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Como a ação do Bradesco brilhou entre os bancos na crise

Com o maior retorno para o acionista no longo prazo, papel valorizou 45% em 5 anos, maior alta entre os grandes bancos

Foco no mercado nacional e crescimento da seguradora foram alguns dos trunfos do Bradesco (Germano Lüders/EXAME.com)

Foco no mercado nacional e crescimento da seguradora foram alguns dos trunfos do Bradesco (Germano Lüders/EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 9 de agosto de 2012 às 15h09.

São Paulo – As ações do Bradesco tiveram o melhor desempenho entre as ações de grandes bancos nos últimos cinco anos. No período de 8 de agosto de 2007 a 8 de agosto de 2012 – durante a crise econômica internacional, portanto – a alta da ação preferencial (BBDC4) foi de 42%. Embora esse desempenho tenha sido inferior ao CDI acumulado de 66%, o Bradesco tem feito uma combinação vencedora de valorização das ações com pagamento de dividendos, tendo sido também o banco que mais deu retorno a seus acionistas de 2003 a 2011.

Segundo pesquisa do Boston Consulting Group publicada pela revista EXAME no fim de julho, o retorno ao acionista do Bradesco entre dezembro de 2003 e dezembro de 2011 foi de 25% ao ano, mais que os 21% anuais do Banco do Brasil e os 20% ao ano do Itaú Unibanco. Isso se somados valorização das ações e dividendos. Os motivos desse sucesso foram uma gestão focada no mercado nacional e na melhora operacional, sem aquisições gigantescas, e de uma atuação bem-sucedida no mercado de seguros, um verdadeiro trunfo para um banco em tempos de crise.

“O mercado começou a ver valor na seguradora. Hoje, mais ou menos um terço do lucro do Bradesco vem da seguradora. Com problemas como o temor da inadimplência e a crise internacional, o mercado passou a ver potencial de crescimento maior nas seguradoras que no varejo. E o Bradesco está mais avançado neste setor do que os outros bancos”, diz Mário Pierry, analista do setor financeiro no Deutsche Bank.

Dividendos e valorização

De forma geral, os grandes bancos brasileiros são bons pagadores de dividendos, o que torna suas ações ideais para resistir a períodos de crise. O Banco do Brasil é o campeão nesse quesito, distribuindo 40% de seu lucro aos acionistas, seguido do Bradesco, que distribui 34%, e do Itaú Unibanco, com 30%. A ação do BB, porém, teve valorização de apenas 15% nos últimos cinco anos. O Bradesco ganhou até do Itaú, seu principal rival, que teve alta de 32%.

“Em 2008, a crise financeira internacional impactou todo mundo. E a fusão do Itaú com o Unibanco, no fim daquele ano, pesou contra o Bradesco no começo. Temia-se que o Bradesco perdesse em competitividade e participação de mercado, e ficava claro que a forma de os bancos crescerem no Brasil seria por meio de fusões e aquisições. Mas as sinergias do Itaú com o Unibanco não vieram tão rápido quanto o esperado, e o lado operacional do Bradesco começou a melhorar”, explica Mário Pierry.

Segundo o analista, pesaram a favor do Bradesco o fato de o banco ter focado no mercado nacional, no crescimento orgânico (e não por meio de aquisições) e em setores com maior potencial de crescimento. Enquanto isso, o Itaú Unibanco, seu principal rival, chegou a fazer aquisições fora do país. “O Itaú ainda pensa em se tornar um banco da América Latina. Mas após sua fusão com o Unibanco e a compra do Real pelo Santander, o mercado viu que a fusão de bancos é mais complicada do que parece. É bom ter escala, mas as culturas organizacionais são diferentes”, observa Pierry.


Em 10 anos, ação rendeu o triplo da renda fixa

Em dez anos – de 8 de agosto de 2002 a 8 de agosto de 2012 – a ação preferencial do Bradesco subiu 959%, a segunda maior alta entre os bancos no período, batendo com folga o CDI de 276%. Para Mário Pierry, esse desempenho é reflexo do sucesso geral do setor bancário brasileiro no período. “Nesse período, o Brasil viu um forte crescimento econômico, com expansão do crédito com juros altos e dos resultados dos bancos como consequência”, diz.

E daqui para a frente?

Para o analista do Deutsche, o Bradesco continua uma empresa muito sólida para quem investe com vistas ao longo prazo. Mas o setor bancário como um todo tem agora um belo desafio pela frente. Com a Selic alta, era mais fácil para os bancos ganharem dinheiro no mercado de títulos públicos. Daqui em diante será preciso aumentar a concessão de crédito para turbinar as receitas.

A pressão do governo para os bancos baixarem os spreads (diferença entre o custo de captação de recursos no mercado e o juro cobrado dos clientes na concessão do crédito) e o temor da inadimplência engrossam a lista de problemas enfrentados pelas instituições financeiras. “A penetração de crédito no Brasil ainda é de 50%, um patamar baixo em comparação com os países desenvolvidos. O crescimento agora, porém, terá que se dar mais em hipotecas do que em financiamento automotivo e cartões de crédito, por exemplo”, diz Pierry.

Para o analista, contudo, os bancos brasileiros ainda serão rentáveis por um bom tempo. Ele acredita que o retorno sobre o investimento das instituições financeiras pode continuar sendo de 20%, assim como nos últimos anos, se houver melhora de eficiência e provisionamento (reserva para cobrir a inadimplência). “Os bancos brasileiros já provaram que conseguem ganhar dinheiro na crise, com inflação alta, com inflação baixa, com juro alto ou com juro baixo”, conclui.

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