Há uma percepção predominante no mercado financeiro de que o retorno de Donald Trump à Casa Branca, após quatro anos, tende a ser prejudicial para os mercados emergentes e, eventualmente, para os próprios Estados Unidos. Quem discorda dessa tese é Mark Mobius, lendário gestor com carreira na Franklin Templeton e uma das principais referências globais em mercados em desenvolvimento.
"Suas políticas nacionalistas e protecionistas, aliadas a uma retórica direta e muitas vezes áspera, claramente não agradam a todos. No entanto, sua postura pró-negócios tem o potencial de impulsionar não apenas a economia dos EUA, mas também os mercados ao redor do mundo", afirma Mobius em artigo publicado em seu site.
Uma das críticas centrais a Trump é a de que suas políticas podem aumentar a já resiliente inflação dos Estados Unidos ao elevar tarifas sobre produtos importados. Mobius, no entanto, enxerga de outra forma, especialmente se essas tarifas forem combinadas com a desregulamentação e a redução de impostos prometidas pelo republicano durante a campanha.
"Tarifas mais altas não necessariamente significam preços mais altos para os consumidores, considerando cadeias de suprimentos ajustadas, redução de custos empresariais com a diminuição da burocracia governamental e impostos corporativos mais baixos. Essa combinação poderia até permitir que as empresas dos EUA reduzissem seus preços."
Mobius também destaca que as tarifas sobre importados têm o potencial de reduzir o déficit fiscal dos Estados Unidos, especialmente se acompanhadas por cortes nos gastos públicos.
"No fim das contas, a postura protecionista de Trump pode até gerar benefícios além das fronteiras dos EUA. Com os EUA sendo a maior economia do mundo, seu crescimento tende a impulsionar outros mercados, aumentando os volumes de comércio e incentivando as empresas globais", diz Mobius.
China imune a Trump
Nem mesmo a China, sobre a qual Trump planeja impor a maior tarifa – de 60% sobre importados –, deve ser significativamente penalizada pela nova gestão americana, segundo o investidor.
"Não espero que a China sofra um grande impacto – eles têm flexibilidade para responder ao que quer que a administração Trump apresente." Entre os instrumentos de reação da China, Mobius cita a desvalorização do renminbi para aumentar a competitividade dos produtos chineses e a transferência da produção para países como a Índia.
"As políticas de Trump podem causar alguma fricção, mas é improvável que desacelerem o crescimento. Os mercados se ajustarão, as empresas se adaptarão e, como sempre, a economia global encontrará seu equilíbrio."