Minhas Finanças

Como investir nas empresas mais rentáveis da bolsa

Lista mostra companhias abertas que combinam forte geração de caixa, baixa necessidade de investimentos e farta distribuição de dividendos

Carlos Firetti, do Bradesco BBI: preferência por Cielo, Redecard e CSN na lista das mais rentáveis (Divulgação)

Carlos Firetti, do Bradesco BBI: preferência por Cielo, Redecard e CSN na lista das mais rentáveis (Divulgação)

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Da Redação

Publicado em 24 de maio de 2011 às 08h52.

São Paulo – No Brasil, a taxa considerada livre de risco é a dos títulos públicos emitidos pelo governo federal, que, em sua maioria, remuneram o investidor de acordo com a Selic, atualmente em 12% ao ano. Não é de se espantar, portanto, que o sócio da Setter Investimentos, Felipe Camargo, considere um "excelente negócio" qualquer empresa que gere uma rentabilidade anual superior a 20%. Como a Setter Investimentos é especializada em dar assessoria financeira e de gestão a pequenas e médias empresas, Camargo não procura na bolsa companhias que passem nesse filtro. Mas os investidores que examinarem com lupa o universo de ações negociadas na BM&FBovespa encontrarão dezenas de oportunidades.

A pedido de EXAME.com, a consultoria Austin Rating avaliou a rentabilidade de todas as empresas abertas do país. Considerando apenas os 100 papéis mais líquidos da Bovespa (aqueles incluídos no índice IBr-X), as 10 mais rentáveis são:

Empresa Rentabilidade em 2010
Cielo 153,3%
Redecard 100,0%
Souza Cruz 69,2%
Natura 59,2%
Lojas Americanas 56,2%
Hering 40,1%
AES Tietê 37,20%
Eletropaulo 36,1%
Ecorodovias 33,2%
CSN 32,2%

A medida de rentabilidade considerada pela Austin Rating é conhecida no mercado como ROE (return on equity). O percentual apresentado é obtido através da divisão do lucro líquido de uma companhia pelo seu patrimônio líquido. Utilizando uma linguagem mais didática, o múltiplo mostra a relação entre o dinheiro que a empresa consegue gerar e o total de recursos aplicados pelos sócios no negócio mais os dividendos que não foram distribuídos.

Ao avaliar as empresas incluídas no ranking da Austin Rating, o analista-chefe do banco Bradesco BBI, Carlos Firetti, afirmou que elas têm apresentado consistentemente três características em comum: são fortes geradoras de caixa, não precisam realizar fortes investimentos neste momento e distribuem dividendos fartos aos acionistas. Entretanto, ele afirma que, no caso de empresas com ações em bolsa, é necessário fazer uma análise um pouco mais complexa antes de tomar uma decisão de investimento.

É óbvio que, na média, é melhor investir numa empresa com alta rentabilidade do que em outra que apresente retornos baixos ou negativos. O problema, explica Firetti, é que, na bolsa, ganha mais dinheiro não quem só investe nas empresas mais rentáveis da atualidade, mas quem consegue identificar primeiro as companhias que terão crescimento de lucro no futuro e que estão sendo negociadas por valores abaixo do valor justo dado esse potencial de expansão.

Nos próximos parágrafos, Firetti e o analista do setor de consumo do Banco Fator, Renato Prado, analisam o potencial das 10 empresas mais rentáveis da bolsa:

Cielo e Redecard

As duas empresas do setor de cartões aparecem no topo do ranking da Austin Rating com as empresas mais rentáveis da bolsa. Ao contrário de outras instituições do setor financeiro, Cielo e Redecard precisam de pouco capital para operar porque não são obrigadas a obedecer as mesmas exigências de capital mínimo impostas pelo Banco Central aos bancos. Trata-se, portanto, de duas empresas com patrimônio líquido bastante baixo quando comparado ao valor de mercado.


Ao mesmo tempo, Cielo e Redecard são fortes geradoras de caixa. Responsáveis por capturar e processar cerca de 80% das transações com cartões no Brasil, as duas empresas cobram em média pouco mais de 1% do valor da transação cada vez que alguém faz um pagamento através de meios eletrônicos.

São essas taxas que permitem à Redecard e à Cielo obter lucros de bilhões de reais a cada ano. Como os maiores bancos do país são os controladores das duas empresas e não interessa a eles reter esses lucros, o excesso de capital costuma ser dividido entre os acionistas na forma de pagamentos de gordos dividendos.

Apesar de as ações das duas empresas terem registrado pesadas perdas nos últimos 12 meses, a expectativa de Firetti é positiva. Ele tem recomendado o investimento nas ações das duas adquirentes pelos preços atuais. O analista-chefe do Bradesco BBI admite que os lucros de ambas possam até cair neste ano devido ao aumento da concorrência no segmento de cartões.

Até meados de 2010, a Cielo detinha o direito exclusivo de capturar as transações com cartões Visa. Já a Redecard era a única empresa a processar transações com Mastercard. Com o fim dessa vantagem competitiva, ambas as empresas passaram a disputar o direito de oferecer o serviço de adquirência de Visa e Mastercard aos lojistas – o que reduziu as margens de lucro por transação das duas.

À medida que a subsidiária de cartões do Santander também ganhe porte e comece a concorrer de forma mais acirrada com Redecard e Cielo, a tendência é que o mercado fique ainda mais competitivo. Firetti, no entanto, acredita que as duas serão capazes de manter a posição de liderança e compensar a redução da margem de lucro com o aumento no volume de transações realizadas com cartão em detrimento de dinheiro e cheques. "Mesmo que o lucro caia neste ano, achamos que ele voltará a crescer", diz.

Souza Cruz, Natura, Lojas Americanas e Hering

O fato de fazerem parte do setor de consumo não é a única coisa em comum entre Souza Cruz, Natura, Lojas Americanas e Hering. As quatro empresas também são unidas pelo fato de não terem necessidade de realizar grandes investimentos neste momento devido a peculiaridades de seus modelos de negócio.


A Souza Cruz e a Natura são consideradas bastante defensivas pelos analistas por terem feitos os investimentos necessários para a atividade há vários anos e por hoje gerarem um caixa que pode ser distribuído com agressividade aos acionistas na forma de dividendos.

Já a Hering e as Lojas Americanas possuem dezenas de pontos de venda espalhados pelo país e continuam atrás de oportunidades de expansão. Esse crescimento, no entanto, depende pouco do capital injetado no negócio pelos próprios sócios. A Hering tem crescido ao redor do Brasil principalmente com lojas franqueadas.

Para Renato Prado, da Fator, tanto Hering quanto Natura e Souza Cruz possuem marcas sólidas e conseguem repassar aumentos de preços aos consumidores, garantindo uma rentabilidade acima da média do setor de consumo. Vale lembrar, no entanto, que a maior parte dessas vantagens competitivas já estão precificadas nas ações das companhias.

Prado também considera a Lojas Americanas uma exceção na lista das mais rentáveis. Ele afirma que a margem Ebitda da empresa não é nenhuma maravilha quando comparada à de outras empresas do setor de consumo e que ela só entrou no ranking da Austin Rating porque seu patrimônio líquido é bastante baixo.

CSN

A ação da CSN é vista com bons olhos por Carlos Firetti, do Bradesco BBI. Como qualquer siderúrgica, a CSN precisa investir muito dinheiro sempre que decide levar adiante um projeto de expansão. A maior parte dos investimentos em siderurgia, entretanto, já foram realizados pela companhia.

Ao mesmo tempo, a CSN possui ativos de minério de ferro que têm se beneficiado do momento de preços elevados no mercado mundial. O modelo verticalizado também garante à CSN custos baixos de produção, alta competitividade e margens de lucro elevadas quando comparadas ao de seus principais concorrentes.

Ecorodovias, AES Tietê e Eletropaulo

As três concessionárias realizaram investimentos elevados logo que venceram as licitações que lhe deram o direito de administrar e cobrar tarifas sobre os serviços públicos que oferecem à população. Hoje, no entanto, as três não precisam realizar mais investimentos tão altos, o que lhes permite distribuir mais dividendos aos acionistas.

Mesmo o fato de que as empresas ainda terão de arcar com o pagamento de dívidas tomadas para a realização dos investimentos no passado não é encarado como um problema por Firetti. Segundo ele, empresas alavancadas que conseguem obter um retorno sobre o capital maior que a taxa de juros de suas dívidas financeiras conseguem inclusive níveis de rentabilidade mais elevados que os alcançados pelos concorrentes.

O problema é que o preço das ações de concessionárias de serviços públicos não é dos melhores neste momento. Já se antecipando ao aquecimento da inflação, os investidores vêm comprando desde o ano passado papéis de empresas que têm garantidos em seus contratos de concessão o direito de repassar anualmente os aumentos de custos ao consumidor final – caso das três empresas. Quem comprar esses papéis agora, portanto, deve ter em mente que suas cotações não devem se beneficiar da desaceleração da inflação quando ela acontecer.

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