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Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h34.
A compra das operações de vida e previdência da franco-alemã AGF pela Itaú Seguros, que pode ser confirmada nos próximos dias, representa mais uma etapa na briga das seguradoras por ganho de escala -- ou, numa palavra, a sobrevivência. Uma vez efetivada a aquisição, a Itaú Seguros deixa para trás a disputa pelo terceiro lugar com a Unibanco AIG e passa a lutar pela vice-liderança com a BrasilPrev, a seguradora do Banco do Brasil em associação com a americana Principal. A liderança isolada do setor pertence à Bradesco Vida e Previdência.
O interesse em galgar posições no ranking se justifica. O mercado de previdência vem crescendo aceleradamente -- o setor faturou 7,5 bilhões de reais no primeiro semestre, ou 70% mais que no mesmo período do ano passado. As margens de ganho, expressas pelas taxas de administração dos planos, no entanto, vêm caindo devido à concorrência. Hoje se cobra perto de 1% ao ano sobre o patrimônio num plano corporativo. A queda da remuneração traz a necessidade de ser cada vez maior para continuar no ringue. O processo de concentração apenas começou , diz um executivo do setor. Vai acontecer o mesmo que houve com as asset managements. As empresas de gestão de recursos independentes estão sendo compradas por aquelas ligadas aos grandes bancos.
A Itaú Seguros tem ativos de 3,95 bilhões de reais. A aquisição da AGF vai acrescentar-lhe 551 milhões de reais, o que a deixará com 4,5 bilhões de reais em carteira -- um salto de 14% numa só tacada. A Itaú deve ter feito as contas de quanto custaria garimpar esse acréscimo cliente por cliente , diz o mesmo executivo. É o que eu faria. Mesmo com a compra, a BrasilPrev ainda permanece no segundo lugar, com ativos de 4,7 bilhões de reais, segundo dados da Associação Nacional da Previdência Privada (Anapp). Acontece que a Itaú tem vendido mais planos que a concorrente. De janeiro a julho, a Itaú faturou 1,096 bilhão de reais com planos de previdência, enquanto a BrasilPrev vendeu 771 milhões de reais. Nesse ritmo, até o final do ano a Itaú tomaria a vice-liderança da BrasilPrev. De longe, o movimento seria acompanhado pela líder Bradesco Vida e Previdência, com ativos de 20,7 bilhões de reais.
O ramo de vida e previdência adquiriu importância principalmente depois da queda da inflação, em 1994. Há poucos anos o patinho feio do setor, a previdência privada acumula hoje ativos de mais de 40 bilhões de reais, segundo dados da Anapp. E, quanto mais se discute a Reforma da Previdência, mais as seguradoras tendem a faturar com o negócio.
O crescimento reflete uma mudança cultural do consumidor de seguros. Até o ano passado, o brasileiro segurava mais coisas -- principalmente automóveis -- que pessoas. Hoje, o seguro de vida vende mais que o de automóveis. De janeiro a junho, as seguradoras faturaram 4,7 bilhões de reais com apólices de vida (27,3% do mercado de seguros). Segundo dados da Fenaseg, a entidade que reúne o setor, o seguro de automóveis proporcionou receita de 4,2 bilhões de reais (24,7% do total). Em terceiro lugar vem o seguro-saúde, com vendas de 3,3 bilhões de reais (18,9% do total).