Evento de estreia das ações da ClearSale na B3 | Foto: Cauê Diniz/Divulgação (Cauê Diniz/Divulgação)
Bloomberg
Publicado em 4 de agosto de 2021 às 13h23.
Última atualização em 4 de agosto de 2021 às 13h36.
Ainda faltam quase cinco meses para 2021 acabar, mas as ofertas públicas iniciais de ações de empresas brasileiras já estão em seu melhor ano de todos os tempos.
Os IPOs de companhias brasileiras já levantaram mais de R$ 57 bilhões até agora neste ano, de acordo com dados compilados pela Bloomberg, com os juros baixos levando os investidores a alternativas mais arriscadas em busca de maior retorno. A contagem em 2021 supera o recorde anterior de R$ 53,6 bilhões em 2007, quando 60 empresas abriram o capital.
A Raízen, uma joint-venture entre a Royal Dutch Shell e a Cosan, definiu o preço de sua ação na oferta pública a R$ 7,40 nesta terça-feira, no piso da faixa indicativa, e as ações começarão a ser negociadas na quinta-feira, no maior IPO da América Latina no ano.
As taxas de juros historicamente baixas levaram a um “rebalanceamento significativo de carteira para uma exposição crescente às ações em vez de outras classes de ativos”, disse Ricardo Bellissi, co-diretor da área de banco de investimentos do Goldman Sachs Brasil. “Perspectivas de retomada da atividade econômica após a significativa contração decorrente do Covid também têm sido um fator importante.”
O volume de IPOs brasileiros aumentou mais de 400% neste ano até o começo de agosto em relação ao mesmo período de 2020, em comparação com um aumento de 110% para empresas sediadas nos EUA, mostram dados da Bloomberg. Esses dados excluem SPACs, os veículos de propósito específico para aquisições e investimentos.
O fortalecimento da indústria local de gestão de recursos também ajuda a explicar o aumento da venda de ações, com os fundos brasileiros assumindo um protagonismo maior no mercado de IPOs, de acordo com Cristiano Guimarães, diretor executivo de banco global corporativo e de investimento do Itaú BBA, que ficou em primeiro lugar entre os bancos coordenadores de IPOs de empresas brasileiras até agora neste ano, segundo dados compilados pela Bloomberg.
“Era impossível vender um IPO no Brasil sem a presença de estrangeiros” em 2007, disse Guimarães.
Os fundos de ações do Brasil tinham cerca de R$ 700 bilhões sob gestão em junho, em comparação com os R$ 170 bilhões no fim de 2007, de acordo com a Anbima, a associação do mercado de capitais local. Os fundos multimercado, que também podem investir em ações, passaram de R$ 276 bilhões para cerca de R$ 1,6 trilhão no mesmo período, registrando ingressos recorde.
Apesar dos ventos favoráveis, algumas empresas tiveram que fixar preços de suas ações abaixo da faixa indicativa proposta na oferta -- como o marketplace de serviços GetNinjas e a Companhia Brasileira de Alumínio -- ou optaram por adiar suas transações -- como a unidade da InterCement no Brasil.
O ciclo de alta de juros do Brasil testará o apetite pelos novos entrantes. O Banco Central se reúne na quarta-feira e deve fazer sua maior alta de juros desde 2003 em meio ao aumento da inflação.
O calendário eleitoral também deve trazer mais volatilidade aos mercados à medida que a corrida presidencial de 2022 se aproxima, de acordo com Bellissi, do Goldman.
Enquanto isso, mais de 20 empresas brasileiras estão na fila para abrir o capital, com a Oncoclínicas, uma prestadora de assistência médica de propriedade do Goldman Sachs, que planeja definir o preço de seu IPO na sexta-feira. O Nubank, que conta com a Berkshire Hathaway de Warren Buffett como um de seu sócios, também tem planos de abrir o capital nos próximos trimestres.
Há um “pool significativo de capital” a ser alocado e uma ampla gama de empresas emergindo da pandemia com estratégias voltadas para o crescimento, disse Bellissi.
“Esperamos que esse ritmo forte continue”, disse ele.