Quanto mais informações o comprador tiver, melhor será a negociação do preço do carro (Yoshikazu Tsuno/AFP)
Da Redação
Publicado em 24 de maio de 2012 às 10h41.
São Paulo - O anúncio das medidas de estímulo ao consumo de veículos pelo governo deixam o momento mais propício para a compra de um automóvel. Houve redução do IPI para compra de automóveis, sendo que os carros de até 1000 cilindradas chegam a ser isentos da cobrança e os bancos poderão utilizar até R$ 18 bilhões a mais nas operações de crédito para financiamento de veículos leves.
Se você ficou empolgado porque já queria comprar um carro, mas ficou ao mesmo tempo apreensivo porque será o seu primeiro veículo, as dicas a seguir mostram o passo a passo para quem quer comprar um carro pela primeira vez:
1. Avaliar a capacidade financeira
Ainda que a economia esteja em uma boa fase, que os juros estejam baixos e as oportunidades de financiamento estejam boas, o principal critério para avaliação de quanto poderá ser gasto para a compra do carro deve ser a renda mensal. “É importante que se tenha ideia pelo menos do salário nos próximos três anos, que é o prazo médio de um financiamento do automóvel”, orienta Hsia Hua Sheng, professor de finanças da Fundação Getúlio Vargas.
A seguir, deve-se avaliar qual é o comprometimento do salário que pode ser feito com o financiamento. Isto varia de acordo com as despesas fixas. No caso de um jovem que mora com os pais, por exemplo, e por isso não tem tantas contas a pagar, o comprometimento pode ser maior do que o de um jovem que mora sozinho.
Sheng sugere que do salário total sejam subtraídos os gastos fixos - como aluguel de apartamento, mensalidade escolar, contas de luz, água e alimentação - e do montante que restar, metade deve ser reservada para alguma emergência e a outra metade deve ser destinada às parcelas e outros gastos relacionados ao carro, como seguro, gasolina e estacionamento. Assim, um jovem que tem um salário de 3.000 reais e tiver 1.000 reais de gastos fixos, terá 1.000 reais reservados para imprevistos e 1.000 reais para dividir entre o pagamento do carro e os novos gastos gerados por ele. Neste caso, portanto, ele deveria pensar em um parcelamento de, no máximo, 500 reais.
Segundo o professor, na hora de planejar qual é o valor destinado à parcela, é essencial pensar nestes gastos para manter o automóvel. “Muita gente esquece de pensar nisso, mas com um carro, o padrão de consumo vai ser muito maior, a pessoa passa a frequentar mais lugares, ela tem o consumo de gasolina, o estacionamento e por isso a tendência é de aumento dos gastos”, diz.
2. Novo ou usado?
A principal e mais óbvia vantagem de um carro novo é que o proprietário não precisará se preocupar se ele já passou por algum acidente, se já teve algum problema mecânico, ou se ele era bem cuidado pelo antigo proprietário. O carro usado ou seminovo, por sua vez, tem como principal vantagem os preços menores, já que mesmo um carro novo, ao sair da revenda já sofre uma depreciação de 5% a 10% do seu valor.
Sheng ressalta que os preços de carros usados estão ainda mais reduzidos agora porque com os juros mais baixos aumentou muito a busca pelos carros novos. “Com a diminuição da demanda, o carro usado está com o preço muito menor”, afirma.
Para comprar um carro usado, no entanto, é necessário um maior rigor sobre a compra para que não seja feito um mau negócio. Giancarlo Pereira, especialista na área automotiva, explica que devem ser analisados os pneus do automóvel, o volante, a quilometragem e, em hipótese alguma o comprador deve confiar no que o antigo dono fala. “Para verificar melhor o histórico do veículo, uma boa opção é pedir que um mecânico de confiança faça a avaliação do carro pretendido junto com o comprador”, sugere.
Com o número do Renavam do carro, é possível checar no site do Denatran se o carro foi roubado ou se teve multas, e pelo Detran, é possível saber o número de proprietários que o carro já teve. Um carro usado pode ser comprado em uma revendedora, em uma grande concessionária especializada em seminovos e usados, em feirões de carros usados ou por meio de sites e classificados.
3. A escolha da marca e do modelo
A escolha da marca e do modelo do carro podem ser a parte mais complexa do processo, porque envolve uma série de critérios que devem ser pesados com muita atenção.
Em primeiro lugar, o comprador deve refletir sobre a utilização do carro. Se ele for usado para viajar, um modelo que consome menos combustível pode ser a melhor opção; se o objetivo é carregar malas e cargas, uma picape pode ser uma boa alternativa e se ele for usado para transportar uma família grande, por exemplo, pode ser considerada uma minivan.
Depois que o comprador definir qual o tipo de carro mais adequado para os seus objetivos, o próximo passo é fazer a comparação entre as marcas. Para Giancarlo Pereira, esta escolha deve levar em consideração principalmente os custos de manutenção que o carro terá, a garantia oferecida, o eventual valor de revenda e o design que mais lhe agrada. “Eu diria que o consumo de combustível hoje em dia não varia muito, então não deve ser levado muito em conta”, completa.
Estas informações podem ser checadas em publicações especializadas ou pela internet. Uma boa dica também é pedir a opinião de pessoas que possuam o modelo de carro em que você está interessado para saber se elas estão satisfeitas com o desempenho do veículo e se tiveram algum problema. A pesquisa deve incluir a comparação entre os preços de uma concessionária para outra.
A potência do motor é outro fator que deve ser pesado de acordo com os objetivos do carro. Se o automóvel for usado em viagens com trechos de serra, por exemplo, um motor 1.0 pode não ser uma boa opção.
Também podem pesar na escolha da marca e do modelo o valor do seguro. Segundo Daniel Mosardo, dono da corretora DM Five, pensar no seguro na hora de definir o modelo é essencial “Muita gente me liga antes de comprar o carro para saber quanto fica o seguro de determinado modelo. Isso influencia muito na compra do carro”, diz.
Por fim, mas não menos importante, abuse do test-drive. Muitas características do carro só são percebidas na hora de dirigir. Por isso, orienta-se que o cliente veja se o carro é confortável, se tem um bom sistema de suspensão e também que fique atento aos comandos básicos do carro, ao painel e à praticidade dos porta-objetos.
4. Negocie
A melhor forma de fazer um bom negócio é reunir o máximo possível de informações para ter argumentos na hora de conversar com o vendedor. Saiba qual é a faixa de preço de carros similares em outras concessionárias e se informe sobre as taxas cobradas.
Pesquise preços em concessionárias, revistas especializadas, classificados de jornais e na internet. Procure descobrir o preço de concessionária e o preço de tabela e negocie sobre esses valores. Faça anotações de preços ou leve recortes do jornal e revista que comprovem valores, eles podem ser usados para conseguir um desconto maior.
Uma tática muito usada por vendedores é dizer ao cliente que ele tem uma oferta única, que se não for aproveitada no mesmo dia, com certeza será perdida para outras pessoas que estão interessadas. Não ceda à pressão, uma compra por impulso não dá espaço para comparações e uma boa negociação. Peça ao vendedor pelo menos um dia e cheque em outra concessionária ou pela internet se aquela proposta realmente vale a pena.
É importante também ter em mente qual é o modelo de carro desejado e o preço máximo que seria pago por ele antes de conversar com o revendedor. Esta convicção pode impedir que o vendedor o leve a comprar um modelo diferente do procurado, muitas vezes mais caro e menos adequado às propostas iniciais.
Versões que já trazem de fábrica determinados itens, como direção hidráulica ou trio elétrico, são melhores do que carros nos quais estes adicionais têm que ser instalados. Isto porque, quando você quiser revendê-lo, seu valor de tabela muitas vezes levará em conta apenas o que ele já trazia de série.
Se você tiver condições de pagar à vista, utilize isso a seu favor. Com o dinheiro na mão, a venda não depende de aprovação de crédito e é agilizada. Como isso é bom para o vendedor, porque o dinheiro entra em caixa mais rápido e adianta a comissão, ele pode ficar mais flexível. Se um carro custar 30.000 reais, por exemplo, ofereça uma contraoferta de 27.000 à vista.
5. À vista ou financiado?
Pagar à vista, conforme mencionado, pode trazer bons descontos e por isso é a melhor opção. Ainda assim, na maioria dos casos, a compra é financiada. Segundo uma pesquisa da Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi) e do Instituto Data Popular, entre as classes C, D e E, 71,5% preferem financiar a compra, e entre as classes A e B, a preferência pelo parcelamento sobe para 75,3%.
As taxas de juros são negociáveis, por isso é importante pesquisar as condições de financiamento em várias lojas e bancos para descobrir qual deles pode oferecer as menores parcelas.
Atualmente, existem opções de financiamento em até 84 parcelas (sete anos), mas recomenda-se que o limite seja de 36 meses. Em três anos a dívida é quitada mais rápido, o comprador paga menos juros e, se ele precisar vender o carro, a parcela a ser paga será menor e a probabilidade de precisar colocar mais dinheiro para quitar a dívida é mais baixa.
Recentemente, algumas das principais instituições bancárias do país reduziram as taxas de juros para financiamento de veículos. A Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac) fez na semana passada uma simulação de um financiamento de 25.000 reais, em 48 meses, nos bancos Caixa Econômica Federal, Banco do Brasil, Itaú, Bradesco, Santander e HSBC e comprovou que a taxa mais baixa atualmente (1,37%) é a do Banco do Brasil.
Além do financiamento convencional, pelo CDC (Crédito Direto ao Consumidor), o comprador pode recorrer ao leasing ou ao consórcio. Nas duas opções, os juros costumam ser mais baixos do que em um financiamento.
Em um consórcio, um grupo de pessoas paga a uma administradora um valor mensal para adquirir o veículo. O período de duração normalmente varia entre 36 e 60 meses. O recebimento do carro pode ser antecipado se o participante fizer um lance ou se ele for sorteado, o que pode ocorrer tanto no início quanto no final do consórcio.
Por conta dos prazos, o consórcio pode ser menos interessante para quem não quer esperar muito tempo para ter o carro em mãos. Outra desvantagem ainda é que nesta modalidade de pagamento existem riscos de inadimplência, que podem gerar um aumento das parcelas.
No caso do leasing, o cliente paga um aluguel mensal ao arrendador, que coloca o próprio carro como garantia de pagamento. Ao final do contrato, quem aluga tem a opção de comprar o veículo por um valor previamente definido, renovar o contrato ou devolver o carro. Algumas concessionárias permitem também que o valor da compra final seja parcelado e acrescentado às prestações do arrendamento.
O leasing pode ser mais barato que os juros do financiamento em alguns casos, porque é isento de IOF. Porém, como o banco é o proprietário do carro, o comprador fica preso até o final do contrato e não pode vender o carro.
Mais uma vez, antes de fechar o negócio, é fundamental observar cada opção de pagamento para verificar qual delas pode trazer mais vantagens de acordo com o objetivo do comprador.
Deve-se lembrar ainda que a aquisição de um carro também envolve a cobrança de IPVA (que varia de acordo com o estado), seguro obrigatório (DPVAT), taxa de licenciamento e o preço cobrado pelo despachante para fazer a documentação do carro. Esta documentação pode ser feita pelo próprio comprador, mas para quem está fazendo a compra pela primeira vez é mais recomendado deixar por conta do despachante. Estas taxas também devem ser comparadas entre os modelos de carro e as concessionárias para que sejam negociadas quando possível.
6. O seguro
A contratação de um seguro é um passo fundamental para a compra do carro. Infelizmente, qualquer um está sujeito a sair com o carro novo da concessionária e ser roubado no dia seguinte, por isso o seguro deve ser feito junto à compra do automóvel. Além disso, pesquisar o seguro no momento da compra, pode ajudar na escolha do carro, já que os preços variam de acordo com o modelo.
O seguro pode ser feito em um banco ou por meio de uma corretora. Para quem nunca teve um carro antes, a negociação por meio de uma corretora é indicada porque elas podem ter mais informações para passar ao cliente menos experiente. A melhor forma de encontrar uma boa corretora é pela indicação de alguém que já tenha utilizado seus serviços.
Segundo o dono da corretora DM Five, a principal dúvida dos segurados de primeira viagem é sobre os fatores que influenciam o preço de um seguro. “As empresas levam em conta principalmente a idade do motorista, o CEP de pernoite do carro, se a pessoa é casada, se ela trabalha com carro, se tem estacionamento no local de trabalho e na residência”, explica. Ele acrescenta que o preço de um seguro para uma pessoa mais jovem geralmente é 50% mais caro do que o valor cobrado para uma pessoa mais velha.
Mosardo ressalta ainda que na hora de fazer o seguro é muito importante que as informações declaradas sejam verdadeiras e que não haja nenhuma omissão. “Muita gente quando faz o primeiro seguro mente para pagar menos, com isso, na hora que ocorre o sinistro, a seguradora pode fazer uma sindicância, encontrar informações divergentes das declaradas e negar o pagamento”, conta.
Apesar de algumas seguradoras menos conhecidas muitas vezes oferecerem preços reduzidos, as seguradoras maiores têm a vantagem de possuir uma assistência mais eficiente e têm maior agilidade no pagamento em caso de sinistro.