(Michaela Rehle/Reuters)
Marcelo Sakate
Publicado em 20 de outubro de 2020 às 06h00.
Última atualização em 20 de outubro de 2020 às 20h46.
A morte do cigarro tem sido prenunciada há décadas. Em tempos de valorização de ativos associados aos princípios ESG (Ambiental, Social e Governança, da sigla em inglês), empresas que fabricam cigarros estariam ainda mais passíveis à derrocada, dada a sua relação com o vício e doenças em milhões de pessoas no mundo. Mas não é exatamente isso o que está acontecendo. E uma prova da resiliência deve ser conhecida nesta manhã de terça, 20, com os resultados da Philip Morris, a fabricante do Marlboro.
A expectativa de analistas é que a Philip Morris divulgue um lucro por ação de 1,36 dólar, com faturamento de 7,28 bilhões de dólares, no terceiro trimestre. Se confirmado, será um avanço em relação ao lucro de 1,29 dólar no trimestre anterior, quando o resultado superou as expectativas do mercado. Na ocasião, a empresa americana anunciou uma projeção (o guidance) para o ano inteiro acima do esperado pelo mercado.
As ações da companhia acumulam queda de 8,5% em 2020, mas subiram 30% desde o fundo do poço na pandemia no fim de março. As ações encerraram a segunda-feira, 19, negociadas a 77,84 dólares, mas o preço-alvo de 19 analistas consultados pela FactSet é de 90,24 dólares, com 16 recomendações de compra ou ordem equivalente.
Não que as vendas de cigarros tenham crescido na pandemia porque os fumantes estão mais estressados e cederam à dependência química. A comercialização recuaram 17,6% no segundo trimestre. Mas as vendas de tabaco aquecido saltaram 24,3% no período, em uma sinalização da bem-sucedida estratégia de estimular que fumantes troquem o cigarro tradicional pelo substituto conhecido como IQOS.
Em vez da combustão da nicotina, considerada a grande vilã pelos males causados ao pulmão -- e hoje reconhecidos em larga escala pela indústria do tabaco --, o IQOS aquece o insumo e gera um vapor que seria pouco nocivo para quem utiliza o produto. A agência federal americana responsável pela autorização de medicamentos e também cigarros, o FDA, aprovou o produto para consumo há um ano.
Analistas e investidores esperam que a Philip Morris continue a mostrar a resiliência já revelada no segundo trimestre, o que seria uma mensagem mais importante para a tese de investimento secular do que um não aguardado aumento das vendas. No período, a fabricante americana divulgou que a base de usuários do cigarro alternativo (o IQOS) chegou a 15,4 milhões de pessoas, das quais 11,2 milhões foram fumantes de cigarros tradicionais convertidos para os novos produtos. Mostra um potencial de público cativo.
Investimento secular é aquele que perdura por gerações, atravessando décadas sem perder a performance. Ainda que o cigarro tradicional já tenha sua morte decretada pelos próprios fabricantes, a indústria do tabaco quer provar que tem longa jornada pela frente.