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Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h34.
A chegada do Ibovespa, índice que mede a evolução do preço das ações mais negociadas na Bovespa, ao nível dos 60 mil pontos nesta quinta-feira (27/09) tende a ser apenas o primeiro patamar de uma aceleração com fôlego longo e durável, afirmam analistas financeiros ouvidos pelo Portal EXAME.
Na visão desse consultores, o otimismo justifica-se pelo fato de a escalada quase constante do índice, desde 2004, basear-se numa combinação de fatores relativamente duradouros, tanto externos quanto internos. Além disso, eles enxergam como próxima a possibilidade de o Brasil obter o "investment grade", a recomendação das agências internacionais de que é seguro investir no país.
Nesse cenário, a Bolsa de Valores de São Paulo alcançaria no curto prazo níveis ainda mais elevados do que os atingidos nesta quinta-feira, desde que nenhuma turbulência inesperada sacuda os mercados, como ocorrido em agosto. A classificadora de risco Austin Rating, por exemplo, trabalha com a previsão de que o Ibovespa suba a 65 mil pontos até o fim de 2007 e bata nos 75 mil pontos, em 2008.
"O grau de investimento traria uma grande entrada de capital externo, principalmente nos fundos de pensão. Nesse caso, falar em 75 mil pontos é até conservador", diz Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating no Brasil.
A aposta numa expansão vigorosa do Ibovespa é compartilhada pela sócio da corretora Quest, Walter Maciel. Ele ressalva que parte do efeito do "investment grade" já pode ser sentido na valorização significativa das empresas que já atingiram essa classificação positiva, como a Vale do Rio Doce, mas afirma que as empresas de capital aberto como um todo devem se beneficiar dessa classificação.
Maciel acredita também na manutenção do crescimento dos países emergentes, outro fator com influência direta na elevação do preço das blue chips brasileiras, como são chamadas as ações de maior influência sobre o índice geral.
"A teoria de que o economia mundial vem se descolando da situação dos Estados Unidos fica cada vez mais clara. Mesmo que os americanos não se saiam tão bem nos próximos meses, a expansão dos emergentes, puxada pela China, favorece o mercado de commodities, algo que valoriza empresas como a Petrobras", explica.
Ajuda do cenário interno
No dia em que alcançou a marca dos 60 mil pontos, a Bovespa teve fôlego inclusive para ultrapassar esse valor. Após uma alta de 2,24%, o Ibovespa fechou em 61.052 pontos
O percurso rumo a esse nível de valorização, entretanto, não se sustentou apenas com base na boa fase do cenário mundial. Os economistas apontam a redução gradual na taxa básica de juros como condição importante para aumentar o interesse dos investidores estrangeiros por migrar das aplicações mais conservadoras para o mercado de ações - uma forma de compensar a diminuição da rentabilidade.
Enquanto os juros caíam, a inflação mantinha-se sob controle, com a ajuda das importações, e a economia, aos poucos foi retomando o ritmo de crescimento, cenário favorável à entrada de novas empresas na Bovespa e à relativa popularização desse tipo investimento.
"Quando a economia se expande, levar a empresa ao mercado de ações e manter um nível de governança mostram-se formas interessantes de obter capital de giro. Isso fez aumentar a variedade de opções na Bovespa e atraiu também mais investidores", lembra a diretora da MB Associados, Tereza Fernandez.
O fortalecimento do fluxo de capitais estrangeiros pôde ser comprovado pelo movimento da taxa de câmbio. A moeda americana teve uma desvalorização de 33% frente ao real, desde janeiro de 2004, puxado principalmente pela entrada de dólares no mercado de ações.