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Confraria que dá dinheiro

Cada vez mais os executivos se reúnem para beber juntos e, de quebra, fazer networking

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 12 de outubro de 2010 às 18h22.

Duas vezes por mês, religiosamente, o executivo paulistano Rafael Guaspari, vice-presidente de desenvolvimento da rede Atlântica Hotels, bloqueia sua agenda para dedicar a noite aos vinhos. Nas duas confrarias que organiza, os ingredientes costumam ser sempre os mesmos: rótulos de alta qualidade, pratos harmonizados com as bebidas e conversas agradáveis. Há tempos, porém, Guaspari percebeu que essas reuniões são mais que uma oportunidade de beber e comer bem. Embalados pelos (vários) brindes em delicadas taças de cristal, executivos e empresários descobrem afinidades, estabelecem novos contatos e ampliam sua rede de relacionamentos profissionais. "Quando a gente se torna mais sênior, não é muito fácil aumentar o círculo de amizades", diz Guaspari. "As confrarias de vinho acabam reunindo pessoas com os mesmos interesses, com as quais podemos nos relacionar mais abertamente. A gente bebe, se diverte e ainda faz bons negócios. Não há vida melhor." Para garantir ainda mais afinidade entre os participantes das confrarias, Guaspari resolveu aliar a bebida a outra paixão: o golfe. "Eu já encaminhei muitos executivos das empresas de meus confrades para hospedagem na rede de hotéis em que trabalho", afirma ele. "Mais networking, impossível."

Proprietário do restaurante Vinheria Percussi, o paulistano Lamberto Percussi já viu muitos negócios se concretizarem à sua frente, embalados por bons goles de vinho. Seu estabelecimento, localizado na zona oeste de São Paulo, serve de palco para encontros regulares de pelo menos seis confrarias, a maioria delas reunindo homens de negócios e executivos. "O vinho deixa as pessoas calibradas no bom sentido", diz Percussi. "É uma bebida que relaxa e agrupa, já que ninguém gosta de beber sozinho. De forma natural, acaba embalando conversas sobre tudo, inclusive sobre trabalho. Os negócios e parcerias acabam acontecendo como mágica", diz ele. O vice-presidente de marketing da rede de assistência médica Blue Life, Fernando da Cunha Marques, é testemunha dessa alquimia etílica. "Na minha confraria, tenho me aproximado de pessoas com as quais nunca conviveria regularmente", afirma Marques. "E os negócios e trocas profissionais acontecem espontaneamente."

Algumas confrarias surgem estimuladas pelas próprias empresas. Recentemente, a subsidiária brasileira de um banco estrangeiro decidiu apoiar a criação de uma confraria para as mulheres que trabalham na instituição. "Percebemos que os homens aproveitam muito melhor os encontros dessa natureza", diz uma das idealizadoras do programa (num rompante de puritanismo, as participantes pediram que seus nomes fossem preservados nesta reportagem de modo a não associar a instituição onde trabalham ao consumo de bebidas). "Em torno do vinho, vamos investir na troca de experiências das 1 500 mulheres do grupo no Brasil e, num segundo momento, convidar profissionais de fora para participar de nossos encontros", diz a organizadora do projeto.

Embora as confrarias sejam uma oportunidade fabulosa para fazer networking, os especialistas recomendam alguns cuidados. "É preciso ficar atento para o que eu chamo de networking selvagem, aquele que é feito só por interesse", diz José Augusto Minarelli, presidente da Lens & Minarelli, consultoria de outplacement e aconselhamento de carreira para executivos. "Quando se cria uma verdadeira rede de relacionamentos baseada em interesses comuns, como o vinho, naturalmente as pessoas se protegem e se ajudam. Mas é importante não ser afoito, caso contrário corre-se o risco de 'azedar' esses encontros." A dica para o brinde está dada.

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