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As lições do investidor que perdeu um imóvel em ações da OGX

Veja a entrevista com o investidor que perdeu 90% do valor do apartamento com as ações da OGX e aprenda algumas boas lições sobre investimentos


	A concentração dos recursos em uma ação foi um dos principais erros do investidor
 (Lee Jae-Won / Reuters)

A concentração dos recursos em uma ação foi um dos principais erros do investidor (Lee Jae-Won / Reuters)

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Da Redação

Publicado em 30 de dezembro de 2013 às 09h25.

São Paulo – O aeroportuário Fernando Alves (nome fictício usado para preservar a fonte), 39 anos, vendeu seu apartamento em 2011 para investir nas então promissoras ações da OGX, de Eike Batista. Dois anos depois, após as contínuas quedas da empresa na Bolsa, ele viu seu investimento minguar e hoje tem apenas o equivalente a 10% do valor do imóvel, que, ironicamente, havia sido comprado com o rendimento obtido anteriormente com ações da Petrobras.

Além da perda financeira, ele passou maus bocados ao revelar o tamanho do prejuízo à esposa, que havia o alertado antes sobre o risco da operação. "Quando eu falei para a minha esposa que queria usar todo o nosso dinheiro para comprar ações da empresa do Eike, ela disse: ‘Você devia comprar ações de empresa que vende cerveja, pois com crise ou sem crise o povo não para de tomar cerveja'”, conta Alves.

Assim como essa história, muitas outras, apesar de pouco divulgadas, evidenciam os riscos do investimento em ações. Ainda que muitos investidores façam suas aplicações acreditando apenas que altos riscos podem trazer grandes retornos, é importante observar alguns casos reais para entender que as operações mais arriscadas podem e muitas vezes trazem também grandes prejuízos.

Alguns dos principais erros de Alves são comuns entre investidores iniciantes, como a concentração em uma ação, o investimento sem experiência e assessoria profissional, a aposta em empresas com mais promessas do que resultados e a ganância. "Mesmo sabendo que era importante diversificar, me deixei levar pelo entusiasmo do Eike dizendo que em 2015 seria o homem mais rico do mundo”, diz o aeroportuário.

Apesar da belíssima contribuição de Eike para o prejuízo de Alves, - com suas promessas eufóricas e sua posterior atitude, ao vender 70,5 milhões de ações da OGX no final de maio e gerar uma crise de confiança sobre a empresa – para evitar grandes perdas, o melhor que o investidor faz é entender a parcela de erros que cabem a ele, já que os erros das empresas podem ser os mais diversos e imprevisíveis.

Prejuízos e decepções à parte, são exatamente as perdas que trazem algumas das maiores lições do mercado de ações e transformam perdedores em ganhadores. Veja a seguir a entrevista de Fernando Alves a EXAME.com e saiba que tipo de erros evitar ao investir na Bolsa.

EXAME.com - Quando você começou a investir na OGX?

Fernando Alves -  Em outubro de 2011, comprando lotes de ações mensalmente. Investia 20% da minha renda em todas as empresas 'X' pois gostava muito da visão 360º que o Eike pregava. Com o tempo, fui me desfazendo das outras 'X' e foquei na OGX, que para mim seria a 'Grande X'.

EXAME.com - Em que momento você decidiu vender o seu imóvel para comprar ações da empresa? O que te motivou a isso?

Fernando Alves - Eu havia me mudado para outro estado e aluguei meu imóvel, mas sempre tive problemas com inquilinos, então decidi vendê-lo e usar a maior parte do dinheiro para comprar mais ações da OGX. Eu acreditava muito na promessa do Eike de que a empresa iria produzir 20 a 40 mil barris por dia. Para mim, a OGX poderia em 10 anos se tornar uma nova Petrobras e achei que o retorno compensava o risco. 

EXAME.com - Qual foi o valor do investimento?

Fernando Alves - Aproximadamente 60 mil reais, quase todo o dinheiro ganho na venda do imóvel, que era meu único patrimônio e eu não tinha a intenção de voltar a morar no meu estado de origem. Eu estava investindo na OGX visando a minha aposentadoria. Eu esperava que em 20 anos a empresa estivesse com uma produção gigante, com uma cotação acima de 60 reais e pagando bons dividendos. 

EXAME.com - Como foi contar para a sua família sobre a perda? 

Fernando Alves - Foi muito difícil. Ver meu dinheiro derreter na OGX já estava me deixando estressado, eu estava menos paciente com os meus filhos pequenos e minha esposa. Isso foi o mais difícil, o meu mau investimento estava afetando aquilo que eu tinha de mais valor, a minha relação com a minha família. Foi aí que decidi abrir a situação para minha esposa, pois ela não estava por dentro de como ia o investimento.


EXAME.com - Qual foi a reação da sua esposa?

Fernando Alves - Ela ficou o dia todo me olhando com tristeza e decepção. Eu pensei que seria o fim do nosso casamento, pois ela entendeu que todo o meu estresse foi motivado pela perda do nosso único bem (hoje moramos de aluguel). Mas, no fim do dia, com a cabeça no travesseiro, ela disse: "Eu te conheci sem imóvel, sem dinheiro e te amei assim. Compramos o imóvel depois, perdemos, compraremos outro com o tempo, mas eu continuo te amando." Nessa hora percebemos que nada é mais valioso do que uma família que te ama e te apoia apesar de tudo.

EXAME.com - Você já investia em ações antes? 

Fernando Alves - Eu não tinha muita experiência prática, mas já lia bastante sobre o mercado. Antes eu havia investido apenas na Petrobras, quando era possível usar os recursos do FGTS. Inclusive resgatei esse investimento em 2007 com grande rentabilidade e foi o que me ajudou a comprar meu imóvel. A Bolsa me deu, a Bolsa me tirou.<

EXAME.com - Você teve a orientação de algum profissional?

Fernando Alves - Não. Eu li diversos livros, sites, fóruns, buscando aprender de maneira autodidata. Eu não quis pedir orientação a corretores porque para mim eles só querem girar o nosso capital para ganhar mais corretagem. E eu não tinha contato com eles pois investia pelo Home Broker e as ordens de compra e venda são feitas diretamente.

EXAME.com - Você sabia qual era o risco do investimento?

Fernando Alves - Antes de investir, fiz um estudo fundamentalista da empresa. No prospecto são detalhados os riscos e o maior deles era o de a empresa não encontrar petróleo. Os Fatos Relevantes e estudos sísmicos (feitos no subsolo) divulgados sinalizavam que a OGX estava praticamente sentada em cima de uma reserva tão grande quanto a da Petrobras e se tornaria uma das maiores petrolíferas do mundo. Nós sempre achamos que nada vai dar errado, apesar dos riscos. E na OGX, tudo que poderia dar errado, deu errado.

EXAME.com - Você sabia que seria arriscado investir muito dinheiro em uma única ação?

Fernando Alves - Esse foi o meu maior erro. Mesmo sabendo que era importante diversificar, me deixei levar pelo entusiasmo do Eike dizendo que seria o homem mais rico do mundo e pensava: 'Ele vai ser o mais rico do mundo e eu vou de carona'. Por isso, coloquei todos os ovos na mesma cesta. Infelizmente, agora a cesta está caindo com tudo.

EXAME.com - A partir de qual momento a ação começou a cair?

Fernando Alves - Comprei as ações da OGX no dia 29/03/12, justamente na semana que começou a tendência de baixa atual da OGX, quase três meses antes de a empresa anunciar a baixa produção do primeiro poço, o que me faz acreditar que "insider tradings" sabiam da qualidade do poço antes desse anúncio, no Fato Relevante do dia 26/06/12. Para mim, a OGX é totalmente falha em proteger as informações.


EXAME.com - Você pensou em realizar o prejuízo alguma vez? Se sim, por que não o fez?

Fernando Alves - Eu vinha utilizando hedge (operação realizada no mercado futuro da Bolsa, na qual o investidor fixa antecipadamente o preço de venda de uma ação para se proteger de futuras quedas do ativo no mercado à vista) na minha carteira com lançamento coberto de opções (venda de opções de ações) e com as quedas sucessivas eu pegava os ganhos e comprava mais ações, baixando meu preço médio. No final, dobrei a quantidade de ações.

EXAME.com - Qual foi o seu sentimento diante das quedas das ações?

Fernando Alves - Foi incômodo, mas eu acreditava no negócio e ainda estava ganhando com o hedge. Só que a volatilidade da ação subiu muito e com o valor muito baixo o risco de estar vendido coberto em opções não valia mais a pena. O momento que perdi o sono foi quando foi divulgado que o próprio Eike Batista estava vendendo ações no mercado. Pensei: "Se o próprio dono está vendendo o que será de nós, minoritários?". Ele escolheu um péssimo momento para isso e tem sido nos últimos dias o principal responsável pela queda da empresa.

Desde que saiu o resultado da produção do 1º poço ele sumiu do mapa, o que deixou os minoritários da OGX profundamente aflitos e inseguros. A cada dia são boatos e mais boatos sobre o Grupo X e ninguém sabe o que está acontecendo. Pessoas estão se desesperando. Eu li em um fórum que uma pessoa que investiu 400 mil reais que viraram pó se matou por ter perdido tudo na OGX.

EXAME.com - Quando você percebeu o tamanho da perda?

Fernando Alves - A ficha caiu quando surgiu o medo de a empresa fazer fechamento de capital ou falir, pois nesse caso iria perder tudo o que restou (10%) de meu investimento e não teria longo prazo algum para recuperar na Bolsa com a valorização caso a empresa desse a volta por cima.

EXAME.com - Que lições você tira de tudo isso?

Fernando Alves - Quando contei para minha esposa que queria usar todo o nosso dinheiro para investir na OGX, ela disse: 'Você devia comprar ações de empresa que vende cerveja, pois com crise ou sem crise o povo não para de tomar cerveja'. Mas, eu argumentei que as ações da Ambev eram caras (rs). Aprendi que não há ser mais sábio do que a mulher. Quem dera nós abríssemos mais o jogo para nossas esposas para termos essas pitadas de sabedoria e uma segunda opinião. Mas nosso machismo nos faz levar as finanças da família toda em nossas costas, como bons provedores. Bons tolos, isso sim.

EXAME.com - O que deve mudar nos seus investimentos daqui para frente?

Fernando Alves - Não me dou por vencido. Percebi que a nossa Bovespa é uma vítima de "insider tradings" e os pequenos investidores são como maridos traídos, os últimos a saber das coisas. A nossa CVM (Comissão de Valores Mobiliários) praticamente não fiscaliza o mercado, quem dera a fiscalização aqui fosse mais forte como ocorre na Bolsa americana.

Comecei a valorizar mais questões macroeconômicas, pois com uma canetada o governo pode acabar com todos os fundamentos de uma empresa (vide elétricas). O principal de tudo: nunca mais investir em promessas, somente em empresas que já gerem lucros consistentes. Estou estudando novos métodos de investimento, como a análise técnica, mas não da escola tradicional, mas de uma escola chamada Trend Following, que tem dado muito certo nos EUA entre os pequenos investidores desde a década de 50.

Apesar de tudo, acredito que a Bolsa é a melhor aplicação para o pequeno investidor, no longo prazo, como forma de poupança (sem fazer day-trade) e criação de patrimônio, mas desde que ele se prepare para evitar armadilhas e os "cantos da sereia" do enriquecimento fácil.

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