Mercados

Tesouro acelera oferta de NTN-B mesmo com disparada da inflação

A maior quantidade de títulos públicos colocados no mercado sinaliza que as autoridades estão confiantes que a alta dos preços ao consumidor perderá força

Arno Augustin, secretário do Tesouro Nacional: as NTN-B responderam por 23% do total de ofertas em abril, contra 16% no mês anterior  (Marcello Casal Jr./AGÊNCIA BRASIL)

Arno Augustin, secretário do Tesouro Nacional: as NTN-B responderam por 23% do total de ofertas em abril, contra 16% no mês anterior (Marcello Casal Jr./AGÊNCIA BRASIL)

DR

Da Redação

Publicado em 5 de maio de 2011 às 12h31.

Nova York e São Paulo - O governo está conseguindo colocar no mercado a maior quantidade de títulos públicos atrelados à inflação em sete meses. Esse aumento sinaliza para os operadores do mercado de renda fixa que as autoridades estão confiantes que a alta dos preços ao consumidor vai perder força.

O Tesouro leiloou em abril R$ 9,8 bilhões em Notas do Tesouro Nacional série B, a maior quantia desde os R$ 11,1 bilhões de setembro. As NTN-B responderam por 23 por cento do total de ofertas, contra 16 por cento em março.

A ampliação dos leilões sugere que o governo acredita que a inflação, hoje no maior nível em dois anos, vai recuar e, com isso, baixar o custo de pagamento dessa dívida, disse Kieran Curtis, gestor de carteira da Aviva Investors em Londres. Economistas preveem que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística vai divulgar amanhã que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo subiu 6,6 por cento nos 12 meses até o fim de abril, rompendo o teto da meta do governo pela primeira vez desde 2005, de acordo com a mediana de 31 estimativas em uma pesquisa da Bloomberg.

“Se eles acreditam que podem seguir o regime de metas de inflação, os títulos atrelados à inflação seriam uma forma barata de captar dinheiro, na comparação com os prefixados”, disse Curtis, que ajuda a administrar cerca de US$ 2 bilhões em dívida de mercados emergentes na Aviva, divisão da segunda maior seguradora do Reino Unido. “Já vimos muito aperto monetário e vamos ver ainda mais. Isso vai desacelerar o crescimento e a inflação.”

Países em desenvolvimento, incluindo Índia e Colômbia, estão reforçando o combate à inflação, que é impulsionada por uma alta de 18 por cento nos alimentos e petróleo nos últimos cinco meses. O Banco Central elevou a taxa Selic em 3,25 ponto percentual, ou 325 pontos-base, desde março de 2010 para 12 por cento, numa tentativa de segurar a inflação, que atingiu 6,3 por cento nos 12 meses até março, a maior taxa anual desde novembro de 2008.


Corte de gastos

O Copom vai subir a Selic pelo “tempo que for necessário” para trazer a inflação no ano que vem para o centro da meta de 4,5 por cento, disse o presidente do BC, Alexandre Tombini, em entrevista à GloboNews em 3 de maio.

A Presidente Dilma Rousseff também cortou o gasto público em R$ 50,7 bilhões, dois meses após assumir o cargo em janeiro, para tentar frear a economia e segurar a inflação. O governo projeta que a maior economia da América Latina vai se expandir 4,5 por cento este ano, após um crescimento de 7,5 por cento em 2010, o mais forte em mais de duas décadas.

As NTN-B, que pagam aos investidores cupom de 6 por cento mais a variação do IPCA, tiveram desempenho pior do que os papéis prefixados no último mês em parte porque as ofertas superaram a demanda, segundo Igor Arsenin, estrategista do Credit Suisse AG. O rendimento das NTN-B com vencimento em maio de 2013 subiu 36 pontos-base, ou 0,36 ponto percentual, para 6,57 por cento nos últimos 30 dias, enquanto o rendimento das Notas do Tesouro Nacional da série F de prazo similar ficou inalterado em 12,79 por cento.

Spread menor

A diferença entre os rendimentos dos dois papeis, que reflete a expectativa dos investidores para a inflação, caiu para 615 pontos-base em 28 de abril, a menor desde dezembro. A taxa implícita de inflação estava em 656 em 1º de abril.

O governo ampliou a oferta de NTN-B para ajudar a reduzir o spread sobre os prefixados e reverter as expectativas de inflação, segundo Guilherme Figueiredo, que ajuda a supervisionar US$ 1,5 bilhão como diretor da M. Safra & Co. em São Paulo.

“Quanto mais desse papel eles venderem, menor será a taxa implícita de inflação”, disse Figueiredo em entrevista por telefone. “Isso ajuda um pouco as expectativas de inflação. Eles vão continuar a vender. É do interesse deles.”
O Tesouro não quis fazer comentários, de acordo com nota enviada por e-mail.

Acompanhe tudo sobre:InflaçãoMercado financeiroTesouro NacionalTítulos públicos

Mais de Mercados

“Continuamos acreditando que o governo vai fazer o certo”, diz CEO do Santander

Ibovespa opera em alta com ajuda de Petrobras (PETR4)

Balanço do Santander, PMI dos EUA e da zona do euro, Tesla e Campos Neto: o que move o mercado

Santander Brasil tem alta de 44,3% no lucro, que vai a R$ 3,3 bilhões no 2º tri

Mais na Exame