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Como os bancos dos EUA voltaram a ter lucro

Segundo o Banco Fator, as instituições captaram dinheiro a custo zero com a ajuda do governo e, assim, podem ganhar com empréstimos

EXAME.com (EXAME.com)
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Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h34.

Na semana passada, os grandes bancos americanos animaram o mercado ao informar que teriam bons resultados no início deste ano após vários trimestres seguidos de prejuízos bilionários, baixas contábeis e aumento da inadimplência.

O Citigroup informou ter registrado um lucro de 19 bilhões de dólares em janeiro e fevereiro. O Bank of America seguiu o Citi e disse que poderia ter um resultado positivo de 50 bilhões de dólares neste ano (antes de impostos e outras obrigações).

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A crise bancária americana teria então terminado? Segundo o Banco Fator, a resposta é não, uma vez que os bancos tiveram apenas um "resultado contábil positivo". Uma solução definitiva ainda depende de um grande número de medidas.

Recentemente o governo decidiu ajudar instituições como o Citigroup com a transformação de ações preferenciais em ordinárias. Nos Estados Unidos, ações preferenciais funcionam como uma espécie de debênture, que paga uma remuneração periódica aos seus compradores.

Ao transformar esses papéis em ações ordinárias, o governo, na verdade, está trocando uma dívida por uma injeção de capital no banco.

"Os bancos captam a zero e aplicam a algo maior do que zero (a taxa contratada menos a inadimplência). Assim, podem apresentar resultado positivo", afirmou o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves em relatório.

Para ele, a capitalização dos bancos tem sido feito com dinheiro do governo, mas há limites para essa ajuda. O governo americano tem sido bastante cuidadoso com a ideia de uma possível nacionalização dos bancos. Há também grande resistência do Congresso e da opinião pública para a concessão de mais dinheiro às instituições financeiras.

O governo não sabe o tamanho da despesa que terá para sanear o balanço dos bancos porque o ambiente recessivo cria mais créditos podres à medida que o tempo passa.

Novas hipotecas inadimplentes e "esqueletos que aparecem de quando em quando" tornam a tarefa de capitalizar os bancos ainda mais ingrata, segundo o Fator.

O economista acredita que o governo reconhece que não há compradores para todos esses papéis e que "não há funcionário público que toque um banco com a eficiência que um privado teria".

Como o governo descarta uma nacionalização formal dos bancos, com a transferência do controle para Washington, a expectativa é de que a solução seja parecida com a adotada há alguns anos na Suécia, onde foi criado um "banco ruim" para assumir os créditos dos bancos.

O governo Obama já tornou pública sua intenção de trabalhar em uma solução parecida, mas defende a participação privada na compra dos ativos tóxicos. O governo poderia até mesmo emprestar dinheiro aos investidores interessados em apostar nesses créditos.

Para o Fator, o "banco bom" seria o banco comercial, que teria os depósitos dos correntistas (protegidos por um fundo garantidor federal), o caixa correspondente a esses depósitos e um aporte do Departamento do Tesouro para permitir o retorno do crédito.

A concessão de novos empréstimos seria supervisionada pelo governo, mas a gestão seria dos atuais controladores do banco, que, no entanto, só poderiam receber dividendos quando o patrimônio líquido da instituição se tornar positivo.

Já o "banco ruim" englobaria os ativos do banco de investimentos, como os papéis hipotecários, cuja inadimplência é altíssima atualmente. Os passivos dos bancos - que não são garantidos pelo Tesouro - também entrariam nessa conta.

A administração ficaria com um acionista independente nomeado pelos atuais controladores. Ele teria a missão de recuperar os créditos e negociar com os credores a transformação de dívidas em capital.

Para o Fator, essa solução é "amigável para o mercado". "O que um ganha, outro perde, para todos perderem menos no futuro", diz o relatório. O mercado só não gostou, até agora, da demora do governo em pôr na prática essa solução.

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