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Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h34.
A LLX, empresa de logística do bilionário Eike Batista, anunciou ao mercado que suspendeu a construção de um grande e polêmico terminal portuário em Peruíbe, no litoral sul de São Paulo. O objetivo da LLX é concentrar suas atividades na construção do porto de Açu (norte do Rio de Janeiro) e no desenvolvimento do porto Sudeste (sul do Rio de Janeiro). Esses dois projetos têm o início da operação previsto para 2010 e 2011, respectivamente, e ganharam a prioridade da empresa por já estarem em uma fase de financiamento mais adiantada.
Segundo Ricardo Antunes, presidente da LLX, a construção do Porto Brasil, em Peruíbe foi apenas suspensa - e não abandonada. A decisão foi tomada por uma questão de "disciplina financeira". "Todos estão cientes do atual momento do mercado financeiro, da pouca disponibilidade de crédito", afirmou ele em teleconferência com analistas. Segundo ele, a empresa tem 380 milhões de reais em caixa, que lhe garantem uma situação confortável no curto prazo. "Só estamos adotando uma atitude bastante conservadora e prudente dada à situação atual do mercado."
Ao suspender a construção do Porto Brasil, em Peruíbe, a empresa reduziu a sua necessidade de capital em cerca de 50%. Os investimentos totais da LLX cairão de 3,9 bilhões para 2 bilhões de dólares, diminuindo os desembolsos da companhia, especialmente no curto prazo. O mercado não recebeu bem a notícia. Às 13h27, as ações da empresa despencavam 17,38%, para 1,34 real.
Com as recentes restrições de crédito, o mercado tem apostado mais em ações de empresas já consolidadas, com forte geração de caixa e pagamento de generosos dividendos. Segundo o professor indiano Pankaj Ghemawat, das escolas de negócio de Harvard e da Universidade de Navarra, essas companhias terão melhores condições de superar a crise - logo, oferecem menos risco. Já os projetos de Eike Batista na área de logística sempre foram bem vistos pelos investidores, mas por começaram a gerar caixa só no longo prazo, despertam menos interesse do mercado no momento atual.
O porto em Peruíbe encontra-se em fase inicial de desenvolvimento e ainda não demandou aportes relevantes de dinheiro. A previsão era de construir um complexo portuário com calado profundo, capacidade para receber 11 navios simultaneamente em uma ilha artificial e um parque industrial. O projeto é questionado pelo Ministério Público porque seria construído em uma área de 19,5 milhões de metros quadrados na área de terra indígena Piaçagüera. Além disso, o Ministério Público acredita que o porto atrairá indústrias poluidoras a uma área próxima ao parque estadual da Juréia. A construção do porto chegou a ser suspensa pela Justiça, mas posteriormente o processo foi encaminhado para o Supremo Tribunal Federal, a quem caberá paralisá-lo ou não.
Para concluir o porto de Açu, a LLX já conta com a aprovação formal do BNDES para uma linha de crédito de 1,321 bilhão de reais, com prazo de 12 anos de pagamento e juros de TJLP mais 2,5%. A taxa é bastante atraente por se referir a um projeto de infra-estrutura, que tem potencial para desenvolver a economia da região. A LLX negocia também com o BNDES o financiamento do porto Sudeste, em condições parecidas às de Açu. O projeto Sudeste ainda aguarda licença ambiental, que, segundo Ricardo Antunes, pode ser obtida já no próximo mês.
Além do crédito do BNDES, o conselho de administração da LLX deve se reunir em breve para definir as condições de uma emissão de novas ações. A operação deve ser concluídas ainda neste ano e envolverá o montante necessário para levar adiante a construção dos portos de Açu e Sudeste - um valor ainda indefinido. Segundo Ricardo Antunes, os dois principais acionistas da LLX - Eike Batista e o OTPP (fundo de pensão dos professores de Ontario) - já se comprometeram a participar do aumento de capital em proporção semelhante aos 76% que controlam da empresa. Caso não haja interesse de outros investidores na operação, Eike e OTPP podem ficar com até 100% das novas ações. "É uma operação com 100% de chance de sucesso. Não dependemos do humor de mercado", afirmou Ricardo Antunes.