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Os 7 principais erros de quem se endivida demais

Saiba como os brasileiros se tornam inadimplentes e aprenda a tomar crédito de forma consciente

Corte de gastos: eventos como divórcio e desemprego exigem replanejamento (.)
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Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h48.

São Paulo - Olhados sob todos os pontos de vista, os números do crédito à pessoa física não deixam dúvidas sobre a antecipação dos sonhos e desejos de consumo do brasileiro. O prazo médio para as operações, que era de um ano há exatamente uma década, passou para 527 dias. Nesse meio tempo, o volume liberado cresceu quase dez vezes e a taxa média de juros caiu de 76,6% para 40,4% ao ano. Em suma, mais dinheiro, com horizontes de pagamento estendidos, e, principalmente, a um custo mais baixo abriram as portas do crédito a um novo contingente de consumidores. A verdade, no entanto, é que se a facilidade em tomar empréstimos turbina o poder de compra, ela inegavelmente aumenta o risco da inadimplência. Conheça as principais causas que fazem o brasileiro se atrapalhar na hora de pagar as contas, entrando na temida ciranda dos juros:

1. Costume de parcelar

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"No passado, o acesso ao crédito era limitado pelas altas taxas de inflação. Isso mudou, as classes C e D ascenderam e o empréstimo consignado inseriu os aposentados no mercado", conta Geraldo Tardin, presidente do Ibedec (Instituto de Estudo e Defesa das Relações de Consumo). Para ele, o principal problema na hora de comprar está no arraigado costume de adequar as prestações ao tamanho do bolso, sem considerar o efeito dos juros ali embutidos. "No Brasil, o consumidor paga parcelado. E ele não quer saber se as taxas são altas ou baixas."

O professor de finanças do Insper Ricardo Rocha faz coro. "Diante dessa facilidade em financiar, muita gente tem consumido itens que poderiam esperar para serem comprados à vista. É o caso da troca de um eletrodoméstico quando o outro está em casa e em perfeito funcionamento", emenda. Antes de tudo, ensina ele, o consumidor deve se perguntar se não está usando o crédito simplesmente porque decidiu comprar. Se este for o caso, ele deve se inteirar do Custo Efetivo Total do financiamento, que nada mais é do que a taxa que abarca todos os encargos envolvidos nesta operação. Confrontando a diferença de preços, fica mais fácil saber quando a atitude de dividir no cheque, por exemplo, é antes um hábito de consumo do que uma estratégia realmente inteligente.


2. Rotativo do cartão

Em geral, o começo do mês é sinônimo de bonança para grande parte dos assalariados. O dinheiro entra na conta e os gastos já começam a se multiplicar. Quando o orçamento já não comporta novas aquisições, o cartão de crédito logo parece a tábua da salvação. Mas ele facilmente vira algoz quando os consumidores optam pelo pagamento mínimo da fatura. "O sujeito usa o limite do cartão como complemento da renda. No fim das contas, ele gasta como se ganhasse o dobro e simplesmente não tem como pagar a conta", afirma Geraldo Tardin, do Ibedec. Arcando com os juros mais caros do mercado, é certo que este usuário caminhará na corda bamba do superendividamento. Clique aqui e entenda a fundo esse risco.

A dica é simples: só use o dinheiro de plástico quando você tiver certeza que conseguirá liquidar a conta na íntegra. Ao optar pelo pagamento mínimo, o restante da fatura automaticamente entrará no crédito rotativo, com juros médios de 238% ao ano. O altíssimo percentual supera, com folga, a taxa registrada pelo cheque especial (138%), empréstimo pessoal (76%) e CDC (34%). Quando quiser financiar um produto, solicite a operação na própria loja. Os estabelecimentos dividem as compras em parcelas cada vez mais esparsas e você se livrará dos juros extraordinários ao pagar a fatura em dia.

Donizét Píton, presidente do Andif (Instituto Nacional de Defesa dos Consumidores do Sistema Financeiro), aconselha, inclusive, que os consumidores que têm dificuldade para voltar para casa de sacolas vazias deixem o plástico em casa. "O cartão é um empréstimo em potencial que já fica no bolso. Quem não tem meios de concretizar a compra, controla seus impulsos e pensa melhor antes de voltar ao estabelecimento", diz.

3. Falta de planejamento financeiro

Poupar é um verbo que passa longe do vocabulário financeiro de grande parte da população. Há quem gaste absolutamente tudo o que recebe. Ainda mais grave, existem aqueles que desembolsam o que não têm. Para Adalberto Savioli, presidente da Acrefi (Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento), o que motiva esse comportamento é a falta de planejamento. "As pessoas deveriam agir como as empresas. Para registrar algum lucro, elas necessariamente controlam o fluxo de caixa para saber quanto entra e quanto sai", afirma.

Seja com uma planilha digital ou um simples caderninho, registre todos os gastos efetuados no mês para ter uma noção precisa do montante destinado a cada tipo de despesa. O consumismo é naturalmente evitado quando você sabe por onde o dinheiro escoa. Estabelecer objetivos de curto, médio e longo prazo também ajuda a barrar a vontade gratuita de gastar. Afinal, vale a pena comprar um sapato e comprometer o reforço que iria para a viagem de fim de ano? Mantendo o orçamento na linha, você enxerga os excessos e, mais importante, aprende a limá-los. Medidas simples como trocar os restaurantes pela comida caseira ou as sessões de cinema pela locadora podem fazer toda a diferença no saldo bancário.


4. Reviravoltas inesperadas

Embora mudem de intensidade e causem conseqüências distintas, as causas mais comuns para a redução súbita do orçamento costumam envolver demissão, divórcio e inesperadas despesas médicas. Especialistas recomendam que seja qual for a situação, é importante encarar de frente a nova realidade e readequar-se a ela. Se a remuneração aumenta, o consumidor naturalmente modifica - e sofistica - seus hábitos. O inverso, entretanto, não ocorre com a mesma facilidade. Mas não adianta manter o mesmo padrão se quem banca essa investida são os bancos e financeiras. Você certamente será tragado por uma espiral de dívidas e terá muita dificuldade em se livrar delas.

Para evitar que eventos assim arruínem as finanças, é importante formar um colchão para imprevistos. "Você nunca sabe quando a situação vai apertar e por isso é necessário ser previdente", aconselha Donizét Píton, do Andif. "Comece guardando 10% do que você ganha todos os meses. Ao fim de um ano, você terá um 14º ainda mais robusto". Idealmente, um pé-de-meia seguro corresponde à soma de três a seis salários recebidos. Portanto, tenha esse objetivo em vista na hora de poupar. E lembre-se que a atitude pode impedir que qualquer fato novo e indesejável faça com que você acabe recorrendo ao crédito.

5. O fácil ao invés do barato

O cartão de crédito transporta o bem da vitrine para a sacola em questão de segundos. Não é preciso tirar dinheiro no caixa, passar as notas adiante e tampouco sentir na pele a diminuição do saldo em conta. Completada a transação, o plástico volta à carteira, pronto para ser utilizado mais uma vez. Da mesma forma, o cheque especial é um limite automaticamente incorporado à conta do usuário. Esta praticidade acaba tornando sua utilização bastante corriqueira. Fáceis e rápidas, estas linhas escondem a armadilha dos juros quando não são bem utilizadas. Enquanto o cartão cobra uma média de 10,6% ao mês, o cheque especial vem logo atrás com juros mensais de 7,5%.

Antes de recorrer a eles, pesquise as taxas que estão sendo cobradas em outras modalidades. O crédito consignado e a antecipação do 13º salário e da restituição do IR estão entre os empréstimos mais baratos disponíveis à pessoa física ( veja as taxas cobradas nessas linhas de crédito ). Para o presidente do Ibedec, Geraldo Tardin, a dica é priorizar o parcelamento apenas em casos como reforma de uma casa ou a compra de um terreno. E ainda assim, é preciso cuidado. "Apesar das baixas taxas do consignado, temos consumidores que não avaliam que terão a renda encolhida em até 30% durante o prazo do financiamento. Nesse tempo, a inflação vai corroer os outros 70% do salário, que não sobe na mesma proporção dos preços do mercado. Ao fim do empréstimo, esta pessoa pode estar vivendo com 50% da renda”, alerta. Antes de optar por uma modalidade de crédito, avalie qual é a melhor opção para satisfazer sua vontade (ou resolver o seu problema). E conheça os prós e contras envolvidos nessa escolha.


6. Tentação do consumo

Reconhecimento social e modismo também estão por trás das causas que levam o consumidor a se endividar. A resposta para a irrefreável vontade de comprar passa, para algumas pessoas, pela necessidade de ser aceito. O polêmico psicólogo Geoffrey Miller, autor do livro "Spent: Sex, Evolution and Consumer Behavior" (ou "Gasto: Sexo, Evolução e Comportamento do Consumidor"), afirma que "o marketing é a força mais dominante da cultura humana". Para o norte-americano, é difícil fugir deste apelo por um instinto natural: BMWs, roupas de grife e gadgets de última geração funcionam como a cauda de um pavão no mundo animal. São meios de promovermos virtudes biológicas geneticamente importantes na perpetuação da espécie, como saúde, fertilidade e beleza. Miller também defende que boa parte do prazer oferecido pelos produtos vem da percepção inconsciente que eles denunciam traços da nossa personalidade, como estabilidade e extroversão. Os jovens, por exemplo, se preocupam mais com o que está na moda porque procuraram comprar aquilo que acuse com fidelidade quais são seus gostos, qualidades e preferências.

Segundo Rafael Porto, professor da Universidade de Brasília e integrante do Consuma (grupo de estudos de psicologia social do consumidor), a importância que atribuímos aos produtos combina os benefícios práticos e simbólicos que eles nos entregam. Em geral, quanto mais caro for um item, mais pesarão os atributos intangíveis. Não por menos, as propagandas de carros  invariavelmente fazem sucesso mesmo sem informar a potência do motor ou o preço do veículo. O que está em jogo é a venda de uma sensação ou estilo de vida. "Geralmente, o crédito é usado para a compra de produtos mais caros e é exatamente para eles que o benefício simbólico pesa mais", afirma.

Portanto, entre necessidade e vontade, vale recorrer à razão para avaliar se um vestido caro ou um automóvel top de linha realmente são indispensáveis ou apenas alardeiam um poder de compra que não necessariamente encontra correspondência na sua conta bancária. "O marketing publicitário faz você sonhar com coisas que não imaginava e o crédito fácil faz você comprar com dinheiro que não tem", emenda o educador financeiro Reinaldo Domingos.

7. Ciranda das dívidas

Quem está endividado e optou sabiamente por trocar uma dívida cara por outra mais barata, não deve achar que o problema terminou ali. Marcelo Segredo, diretor da ABC (Associação Brasileira do Consumidor), alerta que esse indivíduo deve abandonar hábitos antigos e não contrair empréstimos por outros lados. "É preciso trabalhar a raiz do problema", afirma. Portanto, faça um check-up das suas finanças e coloque o pé no freio quando for às compras. "Não adianta ficar renegociando se não houver mudança de comportamento. Se você adquiriu um consignado para liquidar a dívida do cartão, não volte a usar o dinheiro de plástico pagando apenas a parcela mínima. Do contrário, terá trocado a primeira dívida por outra mais barata, mas voltará a dever dali a pouco", reforça.

Segredo ensina ainda que os descontos para quem resolve liquidar as pendências de uma vez só podem chegar a 40%. Com o dinheiro em mãos, vale contatar o banco ou financeira antes de honrar os compromissos. "Mas isso só vale a pena para quem se reeducou financeiramente, colocou o orçamento em dia e descobriu onde está gastando demais", ressalva. "Ainda sou da opinião que a consciência deve estar no pagamento com o que se ganha, e não fazendo mais dívidas." Clique aqui para saber como renegociar as pendências e limpar o nome na praça.


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