (RS) e São Paulo (SP) | 120% | De R$ 197 para R$ 433 |
Rio de Janeiro (RJ) e Aracaju (SE) | 87% | De R$ 335 para R$ 626 |
Recife (PE) e Rio de Janeiro (RJ) | 71% | De R$ 352 para R$ 601 |
Ao compararmos os valores médios praticados pelas companhias do ano passado para cá, é possível verificar que, da amostragem utilizada, 85% das rotas apresentaram aumento de preço médio no período: em 2019, as passagens nas rotas analisadas ficaram de 11% a 185% mais caras.
Em 22% dos casos o aumento foi de mais de 100% no valor praticado. Ou seja: essas passagens custaram em média, em 2019, mais do que o dobro do que custavam em 2018.
As rotas mais afetadas são as que envolvem o Sul e o Nordeste, regiões para as quais as passagens já costumam ser mais caras. O aumento também impactou os voos que partem do Rio de Janeiro e Brasília.
As rotas para Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, por exemplo, foram afetadas significativamente em voos com origem no Nordeste, no Sudeste e em Brasília. O aumento registrado ficou entre 40%, no preço médio dos voos de Belo Horizonte para Porto Alegre, e 180%, no preço médio dos voos do Rio de Janeiro para a capital gaúcha.
As rotas entre Salvador e Belo Horizonte passaram a custar 136% mais e entre Salvador e São Paulo, o preço médio subiu 153%. Já viajar entre Florianópolis e Rio de Janeiro ficou 126% mais caro, enquanto entre Florianópolis e a também catarinense Chapecó custa 130% mais.
"As rotas que mais sofrem acabam sendo as que possuem menos oferta de voos e que são operadas por menos companhias, como Chapecó. Sem a Avianca servindo o interior, a competição pelo bom preço fica prejudicada", aponta o diretor do Viajala.
O mesmo acontece com Petrolina, em Pernambuco, e Juazeiro do Norte, no Ceará, que recebem voos nacionais de apenas três companhias: Avianca, Azul e Gol. A rota entre Petrolina e Recife ficou 185% mais cara. Já o preço médio da passagem de Juazeiro para São Paulo subiu 122%.