ESG

Queimadas na Amazônia e no Pantanal têm impactos na alta do dólar?

Pautas ambientais ganham força no mercado financeiro e ameaçam investimentos no país

Dólar: moeda americana acumula alta de 40% contra o real no ano (Antara Foto/Hafidz Mubarak/Reuters)

Dólar: moeda americana acumula alta de 40% contra o real no ano (Antara Foto/Hafidz Mubarak/Reuters)

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Guilherme Guilherme

Publicado em 23 de outubro de 2020 às 17h43.

Última atualização em 23 de outubro de 2020 às 21h17.

O aumento das queimadas segue em ritmo intenso no Brasil. Isso que é o mostram os dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Segundo dados do órgão, o número de focos de incêndio no Brasil está a ponto de ultrapassar todos os de 2019 inteiro e já supera em 48% os registrados em todo 2018. Somente no pantanal o volume de queimadas neste ano já é 1.139% maior do que os de dois anos atrás, enquanto na Amazônia, o número de focos está 31,11% superior. Você conhece as três letras que podem turbinar seus investimentos? Conheça a cobertura de ESG da EXAME Research.

Mas enquanto o tema segue sendo negligenciado pelo governo, as queimadas já provocam efeitos financeiros. Em meio à devastação do meio ambiente brasileiro, instituições financeiras com cerca de 3 trilhões de dólares sob gestão chegaram a alertar sobre a situação. Entre elas, estiveram gigantes como as gestoras Sumitomo Mitsui Trust, Legal & General e Storebrand.

Embora admita que um dos principais fatores para a alta do dólar seja a questão fiscal do país, o próprio presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, reforçou mais de uma vez a importância da questão ambiental para o fluxo de capital estrangeiro para o Brasil. Em entrevista recente à CNN, Campos Neto voltou a tocar no assunto. “O que começou a ficar mais aparente, e eu venho falando isso há um tempo, é que essa percepção em relação à tudo que é uma agenda de sustentabilidade, às vezes pela narrativa, às pelo que tinha acontecido, fato é que essa percepção estava fazendo com que os fluxos não estivessem voltando na mesma proporção que outros países emergentes.”

“Com certeza essa questão ambiental tem impacto no preço do dólar. Se não tem entrada de capital, o dólar fica pressionado na compra, sem liquidez na venda. Isso tem um impacto muito grande no curto prazo. O desmatamento afasta o investidor e tira qualquer pressão de queda para o dólar”, afirma Jefferson Laatus.

Ainda que incertezas sobre a economia global e a questão fiscal brasileira também tenham contribuído para a saída de dinheiro do país, os números são alarmantes. Somente da bolsa de valores, os investidores estrangeiros já retiraram 66 bilhões de reais, enquanto os investimentos diretos no país (IDP) no Brasil seguem parcos. Divulgado nesta sexta-feira, 23, pelo Banco Central o IDP de setembro foi o menor para o mês desde 2005, ficando em 1,6 bilhão de dólares. No acumulado de 2020, o IDP está cerca de 75% inferior ao do mesmo período do ano passado.

Com a filosofia de investimentos sustentáveis ganhando força no Brasil e no mundo, a tendência é que as questões ambientais se tornem ainda mais cruciais para a decisão de investimento. “Os governos que não colocarem a questão climática e sustentável na política comercial vão ter que mudar para alcançarem o crescimento de longo prazo”, afirmou a ex-embaixadora dos Estados Unidos no México, Roberta Jacobson em fórum recente organizado pela BlackRock.

Com a possibilidade de o candidato democrata Joe Biden sair vendedor das eleições americanas, os investimentos com base em fatores de sustentabilidade ganhem ainda mais força no mundo. Em seu primeiro debate contra o presidente Donald Trump, Biden chegou a dizer que ofereceria 20 bilhões de dólares ao Brasil para que o país parasse de destruir as florestas. “E se não parar, vocês vão ter consequências econômicas significativas”, afirmou. O presidente Jair Bolsonaro rebateu a declaração, acusando-a de “desastrosa e gratuita”. “O que alguns ainda não entenderam é que o Brasil mudou. Hoje, seu Presidente, diferentemente da esquerda, não mais aceita subornos, criminosas demarcações ou infundadas ameaças”, afirmou.

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