Banco Central estuda estímulo ao empréstimo com garantia de imóveis
Autoridade monetária analisa reduzir prazo do chamado home equity para fazer esse mercado deslanchar no Brasil
Estadão Conteúdo
Publicado em 14 de outubro de 2019 às 08h03.
O Banco Central estuda medidas para diminuir o prazo de concessão de empréstimo pessoal com garantia de imóvel no Brasil - conhecido como home equity - para fazer esse mercado deslanchar de vez no País. Dentre os temas em análise, apurou o Estadão/Broadcast, estão a adoção da modalidade guarda-chuva e a portabilidade.
Para o presidente do BC, Roberto Campos Neto, o produto tem potencial de liberar R$ 500 bilhões na economia brasileira. Atualmente, o estoque do chamado home equity no Sistema Financeiro Nacional (SFN) está em R$ 11,3 bilhões, após períodos de sucessivas quedas.
Enquanto em dezembro de 2017 o estoque de empréstimos na modalidade era de R$ 12,5 bilhões, em junho de 2018 foi de R$ 11 8 bilhões. E, no fim daquele mesmo ano, o valor caiu para R$ 11 5 bilhões.
No acumulado deste ano, até agosto, pessoas físicas tomaram emprestado R$ 1,533 bilhão na modalidade. Em 2018, o empréstimo foi de R$ 1,881 bilhão e, em 2017, de R$ 2,089 bilhões.
Guarda-chuva
Consolidada no mercado norte-americano, a chamada "garantia guarda-chuva" permite que o tomador do empréstimo faça diferentes operações com um mesmo imóvel dado como lastro, até que atinja o limite de crédito pré-aprovado no banco.
Hoje, não é possível recorrer à garantia guarda-chuva para uma operação de home equity no Brasil. O tomador pode fazer apenas um empréstimo usando seu imóvel como garantia, ainda que não tenha consumido todo o limite oferecido.
No entanto, a modalidade guarda-chuva existe no País desde 2017, a partir da Lei 13.476, que permitiu que um mesmo credor fizesse várias operações, como empréstimo pessoal e cartão de crédito, a partir de um mesmo limite e com a mesma instituição financeira.
Por ora, o mercado de garantia guarda-chuva é focado na pessoa jurídica. A ideia do BC é oferecer a modalidade para mais pessoas físicas e, de quebra, diminuir o prazo de liberação da linha. O processo demora em média 52 dias e o objetivo, segundo fontes, é cortá-lo para menos da metade.
Há uma discussão entre o mercado e o BC, de acordo com o gerente departamental do Bradesco, Afranio Dantzger, se a lei deverá ser adaptada para o home equity ou se será criada uma regulamentação específica. Para ele, a lei pode ser "perfeitamente" adaptada.
O BC também estuda aprimorar as regras de portabilidade para o segmento, permitindo a migração de dívidas mais caras e de diferentes modalidades para o home equity.
Grandes bancos
Ao entrar na mira do BC, o crédito com garantia imobiliária também passou a ser visto com outros olhos pelos grandes bancos. O Itaú Unibanco, que repaginou seu produto no fim do ano passado já começa a colher frutos da nova estratégia. Responsável por 23% do crédito nesse mercado no primeiro semestre do ano, o banco multiplicou por cinco a oferta mensal de recursos.
Segundo a diretora de crédito imobiliário da instituição, Cristiane Magalhães, a oferta, antes restrita ao cliente com renda superior a R$ 10 mil mensais, está sendo estendida para aquelas que ganham entre R$ 4 mil e R$ 10 mil por mês.
O Banco do Brasil quer ampliar sua carteira no segmento. "É um crédito mais qualificado e é possível praticar preços mais atrativos para o tomador", afirmou a gerente executiva de empréstimos, financiamentos e crédito imobiliário do BB, Daniela de Avelar Gonçalves.
Segundo a executiva, o banco terá novidades em breve nessa linha de crédito, como a possibilidade de contratação 100% por canais digitais e a disponibilidade de empréstimos tanto para correntistas quanto para não correntistas.
Atualmente, o banco estatal oferece o BB Crédito Imóvel Próprio a seus clientes de renda mensal a partir de R$ 4 mil, que permite até 89 dias para o pagamento da primeira parcela, com taxa a partir de 1,38% ao mês. O valor mínimo para o empréstimo é de R$ 35 mil.
Para a gerente nacional de atendimento jurídico da Caixa, Bruna Groba, a regulamentação atual do home equity já é satisfatória e permite o desenvolvimento do mercado. Ela acrescentou que a expansão da carteira no banco depende apenas da estratégia de negócios.
Como funciona
- Home equity x hipoteca: Ambas dão imóvel como garantia, mas no home equity o bem fica alienado ao banco.
- Juros mais baixos: O juro é menor pois, com a posse do imóvel, o banco pode executar a dívida.
- Quando usar: É preciso pensar no valor da dívida e do imóvel. É preciso analisar, por exemplo, se vale penhoar um imóvel de R$ 1 milhão numa dívida de R$ 10 mil, por exemplo.