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As ações mais castigadas e beneficiadas pela inflação

Estudo do Itaú BBA mostra como a alta dos preços deve ter impacto sobre os diversos setores da bolsa

Impacto será sentido pela maioria das empresas
DR

Da Redação

Publicado em 22 de dezembro de 2010 às 09h12.

Última atualização em 13 de setembro de 2016 às 16h37.

A alta da inflação já se tornou uma realidade que investidor nenhum pode ignorar. Após um início de ano de preços sob controle, a alta dos últimos cinco meses surpreendeu o mercado e tem provocado uma série de revisões para cima nas expectativas inflacionárias. Não é possível prever que essa tendência se reverta já no começo de 2011 devido a ao menos quatro fatores: 1) o IGP-M fechará este ano acima de 11% e deverá pressionar o reajuste dos preços administrados no ano que vem; 2) os aluguéis e as mensalidades escolares devem continuar a subir acima da inflação devido à forte demanda; 3) o aumento dos preços do algodão fará a indústria têxtil repassar parte da alta dos custos aos consumidores; e 4) em um país que cresce a pleno emprego, os custos com mão de obra continuarão a subir. O Itaú BBA acredita que os preços continuarão pressionados em 2011, mas não haveria motivos para desespero. O Banco Central deve ser obrigado a elevar a taxa básica de juros em 1,50 ponto percentual e o IPCA deve fechar o próximo ano em 5,6%. Nas próximas páginas, a equipe de analistas da instituição, chefiada por Carlos Constantini, mostra quais setores serão mais ou menos afetados.
  • 2. Laboratórios, construção e aviação têm muito a perder

    2 /6(Agência Nitro)

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    Diversos setores da economia têm custos que serão bastante impactados com a escalada da inflação neste e no próximo ano. As fabricantes de papel (como Suzano e Klabin) estão entre eles. Cerca de 30% das despesas do setor são com pessoal e 13% com energia - e ambas estão sob pressão inflacionária. As empresas que constroem casas populares (como a MRV, da foto ao lado) também serão especialmente atingidas, na visão do Itaú BBA. Não há ajuste de preços entre o momento em que o comprador fecha o negócio e a entrega dos imóveis. Muitos empreendimentos deixarão de se enquadrar no programa Minha Casa, Minha Vida caso a alta das despesas seja repassada ao consumidor final. Além disso, a inflação corrói o poder de consumo dos compradores. Já os laboratórios de diagnósticos médicos (como Fleury e Dasa) sairão perdendo porque as operadoras de planos (seus principais clientes) não costumam permitir reajustes para os serviços na mesma medida da inflação. Já os custos com pessoal e aluguel de imóveis tendem a superar o IPCA. As empresas de educação (como Anhanguera, Estácio, Kroton e SEB) devem sofrer as mesmas pressões com aluguel e salários. Nesse caso, entretanto, será a forte concorrência no setor que deve limitar o repasse do aumento dos custos. Por último, o Itaú BBA acredita que as empresas aéreas (Gol e TAM) serão fortemente afetadas pelos mesmos motivos das empresas de educação e diagnósticos clínicos.
  • 3. Maioria das empresas sofre impacto levemente negativo

    3 /6(Divulgação)

  • Para a maioria dos setores da economia, o Itaú BBA acredita que o impacto será levemente negativo. Esse é o caso das empresas de mineração (como a Vale, da foto ao lado), siderurgia, celulose, fertilizantes, imóveis de alto padrão, petróleo e gás, distribuição de combustíveis, alimentos e bebidas, bens de consumo, varejistas, farmácias, telecomunicações, mídia, bens industriais, logística, locadores de veículos e bancos. Os analistas admitem que esses setores não possuem contratos que lhe garantam repasses automáticos de eventuais aumentos de custos. No entanto, a elevação das despesas não deve ser tão intensa quanto no caso das empresas da página anterior. A demanda dos consumidores também não deverá ser tão afetada. Além disso, a maioria das companhias faz parte de setores não tão competitivos que, em tese, não terão dificuldades de impor pequenos reajustes de preços aos clientes.
  • 4. Empresas que praticam preços internacionais terão efeito neutro

    4 /6(EXAME)

    Há muitos setores da economia brasileira cujos preços cobrados dos clientes variam mais de acordo com a relação entre a oferta e a demanda ou com os valores praticados no mercado internacional do que com a inflação doméstica. Esse é o caso de empresas petroquímicas, grãos, distribuidores de fertilizantes ou de açúcar e álcool, que, na visão do Itaú BBA, tendem a não ser prejudicadas nem beneficiadas pela inflação. Também há setores como de fumo e cigarros e fabricantes de remédios que dificilmente sentem dificuldades para repassar preços - afinal, ninguém deixa de fumar ou de tratar da saúde para economizar alguns trocados. Por último, há setores que perdem por um lado e ganham por outro. Empresas de tecnologia têm contratos de manutenção que são reajustados pela inflação, mas também terão aumento dos custo com mão de obra. A BM&FBovespa (foto), por sua vez, não tem receitas atreladas à inflação, mas pode ganhar com o aumento das negociações com derivativos. Já as empresas do setor de cartões de crédito (como Cielo e Redecard) possuem receitas parcialmente protegidas da inflação porque muitas vezes cobram um percentual do valor da transação como comissão. Logo, se a inflação afeta o preço do bem ou serviço, pode elevar a receita dessas empresas.
  • 5. Concessionárias de serviços públicos são levemente beneficiadas

    5 /6(EXAME)

    A economia brasileira inclui um grande número de empresas com direito garantido ao repasse da inflação para as tarifas cobradas dos consumidores. Esse é o caso das empresas de água e saneamento - como a Sabesp (foto) e a Copasa - ou de energia, cujos contratos de concessão assinados com órgãos de governo estabelecem a regras para os reajustes anuais. Em alguns casos, como no setor de gás e na telefonia fixa, no entanto, eventuais ganhos de produtividade das empresas podem ser descontados do índice cheio de inflação na hora de repassar os preços. E vale lembrar que os custos trabalhistas e com algumas matérias-primas também serão pressionados pela inflação no caso dessas empresas.
  • 6. Empresas que vivem de aluguel ganham mais

    6 /6(Divulgação)

    As companhias que devem ser mais beneficiadas pelo aumento da inflação são aquelas que possuem imóveis e vivem da renda gerada pelo aluguel deles. Esse grupo pode ser dividido entre empresas de shoppings - como Multiplan (da foto ao lado), BR Malls, Iguatemi, General Shopping e Aliansce - e empresas com diversos tipos de imóveis no portfólio (como São Carlos e BR Properties). A maioria das empresas de shopping center fecha contratos de ao menos cinco anos com os lojistas e estabelecem um reajuste anual pelo IGP-DI, IGP-M ou IPCA. Em qualquer um dos casos, o valor cobrado no ano que vem terá um acréscimo interessante. O poder de negociação do dono do imóvel é enorme. Além dos custos para a mudança de uma loja, os contratos de locação costumam obrigar o lojista a arcar com uma penalidade se encerrá-lo antes do fim. Como a economia continua aquecida, boa parte dos shoppings também possui filas de espera de inquilinos. O risco de vacância, portanto, continuará baixo. Já empresas como São Carlos e BR Properties são mais especializadas em prédios de escritórios corporativos ou galpões de logística, que também possuem contratos de aluguel de longo prazo geralmente reajustados pelo IGP-DI ou IGP-M. A inflação deve gerar aumento apenas marginal de custos para essas empresas - concentrado nas despesas com pessoal.
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