Como a alta do dólar mexe com os planos do turista e do investidor
Moeda fechou a segunda a 1,77 real, maior patamar desde o começo do ano
Da Redação
Publicado em 20 de setembro de 2011 às 07h00.
São Paulo - Há não mais que quatro dias, o mercado esperava que o dólar terminasse o ano a 1,65 real. Pelo menos era o que apontava o último boletim Focus, elaborado semanalmente pelo Banco Central. Mas muita gente interpretou o pico de quase 1,80 da moeda nesta segunda como mais um sinal de um movimento contrário - que pode ter vindo para ficar.
"Acabou a tendência de apreciação do real mostrada nos últimos meses", sustenta Ulisses Nehmi, sócio da gestora de fundos Sparta. "Desde julho o governo vem batendo forte nesta linha de defender um nível de cotação. Com a queda da Selic no fim de agosto, já imaginávamos que o dólar subiria para 1,75 real, encontrado uma acomodação em torno daí."
O corte na taxa básica afugenta os investidores estrangeiros - e consequentemente o fluxo de dólares - por diminuir a atratividade dos juros reais brasileiros, os maiores do mundo. Com menos dinheiro dando sopa na praça, a cotação tende a subir. "Grande parte dos recursos que fizeram o o dólar chegar a 1,55 no fim de julho vieram de apostas de curto prazo", afirma Fernando Góes, analista da Rico.
Para ele, a subida da moeda também tem a ver com a deterioração no cenário internacional, com o impasse fiscal na Grécia ainda em suspenso. "A resistência para a moeda, que até pouco tempo era de 1,70, 1,73 real, se transformou em suporte", afirma o analista. "E se um afrouxamento monetário nos EUA injetar liquidez no mundo, não deveremos mais ver patamares abaixo de 1,65 real."
Investidores e turistas
Para quem investe em ações, a consequência mais prática de um movimento de subida do dólar é a perspectiva de valorização das ações ligadas a commodities. "De papel e celulose passando por Petrobras e siderurgia, todos os papéis tendem a se benefeciar", afirma Góes, analista do Rico. Puxado em peso por estes setores, o Ibovespa ganharia impulso para andar no mesmo compasso das suas ações mais representativas.
Em relatório, os analistas do Deutsche Bank afirmaram que a disparidade no preço dos imóveis no Brasil foi em grande parte sustentada pela valorização do real nos últimos tempos. Com o enfraquecimento da moeda, as chances de ganho pulam do setor imobiliário para o de matérias-primas, incluindo ações de empresas como Vale, Fibria, CSN, Usiminas, Suzano, Cosano, AdecoAgro, SLC Agrícola e BrasilAgro. A fabricante de aviões Embraer também entra na lista do banco de investimentos.
Segundo Ítalo Abucater, gerente da mesa de dólar da Icap, o aumento da aversão ao risco, da Selic e do IOF para operações com derivativos definitivamente mudaram o cenário para o dólar. "A defasagem do câmbio era real e perceptível: a moeda sofreu essa correção agora, mas não acreditamos que ela esteja apreciada. A valorização é que foi rápida", emenda. Para ele, a taxa de 1,75 deve ser o piso para uma moeda que pode sim bater em 1,90 real daqui para frente.
Por isso, quem está está de malas prontas para o exterior deve começar a comprar dólares desde agora para formar um preço médio para a moeda, de forma que os momentos de baixa atenuem o prejuízo sofrido com possíveis altas da moeda norte-americana. Vale lembrar que os que adquirem a moeda em espécie arcam com a cotação do dólar turismo, em média 5% mais salgada que a do dólar comercial. A diferença se deve às taxas de custódia e aos gastos com segurança bancados pelas corretoras.
Ainda que tenha que lidar com o risco de perder todo o montante no caso de um assalto, por exemplo, o turista paga uma alíquota de apenas 0,38% de IOF. Justamente por isso, a opção é interessante para portar pequenos valores. Por sua vez, os cartões pré-pagos também oferecem condições semelhantes às do papel moeda: IOF de 0,38% e cotação do dólar turismo. Emitidos pela Mastercard, Visa ou American Express, eles não cobram anuidade, representando uma boa alternativa para quem deseja travar o câmbio na data da conversão mas tem medo de perder o dinheiro físico. Em caso de extravio, o titular recebe outro plástico com o mesmo saldo de antes.
Depois de recarregados nos bancos conveniados, os pré-pagos permitem a utilização no modo débito e o saque em caixas automáticos. O custo é, em média, de 2,50 dólares para cada retirada. São, portanto, a alternativa mais indicada para quem não deseja flutuar ao sabor das cotações.
Se por um lado os tradicionais cartões de crédito utilizam o patamar do dólar comercial (em geral 5% mais econômico) por outro, eles pagam a maior carga tributária para compras no exterior: 6,38%. Além disso, eles também ficam sujeitos às oscilações do câmbio, que é fechado apenas no dia de processamento da fatura. Se a subida do dólar não perder fôlego, é possível encarar uma boa surpresa quando a conta chegar em casa, pagando mais que o esperado pelas compras internacionais.
São Paulo - Há não mais que quatro dias, o mercado esperava que o dólar terminasse o ano a 1,65 real. Pelo menos era o que apontava o último boletim Focus, elaborado semanalmente pelo Banco Central. Mas muita gente interpretou o pico de quase 1,80 da moeda nesta segunda como mais um sinal de um movimento contrário - que pode ter vindo para ficar.
"Acabou a tendência de apreciação do real mostrada nos últimos meses", sustenta Ulisses Nehmi, sócio da gestora de fundos Sparta. "Desde julho o governo vem batendo forte nesta linha de defender um nível de cotação. Com a queda da Selic no fim de agosto, já imaginávamos que o dólar subiria para 1,75 real, encontrado uma acomodação em torno daí."
O corte na taxa básica afugenta os investidores estrangeiros - e consequentemente o fluxo de dólares - por diminuir a atratividade dos juros reais brasileiros, os maiores do mundo. Com menos dinheiro dando sopa na praça, a cotação tende a subir. "Grande parte dos recursos que fizeram o o dólar chegar a 1,55 no fim de julho vieram de apostas de curto prazo", afirma Fernando Góes, analista da Rico.
Para ele, a subida da moeda também tem a ver com a deterioração no cenário internacional, com o impasse fiscal na Grécia ainda em suspenso. "A resistência para a moeda, que até pouco tempo era de 1,70, 1,73 real, se transformou em suporte", afirma o analista. "E se um afrouxamento monetário nos EUA injetar liquidez no mundo, não deveremos mais ver patamares abaixo de 1,65 real."
Investidores e turistas
Para quem investe em ações, a consequência mais prática de um movimento de subida do dólar é a perspectiva de valorização das ações ligadas a commodities. "De papel e celulose passando por Petrobras e siderurgia, todos os papéis tendem a se benefeciar", afirma Góes, analista do Rico. Puxado em peso por estes setores, o Ibovespa ganharia impulso para andar no mesmo compasso das suas ações mais representativas.
Em relatório, os analistas do Deutsche Bank afirmaram que a disparidade no preço dos imóveis no Brasil foi em grande parte sustentada pela valorização do real nos últimos tempos. Com o enfraquecimento da moeda, as chances de ganho pulam do setor imobiliário para o de matérias-primas, incluindo ações de empresas como Vale, Fibria, CSN, Usiminas, Suzano, Cosano, AdecoAgro, SLC Agrícola e BrasilAgro. A fabricante de aviões Embraer também entra na lista do banco de investimentos.
Segundo Ítalo Abucater, gerente da mesa de dólar da Icap, o aumento da aversão ao risco, da Selic e do IOF para operações com derivativos definitivamente mudaram o cenário para o dólar. "A defasagem do câmbio era real e perceptível: a moeda sofreu essa correção agora, mas não acreditamos que ela esteja apreciada. A valorização é que foi rápida", emenda. Para ele, a taxa de 1,75 deve ser o piso para uma moeda que pode sim bater em 1,90 real daqui para frente.
Por isso, quem está está de malas prontas para o exterior deve começar a comprar dólares desde agora para formar um preço médio para a moeda, de forma que os momentos de baixa atenuem o prejuízo sofrido com possíveis altas da moeda norte-americana. Vale lembrar que os que adquirem a moeda em espécie arcam com a cotação do dólar turismo, em média 5% mais salgada que a do dólar comercial. A diferença se deve às taxas de custódia e aos gastos com segurança bancados pelas corretoras.
Ainda que tenha que lidar com o risco de perder todo o montante no caso de um assalto, por exemplo, o turista paga uma alíquota de apenas 0,38% de IOF. Justamente por isso, a opção é interessante para portar pequenos valores. Por sua vez, os cartões pré-pagos também oferecem condições semelhantes às do papel moeda: IOF de 0,38% e cotação do dólar turismo. Emitidos pela Mastercard, Visa ou American Express, eles não cobram anuidade, representando uma boa alternativa para quem deseja travar o câmbio na data da conversão mas tem medo de perder o dinheiro físico. Em caso de extravio, o titular recebe outro plástico com o mesmo saldo de antes.
Depois de recarregados nos bancos conveniados, os pré-pagos permitem a utilização no modo débito e o saque em caixas automáticos. O custo é, em média, de 2,50 dólares para cada retirada. São, portanto, a alternativa mais indicada para quem não deseja flutuar ao sabor das cotações.
Se por um lado os tradicionais cartões de crédito utilizam o patamar do dólar comercial (em geral 5% mais econômico) por outro, eles pagam a maior carga tributária para compras no exterior: 6,38%. Além disso, eles também ficam sujeitos às oscilações do câmbio, que é fechado apenas no dia de processamento da fatura. Se a subida do dólar não perder fôlego, é possível encarar uma boa surpresa quando a conta chegar em casa, pagando mais que o esperado pelas compras internacionais.