Minhas Finanças

7 ações nada óbvias que vão brilhar no longo prazo

Quatro gestores de valor recomendam os investimentos com mais potencial do momento

A Guararapes, dona da Riachuelo, é uma das preferidas da Perfin Investimentos (Divulgação)

A Guararapes, dona da Riachuelo, é uma das preferidas da Perfin Investimentos (Divulgação)

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Da Redação

Publicado em 25 de outubro de 2012 às 15h55.

São Paulo – No 5º Congresso Value Investing Brasil, realizado nesta semana, quatro gestores indicaram sete ações como “investment picks”, os melhores investimentos do momento. Apenas dois dos papéis estão entre os mais conhecidos, sendo quatro deles small caps (de menor valor de mercado e menor liquidez), o que vai ao encontro da filosofia dos investidores de valor.

Esses gestores procuram ações descontadas – seja devido a problemas aparentes ou que possam ser contornados, seja porque o mercado ainda não conseguiu precificar os pontos fortes da empresa. Assim, assume-se que essas ações têm grande potencial de valorização, normalmente no longo prazo. Gestores de fundos de valor costumam, inclusive, se manter bem próximos à gestão da empresa em que investem.

Veja abaixo as sete recomendações das gestoras GTI Administração de Recursos, Claritas, Perfin Investimentos e Gávea Investimentos.

Cosan: sair do foco principal é bom

Desempenho da ação em 12 meses (CSAN3): +32,0%

A Cosan é a principal empresa do portfólio da Perfin Investimentos. A produtora de açúcar e etanol que vem se expandindo para outros setores, como infraestrutura e logística, é vista com bons olhos pela gestora, que considera bem-sucedida a transição da empresa do foco em apenas um para vários ramos de negócio. “Dificilmente se enxergam grandes grupos que consigam fazer bem uma transição desse tipo”, diz Ralph Gustavo Rosenberg, sócio-fundador da Perfin, responsável pela gestão de fundos de renda variável.

O movimento de aquisições da Cosan, iniciado há quatro anos, vem afastando o foco da companhia de seu negócio principal e voltando-a para outras áreas estratégicas, como alimentos, cogeração de energia, lubrificantes, gestão de terras, distribuição de combustíveis e, mais recentemente, distribuição de gás e logística. “Após a compra da Comgás, menos de 25% da geração de caixa da empresa virá de açúcar e etanol”, diz Rosenberg, que acredita que a Cosan trabalha bem o mix terras próprias, terras de terceiros, cogeração, aproveitando sua atuação em logística para tornar sua produção mais eficiente.

Nem o temor do mercado pelo aumento do endividamento da Cosan, nem o mal-estar gerado entre os acionistas minoritários pela manobra que garantiria o controle para o presidente Rubens Ometto fizeram as aquisições da Cosan serem mal vistas pela Perfin. “Vários grupos grandes no passado tiveram problemas de governança, mas a Cosan tende a melhorar substancialmente nesse aspecto. O minoritário não foi prejudicado financeiramente”, acredita Rosenberg.

Ele pontua que a transmissão da presidência executiva de Ometto para um grupo de executivos (Ometto é apenas presidente do conselho agora) já foi um passo bastante importante, e que há mais espaço para a governança melhorar. “Há chances de voltar a ter apenas uma classe de ações neste ano”, diz o sócio da Perfin. Para a gestora, “faz todo sentido estar posicionado em infraestrutura e energia limpa no atual momento econômico”. Além disso, a Cosan teria bom potencial de consolidação dos mercados em que atua.

ALL – Para a Perfin, a compra da fatia na empresa de logística ALL poderia gerar frutos para a Cosan não só para a sua própria produção, como também indiretamente por meio de outras commodities, que se aproveitam da infraestrutura. O escoamento da safra de soja, por exemplo, poderia gerar um bom ganho para a Cosan.


Comgás – A compra da Comgás fez com que a Cosan, que já atuava em todas as etapas de sua cadeia produtiva, passasse a atuar num segmento complementar. De acordo com Rosenberg, a aquisição foi importante para a diversificação e geração de caixa mais estável para a empresa.

Klabin: Novo Mercado em breve

Desempenho da ação preferencial em 12 meses (KLBN4): +62,0%
Desempenho da ação ordinária em 12 meses (KLBN3): +30,0%

A ação da Klabin é um dos destaques para a Gávea Investimentos, que acredita numa valorização de 20% a 25% dos papéis neste ano e até em um ingresso da companhia no Novo Mercado, nível mais alto de governança corporativa da Bovespa, nos próximos dois anos. A gestora do ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga destaca ainda o projeto de expansão da Klabin, assim como as melhorias gradativas na governança corporativa.

Entre os pontos fortes, o gestor de renda variável da Gávea Thomas de Mello e Souza listou o fato de a empresa ser a maior produtora de papel de embalagem da América Latina, ser grande proprietária de terras – ativo imobiliário com potencial de valorização –, ter boa geração de caixa, ter tradição e ser dona de um balanço sólido. Além, é claro, das melhorias em governança.

“A Klabin teve mais de cem anos de gestão complicada, que dificultou novos investimentos. Mas isso tudo mudou no fim de 2010, com a entrada de uma nova administração, respeitada, com apoio da família controladora”, diz Souza, referindo-se à equipe liderada pelo atual presidente, Fábio Schwartzman.

A gestora aguarda mais melhorias ainda na governança, o que poderia levá-la ao Novo Mercado em breve, com unificação das classes de ações, melhora de liquidez e uma remuneração igualitária para os acionistas.

Em relação ao projeto de expansão, Souza acredita que o projeto de uma fábrica de celulose para abastecimento próprio e as medidas de redução de custos, que já apontam resultados, são bons incentivadores para um desempenho positivo da ação pelos próximos dois anos. “O mercado ainda não enxerga a expansão de maneira apropriada. Ela vai desencadear uma alta no valor da ação consistente e sustentável”, diz o gestor.

Brasil Insurance: nadando de braçada

Desempenho da ação nos últimos 12 meses (BRIN3): +13,0%

A empresa formada por mais de 40 corretoras de seguros, que abriu seu capital no fim de 2010, é uma das top picks da Claritas. Segundo a gestora, o setor de seguros ainda é muito pulverizado e tem grande potencial de crescimento, o que confere à Brasil Insurance uma vantagem para “nadar de braçada”, por ser a maior corretora do país atualmente.


O sócio-diretor e responsável pela estratégia com ações da Claritas, Helder Rodrigues da Cunha Soares, diz ser reticente em relação a empresas que se formam apenas por aquisições, uma vez que a sinergia nem sempre se materializa. “Mas na Brasil Insurance, o processo tem gerado muito valor. As corretoras compradas eram muito pequenas, mas operam com corretagem baixa. A empresa tem muita economia de escala”, diz Soares.

Outro fator que poderia contribuir para uma imagem negativa da empresa, mas que foi, de fato, positivo para a Brasil Insurance é o fato de ela ter sido controlada por um fundo de private equity. “Já houve maus exemplos de empresas controladas por fundos de private equity, mas nós vemos o caso da Brasil Insurance como oportunidade. Existem grandes corretoras internacionais com muito caixa e interesse em aumentar a presença no Brasil, o que torna a empresa vendável”, explica Soares.

O gestor destaca ainda o fato de a companhia ser boa geradora de caixa e ter começado a pagar dividendos. De acordo com Helder Soares, o múltiplo Preço/Lucro, hoje em 13, tem potencial para chegar a 25 ainda em 2012. Quanto menor o indicador, mais descontado está o preço da ação.

Guararapes: raro potencial no varejo de moda

Desempenho da ação preferencial em 12 meses (GUAR4): +2,0%
Desempenho da ação ordinária em 12 meses (GUAR3): +3,0%

“Nós gostamos do setor de varejo têxtil. O problema é que não somos só nós que gostamos”, brinca Ralph Gustavo Rosenberg, da Perfin. “É difícil achar uma relação risco-retorno interessante no setor, isto é, empresas que não estejam precificando seu potencial”, continua, para em seguida apresentar uma das empresas preferidas da Perfin: a Guararapes, dona da rede de lojas Riachuelo, de um shopping no Rio Grande do Norte, entre outras marcas.

De acordo com Rosenberg, a Guararapes é a única empresa do setor que é totalmente integrada, com suas seis plantas e três centros de distribuição. Isso lhes confere uma clara vantagem competitiva: a mercadoria leva metade do tempo para chegar à loja, em relação a concorrentes como Renner ou Marisa. “Isso é importante no segmento de fast fashion”, diz o sócio-fundador da Perfin.

Além disso, diz Rosenberg, a Guararapes vem fazendo o retrofit de algumas lojas, o que deve se traduzir em melhores resultados, e investe bastante em controle de estoques e na efetividade das vendas. Existe ainda um bom potencial de crescimento em uma de suas marcas, a Pool, que segundo o gestor poderia vir a ser um modelo de franquia nos moldes da Hering.

Ainda de acordo com Rosenberg, o múltiplo P/L atual da Guararapes é de 11,5. No fim do ano passado, era de 14,43, frente a um P/L de 21,09 das Lojas Renner e de 25,42 da Marisa. Quanto menor essa relação, mais descontada está a ação.

Entre os pontos fracos da Guararapes estão o fato de a empresa atuar no ramo financeiro concentrando os processos internamente. “Ela deveria buscar um parceiro, já que o core business não é financeiro”, diz Rosenberg. Porém, um dos pontos principais para as ações estarem descontadas, diz o gestor, é a concentração de 85% do capital da empresa nas mãos da família controladora, o que leva as ações a terem baixa liquidez.


Em relação à competição, Rosenberg acredita que seja difícil, para os estrangeiros que desejam investir no setor de varejo de moda no país, acertar a coleção para as diferentes regiões, o que dá uma vantagem para as empresas nacionais. Além disso, a parceria da Riachuelo com estilistas renomados estaria contribuindo positivamente para a empresa, embora ainda isso ainda não esteja precificado.

MMX TPR: baixo risco

Desempenho do título em 12 meses (MMXM11): +29,5%

O outro ativo indicado pela Claritas não é exatamente uma ação. É um Título de Remuneração Variável Baseado em Royalties da MMX, empresa de mineração de Eike Batista, negociado em Bolsa sob o código MMXM11. O título é avaliado pela gestora como se fosse uma empresa. “Estamos entrando em uma era de taxa de juros global muito baixa, o que já está chegando ao Brasil. A busca por ativos que gerem renda vai continuar”, justifica Helder Rodrigues da Cunha Soares, sócio-diretor da Claritas.

O título dá ao seu detentor o direito de receber cinco dólares por tonelada de minério de ferro embarcada no Superporto Sudeste, a ser inaugurado em Itaguaí, no estado do Rio. O ativo foi uma das formas de compensação aos minoritários da PortX quando a MMX comprou o controle da empresa portuária do grupo EBX.

Para a Claritas, o título tem uma série de vantagens. Uma delas é o fato de o Superporto Sudeste já ter licença para receber 50 milhões de toneladas de minério de ferro por ano, o que de cara significa um potencial de remuneração de 250 milhões de dólares aos investidores, o equivalente a um dividend yield em dólar de 14%. A capacidade do porto, porém, deve chegar a 100 milhões de toneladas de minério por ano. A obra também não deve atrasar muito. “Era para ficar pronto no terceiro trimestre deste ano, mas deve ser inaugurado no segundo trimestre do ano que vem”, diz Helder Soares.

Até agora, já há contratos assinados que garantem o uso de 60% da capacidade do porto, o que já garante um dividend yield de algo entre 6,5% ou 7,0%. “Mas boa parte do porto deve será utilizada. Empresas como Usiminas e Gerdau, por exemplo, podem ter acordos de mais longo prazo”, observa Soares. Porém, o maior usuário do Superporto Sudeste será mesmo a MMX. O potencial de valorização o título pode chegar a 100%, com risco relativamente baixo.

Heringer: condições de atender à demanda

Desempenho da ação em 12 meses (FHER3): +27,0%

A fabricante de fertilizantes é a top pick da GTI Administração de Recursos, que se baseia no potencial da agricultura brasileira. “Depois de ter performando quase 200%, a ação continua barata e com risco operacional baixo”, diz André Gordon, sócio-fundador da GTI. Tendo chegado ao mercado há cinco anos, a empresa pegou um momento turbulento da economia, mas mesmo assim cresceu quase quatro vezes acima de média de mercado.


Entre seus pontos fortes, Gordon destaca, por exemplo, o fato de o Brasil ainda ter potencial para expandir a ocupação do solo agricultável, ter boas condições naturais para a agricultura e ser muito competitivo no mercado de commodities agrícolas, notadamente produtos como café, soja e laranja. Além disso, a demanda por alimentos no mundo continua em expansão, principalmente nos países emergentes. A não utilização total do potencial agrícola brasileiro leva os solos ocupados se desgastam com mais facilidade, o que pressiona a demanda por fertilizantes.

Para a gestora, a Heringer está muito bem colocada para atender a esse mercado, atendendo a mais de 50.000 clientes, com grande capilaridade e investimento no desenvolvimento de novos produtos. O fato de existir um preço internacional de commodities também reduz o risco dos fornecedores.

Com participação de 18% no mercado de fertilizantes, a Heringer deve ao menos preservar seu share e crescer com o mercado de agricultura, prevê Gordon. Isso se não for adquirida por outra grande empresa, como a Vale Fertilizantes ou uma companhia estrangeira.

Entre os pontos aparentemente fracos, Gordon cita o alto endividamento da companhia, que não necessariamente é um mau sinal, diz ele. A Heringer tem 600 milhões de reais em valor de mercado e uma dívida líquida mais ou menos da mesma proporção. Mas, segundo o sócio da GTI, essa dívida é majoritariamente de curto prazo, ligada a capital de giro. Segundo ele, um benefício fiscal obtido no ano passado permitirá a empresa abater um terço de suas debêntures, o que contribui para a margem de segurança.

Autometal: foco no retorno financeiro

Desempenho da ação em 12 meses (AUTM3): -6,0%

A Gávea Investimentos também recomenda a Autometal, fabricante de autopeças controlada pelo grupo espanhol CIE Automotive e que abriu seu capital no ano passado. “O setor de autopeças é fragmentado, e a Autometal está comprimida entre grandes fornecedores e compradores. Além disso, pode parecer loucura gostar de uma empresa com controlador espanhol hoje em dia”, diz Thomas de Mello e Souza, gestor de renda variável da Gávea.

De acordo com ele, a empresa vem crescendo por meio de aquisições e atualmente fornece mais de 100.000 produtos para mais de 100 diferentes plataformas de veículos, tanto no Brasil quanto no México. O retorno sobre capital empregado beira os 20% e sua margem Ebitda é superior à do restante do setor. “A gestão da empresa é bastante focada no retorno financeiro”, diz Souza.

A companhia tem 250 milhões de reais em caixa e um enorme potencial de consolidação do setor, que se concretizará caso consiga executar seu plano de aquisição. “A produção de veículos deve crescer a taxas menores, mas a empresa ainda tem espaço para crescer. Tem valor atrativo, balanço forte, e é gerida para oferecer retornos elevados para o acionista. Só está em um setor em que a percepção é muito ruim”, arremata Souza.

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