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Bovespa amplia alianças para crescer

A entrada de um sindicalista no Conselho de Administração da Bolsa é considerada estratégica para aumentar o diálogo com o governo Lula

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Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h34.

Pelo quinto mandato consecutivo, Raymundo Magliano Filho assumiu a presidência da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) mas, desta vez, com um aliado inédito. Trata-se do presidente da Confederação Geral dos Trabalhadores, Antonio Carlos dos Reis, conhecido como Salim o primeiro sindicalista a integrar o Conselho de Administração da Bovespa como membro efetivo.

Salim terá um papel fundamental para abrir canais de negociação com o governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Entre as missões de Salim, está convencer o Palácio do Planalto a liberar o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) e a criar uma linha especial para a compra de ações pelos trabalhadores.

Segundo Magliano, a popularização do mercado acionário é um meio de promover a inclusão social. "É importante que o trabalhador tenha algum patrimônio; que tenha alguma fonte de renda", diz. Neste ano, a integração com as demais bolsas latino-americanas também será priorizada pela Bovespa. Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista exclusiva ao Portal EXAME:

Portal EXAME - Esta é a primeira vez que um sindicalista e uma mulher são eleitos para o Conselho de Administração da Bovespa. O que sua indicação representa?
Raymundo Magliano Filho - Queremos fazer uma bolsa alicerçada no pequeno investidor e nos trabalhadores. Temos demonstrações de que os trabalhadores se interessam, como a compra das ações da Petrobras e da Vale do Rio Doce. Sentimos que precisávamos ter um sindicalista no conselho para consolidar a parceria entre o capital e o trabalho. É importante que o Salim esteja conosco para participar da elaboração de estratégias. É possível propor a distribuição de parte dos benefícios pagos pelas empresas aos trabalhadores, como bônus e participação nos lucros, em ações por exemplo. Também é possível criar linhas de financiamento do BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social] e do FGTS para comprar ações.

EXAME - Por que os recursos do BNDES e do FGTS são importantes?
Magliano - A idéia é que o BNDES tenha uma linha de financiamento para que, no momento da abertura de capital de uma empresa, o trabalhador possa participar com taxas diferenciadas. O trabalhador não nasceu só para trabalhar. Ele também nasceu para ganhar dinheiro. O que queremos fazer na bolsa é uma inclusão social. É importante que ele tenha algum patrimônio; participe de alguma empresa; tenha sua renda.

EXAME - Quais são as ações práticas que a Bovespa tomou para criar essas linhas de recursos?
Magliano - Tivemos uma primeira reunião com a equipe do BNDES no dia 6 de janeiro, quando eu tomei posse para o novo mandato. Agora, vamos fazer um convite ao presidente do banco, Guido Mantega, para mantermos um diálogo mais estreito. O Salim vai ser uma peça importante nessa interlocução. Também vamos retomar as conversas com o Conselho Curador do FGTS. A vinda do Salim para o Conselho vai facilitar bastante o diálogo, porque são os trabalhadores que estarão negociando.

EXAME - Esta também é a primeira vez que uma mulher é eleita para o Conselho (a consultora Maria Cecília Rossi, como suplente). O que isso representa?
Magliano - A mulher hoje é uma transformadora do mercado de capitais. Ela se preocupa mais que o homem com a poupança da casa, dos filhos. Como ela tem o privilégio da maternidade, pensa mais no longo prazo. Além disso, ela transmite mais a cultura de poupança para os filhos, porque passa mais tempo com eles.

EXAME - Alguns analistas afirmam que a participação das pessoas físicas na Bovespa já chegou ao limite. O senhor concorda?
Magliano - Acho que ela pode crescer um pouco mais. Recebi um número há algum tempo mostrando que as pessoas físicas representam cerca de 35% da bolsa americana. Acho que a gente pode atingir esse patamar de um terço para pessoas físicas, um terço para institucionais e um terço para estrangeiros [atualmente, as pessoas físicas representam cerca de 30% do movimento da Bovespa].

EXAME - Além de popularizar a bolsa, quais são os outros planos para este ano?
Magliano - Outra idéia básica é a integração dos mercados latino-americanos. Já assinamos um protocolo de intenções com a bolsa do México em novembro. A proposta é dar acesso ao investidor brasileiro que deseja, por exemplo, comprar ações da Telmex na bolsa do México. Ele procura uma corretora aqui no Brasil. A corretora brasileira elege uma correspondente no México, que compra as ações para ele. O inverso também será possível: investidores mexicanos poderão comprar ações de empresas brasileiras aqui na bolsa, por meio de correspondentes.

EXAME - Depois do protocolo, quais são os próximos passos para a integração?
Magliano - Deveremos começar pelo México e queremos integrar toda a América Latina. É um processo nem sempre muito rápido, porque depende de mudanças nas regulamentações da CVM e do Banco Central. Por exemplo, no Brasil, as corretoras ainda não podem oferecer papéis estrangeiros. As autoridades brasileiras estão de acordo.

EXAME - Mudar a legislação no Brasil sempre é um processo lento. A integração ocorrerá quando?
Magliano - Vamos trabalhar junto ao Congresso para mudar a legislação. Vamos mostrar que isso é bom para o Brasil. Muitas vezes, os investidores compram papéis de empresas brasileiras na Bolsa de Nova York, quando poderiam comprar aqui, a custos mais baixos. Isso facilitaria muito o fluxo. Por exemplo, sabemos que o Peru realizou uma reforma muito grande em seus fundos de previdência. Agora, eles têm um volume elevado de recursos, mas não têm onde aplicar. Acredito que até o final do ano possamos nos integrar ao México.

EXAME - A Bovespa bateu o recorde de volume negociado em 2004. A que o senhor atribui esse dempenho?
Magliano - As pessoas físicas foram as grandes impulsionadoras do volume no ano passado. Houve a abertura de muitos clubes de investimento. Além disso, novas empresas abriram capital e lançaram ações na bolsa. Cria-se um círculo virtuoso: novos investidores incentivam a chegada de novas empresas e vice-versa.

EXAME - Novas empresas abrirão seu capital neste ano?
Magliano - Estou vendo um bom ano. Muitas empresas já estão conversando conosco. Há muito interesse. Acho que vamos ter novidades.

EXAME - E o volume financeiro baterá um novo recorde?
Magliano - Acreditamos que devemos crescer bastante. Precisamos ter, a curto prazo, um bilhão de dólares por dia, devido ao tamanho da economia brasileira. O fundamental é que o investidor está mais consciente. Hoje, ele consulta o corretor, consulta o site da Bovespa, cria clubes de investimentos, sabe que a bolsa é um investimento de longo prazo. Acreditamos que vamos paulatinamente aumentar o volume negociado no pregão.

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