Previ: fundo de pensão com R$ 250 bi em ativos perde presidente
José Maurício Pereira Coelho renuncia ao comando do fundo de pensão dos funcionários do BB, cargo que ocupa há quase três anos e para o qual tinha ainda um ano de mandato
Marcelo Sakate
Publicado em 25 de maio de 2021 às 20h30.
Última atualização em 25 de maio de 2021 às 20h42.
A Previ, o maior fundo de pensão do país, com mais de 250 bilhões de reais em patrimônio, vai perder o seu presidente de forma inesperada. José Maurício Pereira Coelho anunciou a sua renúncia ao cargo que ocupa há quase três anos e cujo mandato só se encerraria em maio de 2022, com possibilidade de recondução. Ele ficará no comando da Previ , o fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil (BBAS3), até o próximo dia 11 de junho.
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Os motivos da sua saída não foram oficialmente revelados, mas comenta-se nos bastidores que são relacionados com a suposta decisão do novo presidente do Banco do Brasil, Fausto Ribeiro, de trocar o comando do fundo de pensão. Trata-se de uma prerrogativa do cargo.
Os dois antecessores de Ribeiro na presidência do BB, Rubem Novaes (de janeiro de 2019 a setembro de 2020) e André Brandão (de setembro de 2020 a março de 2021), com carreira construída no setor privado, no entanto, não quiseram promover mudanças no comando da Previ.
À frente do fundo de pensão com cerca de 200 mil beneficiários, Pereira Coelho promoveu mudanças estratégicas e operacionais que foram elogiadas por analistas de mercado. Aumentou a segurança e a sustentabilidade do principal plano de previdência da Previ, o Plano 1, com mais de 235 bilhões de reais em ativos.
Logo no seu primeiro ano, em 2018, reverteu o déficit do ano anterior e encerrou aquele exercício com as contas no azul, algo que se tornou recorrente até este ano.
O Plano 1 encerrou 2020 com superávit acumulado de 13,92 bilhões de reais e uma rentabilidade de 17,20%, superando com folga a meta atuarial de 10,46%. Neste ano, com dados parciais até abril, o superávit acumulado superou 20 bilhões de reais.
Sob a gestão de Pereira Coelho, a Previ ampliou de 40,8% em dezembro de 2018 para 46,6% em março passado a fatia alocada em renda fixa, considerando que quase a totalidade dos beneficiários (93% no fim do ano passado) já está aposentada.
Em linha com essa estratégia, um dos últimos atos de Coelho em sua gestão foi a decisão da venda de uma fatia no capital da BRF (BRFS3) no mercado, que acabou sendo adquirida pela Marfrig (MRFG3). O fundo de pensão levantou 651 milhões de reais com a venda de 24 milhões de ações, que reduziu sua participação de 9% para 6,04%.
Os recursos serão utilizados para a compra de títulos públicos de longo prazo, com rentabilidade compatível com o pagamento de benefícios projetados, sem os riscos inerentes da renda variável nesse situação, segundo a Previ.
Preocupação com a governança
A mudança inesperada no comando da Previ causou apreensão entre economistas que acompanham o tema da governança em estatais e fundos de pensão.
Em diferentes ocasiões ao longo das últimas décadas, os fundos de pensão de estatais -- com centenas de bilhões de reais em ativos sob gestão -- foram direcionados pelo governo da vez para promover investimentos que não necessariamente atendiam aos interesses dos milhares de beneficiários dos seus planos de previdência.
A Previ em particular é um fundo de pensão com participação relevante nas maiores empresas de capital aberto do país, com direito a assento(s) no conselho. A lista é extensa: Vale (VALE3), Petrobras (PETR3, PETR4), Magazine Luiza (MGLU3), B3 (B3SA3), Itaú Unibanco (ITUB4) e Bradesco (BBDC4) são as empresas com a maior posição em valor.
Pereira Coelho assumiu a Previ em meados de 2018, egresso da BB Seguridade, empresa da qual era o CEO. Antes disso, havia sido vice-presidente de Gestão Financeira e de Relações com Investidores do BB.
Ribeiro, um funcionário de carreira do BB desde 1988, era o presidente do BB Consórcios desde o ano passado antes de ser nomeado e assumir o comando do banco estatal em abril.
André Brandão deixou o cargo em meio a pressões do presidente Jair Bolsonaro, descontente com um plano anunciado em janeiro de fechamento de agências e demissão voluntária para reduzir custos e tornar a operação do banco mais eficiente em tempos de acelerada transformação digital.
Como reflexo da desconfiança de analistas e investidores quanto à possível interferência do governo na gestão do BB, as suas ações apresentam um desempenho neste ano pior do que o dos seus pares.
As ações do BB caíram 1,34% nesta terça e acumulam queda de 16,39% em 2021, ante recuo de 10,17% do Santander (SANB11) e de 7,32% do Itaú Unibanco (ITUB4). As ações do Bradesco (BBDC4) sobem 1,77% no ano.