Argentina: tombo segue o resultado chocante da eleição primária de domingo (John W. Banagan/Getty Images)
Agência de notícias
Publicado em 16 de agosto de 2023 às 11h02.
Quando a Argentina reestruturou US$ 65 bilhões de dívidas há três anos, não demorou muito para os investidores começarem a apostar que o próximo calote estava a caminha. Esta semana, eles tiveram uma ideia melhor de com quem provavelmente terão de negociar quando chegar a hora, e não se sentiram nem um pouco tranquilizados.
À medida que o mercado se prepara para o que pode vir a ser a quarta renegociação de dívida do país em duas décadas, os títulos externos afundaram para uma mínima de dois meses. O tombo segue o resultado chocante da eleição primária de domingo, que mostrou que o candidato presidencial preferido dos argentinos é um economista libertário com propostas radicais para dolarizar a economia e tirar a Argentina de sua crise econômica interminável.
Javier Milei, o congressita que conquistou um terço dos votos no pleito para definir os candidatos que concorrerão à presidência em outubro, é um frequentemene comparado a Donald Trump e Jair Bolsonaro. Embora ele tenha falado muito pouco sobre o problema da dívida da Argentina ou a relação do país com os credores, os investidores estão preocupados com as implicações de negociar com um populista pouco conhecido quando a quase inevitável reestruturação chegar.
“Se ele eventualmente se tornar presidente, não está claro quais propostas políticas ele poderá implementar, visto que provavelmente enfrentará oposição significativa no Congresso” disse Jared Lou, gestor de portfólio da William Blair.
A votação de domingo provocou uma derrocada nos títulos externos do país, que caíram para menos de 30 cents por dólar. O governo também desvalorizou o peso no mesmo dia, uma medida que o mercado vinha pedindo há muito tempo, mas mesmo assim veio em um momento inesperado.
Em Wall Street, casas desde Credit Suisse a Wells Fargo agora preveem Milei como o favorito para assumir a presidência em dezembro.
“Com base na longa história de inadimplência e reestruturações de dívida do país, não consideramos os títulos soberanos argentinos adequados para uma estratégia de investimento mantida até o vencimento, mas apenas para investidores com alto apetite por risco”, disse Alejo Czerwonko, diretor de investimentos para mercados emergentes nas Américas do UBS em Nova York. “Também alertamos contra alocações consideráveis em carteiras de investimento.”
Como sinaliza Czerwonko, os problemas da dívida não devem surpreender os investidores de longa data na Argentina, que se preparam para o 10º default desde o momento em que o país saiu do nono. Depois que os gestores obtiveram cerca de 55 cents por dólar na última reestruturação, os títulos caíram quase imediatamente para menos de 40 cents, um sinal de que os investidores já esperavam outro calote.