Como lucrar com a alta da inflação
Inflação em alta e juros básicos em perspectiva de queda: saiba quais aplicações financeiras ganham com a escalada de preços
Da Redação
Publicado em 13 de setembro de 2011 às 09h31.
São Paulo – Apesar do Banco Central sustentar que a inflação deve dar uma trégua daqui para frente, o mercado continua cético quanto à evolução dos preços: a expectativa é que o IPCA termine o ano em 6,45%, praticamente empatado com o retorno da poupança. Mas se no começo do ano a subida nos juros era apontada em uníssono como provável remédio para a escalada da inflação, as expectativas mudaram da água para o vinho depois que o BC reduziu a Selic em meio por cento na última reunião do Copom. Com a economia mundial caminhando a passos trôpegos, é hora do investidor voltar os olhos para sua estratégia de investimento para avaliar como a inflação e novos cortes na taxa básica podem minar sua rentabilidade.
Na avaliação do professor do Ibmec Márcio Salvato, os preços continuarão altos até o fim do ano. "Em um cenário em que a capacidade ociosa é baixa, com mercado de trabalho aquecido, uma redução nos juros acaba favorecendo a demanda", afirma. "Você barateia o consumo à vista e a prazo, aumentando a pressão sobre o consumo."
O desafio é obter um ganho real com as aplicações financeiras. Nos últimos 12 meses, por exemplo, quem ganhou 100% do CDI levou para casa um retorno de 11,37%. O CDI é um retrato dos juros diários cobrados pelos bancos para fazerem transações entre si, balizando o rendimento dos CDBs e acompanhando de perto o desempenho da Selic. Mas quando considerada a inflação medida no mesmo período pelo IPCA, o lucro da aplicação cai para nada menos que 4,1%.
No embate entre poupança e inflação, quem apostou na tradicional caderneta saboreou um resultado muito mais amargo. Enquanto a caderneta remunerou o investidor em 6,66%, a inflação acumulada chegou a 7,23%. Na prática, o dinheiro deixou de valer o mesmo tanto e a poupança sequer repôs esta diferença.
Apesar do mercado ter levantado dúvidas sobre a ação do BC diante de um cenário tão nebuloso para os preços no Brasil, o governo já sinalizou que deve promover novos cortes na taxa básica de juros daqui para frente. Na renda fixa, a consequência mais óbvia é a perda de atratividade dos investimentos ligados à Selic. É o caso dos fundos DI e das Letras Financeiras do Tesouro (LFTs).
"Por outro lado você tem um claro risco inflacionário, o que não deve levar a quedas tão expressivas na taxa básica de juros", afirma Salvato, do Ibmec. Por essa ótica, investir em títulos indexados a um índice de preços não deixa de ser uma boa saída - o investidor garante o recebimento de uma taxa fixa, além da evolução do IPCA.
Se a bolsa costuma se beneficiar da redução da Selic, já que os investidores perdem o generoso retorno garantido pelos papéis do governo e aceitam correr riscos em busca de alternativas mais rentáveis, o desenrolar dos problemas econômicos lá fora e no Brasil ainda são muito turvos para determinar uma volta imediata à renda variável. “Se a inflação continuar subindo, não tem como a queda dos juros sustentar uma boa performance para os papéis na bolsa”, diz Carlos Alberto Widonsck, professor da Fundação Vanzolini. “Preços mais altos podem acabar afetando o balanço das empresas e ainda não dá para prever se o provável aumento do crédito com a diminuição dos juros compensaria este movimento.”
Confira abaixo como se proteger da inflação em um cenário de provável redução da Selic:
Empresas que reajustam tarifas
Concessionárias de serviços públicos têm liberdade para reajustar anualmente as tarifas cobradas ao consumidor. É o que acontece com empresas de energia elétrica, saneamento, telefonia e administração de rodovias. Como são voltadas ao mercado interno e sofrem menos com os solavancos do mercado externo, os papéis destas companhias costumam se beneficiar da subida da inflação, sendo também menos afetados pela aversão ao risco. Mas ainda que as tarifas sejam reajustadas, a possibilidade não é imediatamente refletida no cotação dos papéis na bolsa. No começo do ano, o dragão já era apontado como um dos grandes responsáveis pelo pífio desempenho das ações brasileiras. De lá para cá, contudo, o Índice de Utilidade Pública, composto pelos papéis mais representativos do setor, subiu apenas 2%, contra uma evolução de 4,2% da inflação medida pelo IPCA e 3,4% do IGP-M.
Títulos do governo
Quem compra títulos indexados ao IPCA se protege imediatamente da subida de preços calculada pelo índice. Hoje, o papel com vencimento mais estendido paga 5,61% ao ano acrescido da variação do IPCA para quem carregá-lo até 2045. Isso significa que o investidor garantirá uma rentabilidade fixa, independente da escalada - ou arrefecimento - dos preços. Para consultores financeiros, a aposta embute um certo risco porque o horizonte é longo e ninguém sabe ao certo o que de fato deve acontecer com a economia. Quem procura prazos mais curtos pode optar pelos títulos que vencem em 2015. Neste caso, o retorno prefixado cai para 4,97%. Os papéis podem ser comprados pelo site do Tesouro Direto, sendo que o investidor necessariamente tem que abrir conta em alguma corretora para iniciar suas operações.
São Paulo – Apesar do Banco Central sustentar que a inflação deve dar uma trégua daqui para frente, o mercado continua cético quanto à evolução dos preços: a expectativa é que o IPCA termine o ano em 6,45%, praticamente empatado com o retorno da poupança. Mas se no começo do ano a subida nos juros era apontada em uníssono como provável remédio para a escalada da inflação, as expectativas mudaram da água para o vinho depois que o BC reduziu a Selic em meio por cento na última reunião do Copom. Com a economia mundial caminhando a passos trôpegos, é hora do investidor voltar os olhos para sua estratégia de investimento para avaliar como a inflação e novos cortes na taxa básica podem minar sua rentabilidade.
Na avaliação do professor do Ibmec Márcio Salvato, os preços continuarão altos até o fim do ano. "Em um cenário em que a capacidade ociosa é baixa, com mercado de trabalho aquecido, uma redução nos juros acaba favorecendo a demanda", afirma. "Você barateia o consumo à vista e a prazo, aumentando a pressão sobre o consumo."
O desafio é obter um ganho real com as aplicações financeiras. Nos últimos 12 meses, por exemplo, quem ganhou 100% do CDI levou para casa um retorno de 11,37%. O CDI é um retrato dos juros diários cobrados pelos bancos para fazerem transações entre si, balizando o rendimento dos CDBs e acompanhando de perto o desempenho da Selic. Mas quando considerada a inflação medida no mesmo período pelo IPCA, o lucro da aplicação cai para nada menos que 4,1%.
No embate entre poupança e inflação, quem apostou na tradicional caderneta saboreou um resultado muito mais amargo. Enquanto a caderneta remunerou o investidor em 6,66%, a inflação acumulada chegou a 7,23%. Na prática, o dinheiro deixou de valer o mesmo tanto e a poupança sequer repôs esta diferença.
Apesar do mercado ter levantado dúvidas sobre a ação do BC diante de um cenário tão nebuloso para os preços no Brasil, o governo já sinalizou que deve promover novos cortes na taxa básica de juros daqui para frente. Na renda fixa, a consequência mais óbvia é a perda de atratividade dos investimentos ligados à Selic. É o caso dos fundos DI e das Letras Financeiras do Tesouro (LFTs).
"Por outro lado você tem um claro risco inflacionário, o que não deve levar a quedas tão expressivas na taxa básica de juros", afirma Salvato, do Ibmec. Por essa ótica, investir em títulos indexados a um índice de preços não deixa de ser uma boa saída - o investidor garante o recebimento de uma taxa fixa, além da evolução do IPCA.
Se a bolsa costuma se beneficiar da redução da Selic, já que os investidores perdem o generoso retorno garantido pelos papéis do governo e aceitam correr riscos em busca de alternativas mais rentáveis, o desenrolar dos problemas econômicos lá fora e no Brasil ainda são muito turvos para determinar uma volta imediata à renda variável. “Se a inflação continuar subindo, não tem como a queda dos juros sustentar uma boa performance para os papéis na bolsa”, diz Carlos Alberto Widonsck, professor da Fundação Vanzolini. “Preços mais altos podem acabar afetando o balanço das empresas e ainda não dá para prever se o provável aumento do crédito com a diminuição dos juros compensaria este movimento.”
Confira abaixo como se proteger da inflação em um cenário de provável redução da Selic:
Empresas que reajustam tarifas
Concessionárias de serviços públicos têm liberdade para reajustar anualmente as tarifas cobradas ao consumidor. É o que acontece com empresas de energia elétrica, saneamento, telefonia e administração de rodovias. Como são voltadas ao mercado interno e sofrem menos com os solavancos do mercado externo, os papéis destas companhias costumam se beneficiar da subida da inflação, sendo também menos afetados pela aversão ao risco. Mas ainda que as tarifas sejam reajustadas, a possibilidade não é imediatamente refletida no cotação dos papéis na bolsa. No começo do ano, o dragão já era apontado como um dos grandes responsáveis pelo pífio desempenho das ações brasileiras. De lá para cá, contudo, o Índice de Utilidade Pública, composto pelos papéis mais representativos do setor, subiu apenas 2%, contra uma evolução de 4,2% da inflação medida pelo IPCA e 3,4% do IGP-M.
Títulos do governo
Quem compra títulos indexados ao IPCA se protege imediatamente da subida de preços calculada pelo índice. Hoje, o papel com vencimento mais estendido paga 5,61% ao ano acrescido da variação do IPCA para quem carregá-lo até 2045. Isso significa que o investidor garantirá uma rentabilidade fixa, independente da escalada - ou arrefecimento - dos preços. Para consultores financeiros, a aposta embute um certo risco porque o horizonte é longo e ninguém sabe ao certo o que de fato deve acontecer com a economia. Quem procura prazos mais curtos pode optar pelos títulos que vencem em 2015. Neste caso, o retorno prefixado cai para 4,97%. Os papéis podem ser comprados pelo site do Tesouro Direto, sendo que o investidor necessariamente tem que abrir conta em alguma corretora para iniciar suas operações.
Fundos imobiliários e aluguéis
Donos de imóveis não deixam de ganhar com a subida da inflação, já que a maioria absoluta dos aluguéis é reajustada pelo IGP-M no aniversário do contrato. O ganho real, portanto, permanece garantido. Mas se comprar uma casa ou apartamento demanda um aporte generoso, aplicações iniciais de 1.000 reais já garantem possibilidades lucro com o aluguel de empreendimentos pouco acessíveis aos pequenos investidores, como galpões e escritórios comerciais. É o que acontece com quem aplica em fundos imobiliários. Com imóveis ou papéis imobiliários entre seus ativos, os fundos fecham contratos de longo prazo que também são reajustados pelo IGP-M. A renda é isenta de imposto de renda. Por sua vez, proprietários de imóveis pagam IR de até 27,5% sobre o rendimento mensal obtido com o aluguel.