Como proteger sua carteira de ações sem vendê-las
Estratégias com opções são boas ferramentas para minimizar ou até zerar perdas em momentos como o atual, em que perdas pesadas não parecem improváveis
Da Redação
Publicado em 5 de agosto de 2011 às 08h26.
São Paulo – A quinta-feira negra dos mercados financeiros levou os investidores a um revival da crise de 2008, e já há quem fale em nova recessão. A Bovespa registrou o pior desempenho entre as principais bolsas do mundo, onde apenas duas de suas ações mais negociadas não amargaram perdas.
Mesmo com as perspectivas pessimistas – não há sinais de que a queda livre acabou – analistas e consultores financeiros aconselham os investidores de longo prazo não só a permanecer na Bolsa como também a aproveitar o momento de queda para comprar ações baratas. Vender tudo agora poderia levar o investidor a realizar um prejuízo que não será recuperado lá na frente, quando os mercados se acalmarem.
Uma forma inteligente de minimizar ou até zerar as perdas no valor de suas ações inclui estratégias com opções, uma espécie de “seguro” para a carteira. Mais utilizadas por profissionais, essas estratégias também podem funcionar muito bem para as pessoas físicas. As operações mais simples podem ser feitas até pelo home broker. As mais complexas, que envolvem mais de uma opção ou opções de menor liquidez, só podem ser montadas com o auxílio de um profissional da corretora. “As mais simples são melhores para o investidor pessoa física”, diz Leandro Ruschel, sócio-fundador da Leandro&Stormer.
Seja como for, especialistas aconselham que, antes de operar opções, o investidor estude um pouco o assunto e peça aconselhamento a especialistas. Veja a seguir três exemplos de estratégias que podem ser usadas pelo investidor pessoa física que não deseja sair da Bolsa:
1.Compra de uma opção de venda
Essa é a estratégia mais simples para fazer um “seguro” da carteira, mas ela apenas minimiza as perdas e não chega a zerá-las. Por outro lado, o investidor não correrá risco algum de “perder” suas ações, podendo voltar a se beneficiar quando os papéis se recuperarem.
Opções de venda não têm liquidez no mercado brasileiro atual, mas é possível fazer uma operação semelhante à compra de opções de venda. Para isso, basta vender a ação-objeto e comprar igual quantidade de opções de compra daquela ação, pelo mesmo preço de exercício. O preço que o investidor pagará por essas opções chama-se prêmio, e com elas em mãos, ele terá o direito de recomprar aquelas mesmas ações, pelo mesmo preço em que elas foram vendidas, numa data futura.
Se na data de vencimento o preço das ações tiver caído, como se espera num cenário de perdas consistentes, o investidor pode deixar de exercer sua opção e recomprar aquelas mesmas ações por um preço abaixo do valor em que elas foram vendidas. Se o lucro embolsado pela diferença superar o valor do prêmio pago pelas opções, as perdas terão sido minimizadas.
Suponha que um investidor tenha, em sua carteira, 40.000 reais investidos em uma ação que esteja a 40 reais. Ele pode vender essas 1.000 ações e comprar igual quantidade de opções de compra daquele papel por um preço de exercício de 40 reais. Digamos que o prêmio pago por essas opções seja de 2,50 reais, ou 2.500 reais no total.
Se aquela ação desvalorizar mais do que 6,25%, caindo abaixo de 37,50 reais, esse investidor terá lucro, pois a queda já compensa o valor do prêmio. Num cenário como o atual, aliás, uma desvalorização dessa magnitude não é nada improvável, considerando-se que alguns papéis já caíram mais de 10% em apenas um dia.
Caso o valor da ação chegue, por exemplo, a 30 reais, o investidor deixa de exercer sua opção e recompra os papéis a preço de mercado. Ao investir apenas 30.000 reais nessa operação, ele acaba embolsando 7.500 reais, que é a diferença dos 10.000 reais restantes e os 2.500 reais pagos de prêmio.
Repare que, sem essa operação, suas ações teriam se desvalorizado 25%. Com o valor embolsado pela operação, o resultado final exibe uma queda de apenas 6,25%, o equivalente ao que foi pago pelo prêmio.
Se, no entanto, as ações tiverem valorizado até a data de vencimento, o investidor pode simplesmente exercer sua opção e recomprá-las pelo mesmo preço em que as havia vendido. Nesse caso, ocorre uma perda equivalente ao valor do prêmio. O “sinistro” (a desvalorização) não ocorreu, mas o investidor ficou protegido.
2.Lançamento coberto de opções
Essa estratégia pode neutralizar as perdas do investidor, mas requer mais habilidade, pois existe o risco de ser obrigado a vender as ações. O lançamento coberto nada mais é que vender opções de compra em número igual ao de ações-objeto existentes na carteira. O lançador recebe um prêmio, que o ajuda a minimizar as perdas e até neutralizá-las, se a queda for moderada.
Imagine um investidor que tenha 40.000 reais investidos em 1.000 ações que atualmente custam 40 reais cada. Digamos que ele lance 1.000 opções de compra dessas ações a 41 reais, por um prêmio de 2 reais. Se essa ação cair a até 38 reais, os 2.000 reais embolsados de prêmio compensarão as perdas.
Porém, se a queda superar esse valor, o prêmio terá minimizado a perda, mas não a terá neutralizado. Para situações de queda mais acentuada, o investidor pode utilizar uma estratégia chamada de “roll down” ou “rolar para baixo”. Trata-se de recomprar as opções de compra lançadas e lançar uma nova série, porém com um preço de exercício menor.
A estratégia funciona porque, conforme o prazo de vencimento da opção se aproxima e o preço da ação se afasta do preço de exercício, o valor do prêmio diminui. Portanto, o prêmio pago para a recompra de opções será certamente inferior ao que o investidor recebeu à época do lançamento.
Conforme o exemplo anterior, imagine que as ações caíram a 36 reais e que o prêmio das opções de compra a 41 reais seja agora de apenas 1 real. O investidor recompra essas opções, desembolsando apenas 1.000 reais e guardando os outros 1.000 auferidos no primeiro lançamento. Agora, ele pode lançar uma série de opções de compra da mesma ação por um preço de exercício mais baixo, tipo 38 reais, embolsando novamente o valor do prêmio.
E se o mercado reverter e a ação subir acima do preço de exercício da opção? Nesse caso, o investidor acaba correndo o risco de ter de vender suas ações para o titular das opções, que certamente vão querer exercê-las. Lembre-se de que o titular pode exercer suas opções a qualquer momento até o vencimento. Para que isso não aconteça, é preciso olho vivo na trajetória dos preços.
Após trajetória de queda, pode ser que aquelas mesmas ações assistam a uma recuperação e retornem ao patamar original de 40 reais, isso antes mesmo do vencimento das opções. Nesse caso, é bom o investidor se resguardar contra a possibilidade de ter de vender seus papéis, tornando o exercício das opções desvantajoso para o titular.
Aí cabe outra estratégia de “rolagem”, só que “para cima”, em vez de “para baixo”. O princípio será exatamente o mesmo. Só que aqui, o investidor deverá trocar as opções lançadas por outras de preço de exercício ainda mais alto. Isto é, recomprar as de 41 reais e lançar opções de, por exemplo, 43 reais. Uma boa ideia é também “rolar para frente”, lançando opções não só de preço de exercício maior como de prazo mais longo, para que o valor do prêmio consiga abater o prejuízo da recompra.
3.Estratégias envolvendo mais de uma opção
Por meio da mesa de operações, o investidor pessoa física pode ter acesso a outras estratégias para proteger sua carteira, mais complexas e que certamente requerem ajuda de um profissional. Uma estratégia como essa, porém, tem suas desvantagens.
O economista Hugo Daniel Azevedo, especialista em opções e estrategista para pessoa física da Santander Corretora, alerta para o fato de que algumas delas só funcionam se a desvalorização do papel no prazo de vencimento for de até 20%. “Para perdas acima de 20%, esqueça derivativos”, enfatiza. Além disso, para ser efetivo, esse tipo de estratégia precisa de prazos relativamente longos, de até 6 meses, obrigando o investidor a carregar sua posição até o vencimento da opção.
Embora pelo home broker em geral só seja possível fazer operações com as opções mais líquidas, de PETR4 e VALE5, outros papéis bastante negociados também podem ser protegidos de perdas por meio de opções via mesa de operações. É o caso das ações de empresas como OGX, Itaú Unibanco, Bradesco, Usiminas e Gerdau.
Dependendo da composição da carteira, pode não ser possível proteger todas as ações, mas já há alguma liquidez para opções de um bom número de ações. “Na Santander Corretora nós montamos estratégias com 40 papéis diferentes”, diz Hugo Azevedo.
São Paulo – A quinta-feira negra dos mercados financeiros levou os investidores a um revival da crise de 2008, e já há quem fale em nova recessão. A Bovespa registrou o pior desempenho entre as principais bolsas do mundo, onde apenas duas de suas ações mais negociadas não amargaram perdas.
Mesmo com as perspectivas pessimistas – não há sinais de que a queda livre acabou – analistas e consultores financeiros aconselham os investidores de longo prazo não só a permanecer na Bolsa como também a aproveitar o momento de queda para comprar ações baratas. Vender tudo agora poderia levar o investidor a realizar um prejuízo que não será recuperado lá na frente, quando os mercados se acalmarem.
Uma forma inteligente de minimizar ou até zerar as perdas no valor de suas ações inclui estratégias com opções, uma espécie de “seguro” para a carteira. Mais utilizadas por profissionais, essas estratégias também podem funcionar muito bem para as pessoas físicas. As operações mais simples podem ser feitas até pelo home broker. As mais complexas, que envolvem mais de uma opção ou opções de menor liquidez, só podem ser montadas com o auxílio de um profissional da corretora. “As mais simples são melhores para o investidor pessoa física”, diz Leandro Ruschel, sócio-fundador da Leandro&Stormer.
Seja como for, especialistas aconselham que, antes de operar opções, o investidor estude um pouco o assunto e peça aconselhamento a especialistas. Veja a seguir três exemplos de estratégias que podem ser usadas pelo investidor pessoa física que não deseja sair da Bolsa:
1.Compra de uma opção de venda
Essa é a estratégia mais simples para fazer um “seguro” da carteira, mas ela apenas minimiza as perdas e não chega a zerá-las. Por outro lado, o investidor não correrá risco algum de “perder” suas ações, podendo voltar a se beneficiar quando os papéis se recuperarem.
Opções de venda não têm liquidez no mercado brasileiro atual, mas é possível fazer uma operação semelhante à compra de opções de venda. Para isso, basta vender a ação-objeto e comprar igual quantidade de opções de compra daquela ação, pelo mesmo preço de exercício. O preço que o investidor pagará por essas opções chama-se prêmio, e com elas em mãos, ele terá o direito de recomprar aquelas mesmas ações, pelo mesmo preço em que elas foram vendidas, numa data futura.
Se na data de vencimento o preço das ações tiver caído, como se espera num cenário de perdas consistentes, o investidor pode deixar de exercer sua opção e recomprar aquelas mesmas ações por um preço abaixo do valor em que elas foram vendidas. Se o lucro embolsado pela diferença superar o valor do prêmio pago pelas opções, as perdas terão sido minimizadas.
Suponha que um investidor tenha, em sua carteira, 40.000 reais investidos em uma ação que esteja a 40 reais. Ele pode vender essas 1.000 ações e comprar igual quantidade de opções de compra daquele papel por um preço de exercício de 40 reais. Digamos que o prêmio pago por essas opções seja de 2,50 reais, ou 2.500 reais no total.
Se aquela ação desvalorizar mais do que 6,25%, caindo abaixo de 37,50 reais, esse investidor terá lucro, pois a queda já compensa o valor do prêmio. Num cenário como o atual, aliás, uma desvalorização dessa magnitude não é nada improvável, considerando-se que alguns papéis já caíram mais de 10% em apenas um dia.
Caso o valor da ação chegue, por exemplo, a 30 reais, o investidor deixa de exercer sua opção e recompra os papéis a preço de mercado. Ao investir apenas 30.000 reais nessa operação, ele acaba embolsando 7.500 reais, que é a diferença dos 10.000 reais restantes e os 2.500 reais pagos de prêmio.
Repare que, sem essa operação, suas ações teriam se desvalorizado 25%. Com o valor embolsado pela operação, o resultado final exibe uma queda de apenas 6,25%, o equivalente ao que foi pago pelo prêmio.
Se, no entanto, as ações tiverem valorizado até a data de vencimento, o investidor pode simplesmente exercer sua opção e recomprá-las pelo mesmo preço em que as havia vendido. Nesse caso, ocorre uma perda equivalente ao valor do prêmio. O “sinistro” (a desvalorização) não ocorreu, mas o investidor ficou protegido.
2.Lançamento coberto de opções
Essa estratégia pode neutralizar as perdas do investidor, mas requer mais habilidade, pois existe o risco de ser obrigado a vender as ações. O lançamento coberto nada mais é que vender opções de compra em número igual ao de ações-objeto existentes na carteira. O lançador recebe um prêmio, que o ajuda a minimizar as perdas e até neutralizá-las, se a queda for moderada.
Imagine um investidor que tenha 40.000 reais investidos em 1.000 ações que atualmente custam 40 reais cada. Digamos que ele lance 1.000 opções de compra dessas ações a 41 reais, por um prêmio de 2 reais. Se essa ação cair a até 38 reais, os 2.000 reais embolsados de prêmio compensarão as perdas.
Porém, se a queda superar esse valor, o prêmio terá minimizado a perda, mas não a terá neutralizado. Para situações de queda mais acentuada, o investidor pode utilizar uma estratégia chamada de “roll down” ou “rolar para baixo”. Trata-se de recomprar as opções de compra lançadas e lançar uma nova série, porém com um preço de exercício menor.
A estratégia funciona porque, conforme o prazo de vencimento da opção se aproxima e o preço da ação se afasta do preço de exercício, o valor do prêmio diminui. Portanto, o prêmio pago para a recompra de opções será certamente inferior ao que o investidor recebeu à época do lançamento.
Conforme o exemplo anterior, imagine que as ações caíram a 36 reais e que o prêmio das opções de compra a 41 reais seja agora de apenas 1 real. O investidor recompra essas opções, desembolsando apenas 1.000 reais e guardando os outros 1.000 auferidos no primeiro lançamento. Agora, ele pode lançar uma série de opções de compra da mesma ação por um preço de exercício mais baixo, tipo 38 reais, embolsando novamente o valor do prêmio.
E se o mercado reverter e a ação subir acima do preço de exercício da opção? Nesse caso, o investidor acaba correndo o risco de ter de vender suas ações para o titular das opções, que certamente vão querer exercê-las. Lembre-se de que o titular pode exercer suas opções a qualquer momento até o vencimento. Para que isso não aconteça, é preciso olho vivo na trajetória dos preços.
Após trajetória de queda, pode ser que aquelas mesmas ações assistam a uma recuperação e retornem ao patamar original de 40 reais, isso antes mesmo do vencimento das opções. Nesse caso, é bom o investidor se resguardar contra a possibilidade de ter de vender seus papéis, tornando o exercício das opções desvantajoso para o titular.
Aí cabe outra estratégia de “rolagem”, só que “para cima”, em vez de “para baixo”. O princípio será exatamente o mesmo. Só que aqui, o investidor deverá trocar as opções lançadas por outras de preço de exercício ainda mais alto. Isto é, recomprar as de 41 reais e lançar opções de, por exemplo, 43 reais. Uma boa ideia é também “rolar para frente”, lançando opções não só de preço de exercício maior como de prazo mais longo, para que o valor do prêmio consiga abater o prejuízo da recompra.
3.Estratégias envolvendo mais de uma opção
Por meio da mesa de operações, o investidor pessoa física pode ter acesso a outras estratégias para proteger sua carteira, mais complexas e que certamente requerem ajuda de um profissional. Uma estratégia como essa, porém, tem suas desvantagens.
O economista Hugo Daniel Azevedo, especialista em opções e estrategista para pessoa física da Santander Corretora, alerta para o fato de que algumas delas só funcionam se a desvalorização do papel no prazo de vencimento for de até 20%. “Para perdas acima de 20%, esqueça derivativos”, enfatiza. Além disso, para ser efetivo, esse tipo de estratégia precisa de prazos relativamente longos, de até 6 meses, obrigando o investidor a carregar sua posição até o vencimento da opção.
Embora pelo home broker em geral só seja possível fazer operações com as opções mais líquidas, de PETR4 e VALE5, outros papéis bastante negociados também podem ser protegidos de perdas por meio de opções via mesa de operações. É o caso das ações de empresas como OGX, Itaú Unibanco, Bradesco, Usiminas e Gerdau.
Dependendo da composição da carteira, pode não ser possível proteger todas as ações, mas já há alguma liquidez para opções de um bom número de ações. “Na Santander Corretora nós montamos estratégias com 40 papéis diferentes”, diz Hugo Azevedo.