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Piora da seca em SP castiga detentores de bônus da Sabesp

Os US$ 350 milhões em notas com vencimento em 2020 emitidas pela companhia perderam 5,4% nos últimos três meses


	Homem caminha no solo seca da represa de Jaguari: investidores estão cada vez mais preocupados de que a Sabesp verá seus custos subirem à medida que a empresa bombeia água de partes mais profundas de seus depósitos
 (Paulo Fridman/Bloomberg)

Homem caminha no solo seca da represa de Jaguari: investidores estão cada vez mais preocupados de que a Sabesp verá seus custos subirem à medida que a empresa bombeia água de partes mais profundas de seus depósitos (Paulo Fridman/Bloomberg)

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Da Redação

Publicado em 2 de janeiro de 2015 às 12h54.

São Paulo e Nova York - A seca no Estado de São Paulo tem transformado a maior empresa de fornecimento de água da América Latina em uma das maiores perdedoras no mercado de bônus. E não há sinais de que eles se recuperarão tão cedo.

Os US$ 350 milhões em notas com vencimento em 2020 emitidas pela Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo, a Sabesp, perderam 5,4 por cento nos últimos três meses, em um momento em que a pior seca em oito décadas está levando a empresa a oferecer descontos de até 30 por cento para incentivar a economia no consumo.

A queda se compara com um ganho médio de 0,7 por cento dos bonds de empresas de serviços públicos de mercados emergentes no período.

Com a estação de chuvas que começou em outubro incapaz de recompor reservatórios, investidores estão cada vez mais preocupados de que a Sabesp verá seus custos subirem à medida que a empresa bombeia água de partes mais profundas de seus depósitos e que as receitas despencam em decorrência do aumento dos esforços para que os moradores economizem.

No fim de dezembro, os níveis de água no reservatório da Cantareira, complexo de quatro lagos utilizado pela empresa que abastece metade dos 20 milhões de residentes da grande São Paulo, estavam em menos de 15 por cento da média histórica para o período desde 2004.

“A maior cidade do país corre o risco de ficar sem água”, disse Alexandre Montes, analista da Lopes Filho Associados Consultores de Investimentos, por telefone, do Rio de Janeiro.

“Os níveis para dezembro não foram nada bons e nós começaremos o ano de uma forma muito ruim. Isso é definitivamente negativo para a Sabesp”.

Embora Montes não mantenha uma recomendação oficial de venda para os bonds da Sabesp, ele disse que está aconselhando seus clientes a permanecerem longe dos títulos da empresa.

Lucro mergulha

A assessoria de imprensa da Sabesp disse em um e-mail que a empresa confia que com a temporada de chuvas mais intensas, aliada às medidas que vêm sendo tomadas para garantir o abastecimento da Grande São Paulo, a crise hídrica será superada.

Os descontos aos consumidores serão estendidos a 2015 e multas por consumo excessivo de água serão aplicadas a partir de janeiro “devido à severidade da situação”, disse o diretor de relações com investidores da Sabesp, Rui Affonso, a repórteres, em São Paulo, no mês passado.

Em fevereiro, a Sabesp começou a oferecer descontos de 30 por cento aos clientes que reduzissem o consumo em pelo menos 20 por cento da média de 12 meses.

A medida contribuiu para que os lucros ajustados da empresa antes de juros, impostos, depreciação e amortização encolhessem 29 por cento no terceiro trimestre em relação ao ano anterior, pior queda desde pelo menos 2001.

Redução na perspectiva

No dia 23 de dezembro, a Standard Poor’s revisou a perspectiva do rating BB+ da Sabesp de estável para negativo, dizendo que o lucro da empresa cairá mais em 2015 devido às medidas para economizar água. O nível de alavancagem da companhia subirá de 2,6 vezes em setembro para 4,5 vezes em 2015, disse a S&P no relatório.

“A perspectiva negativa reflete nossa visão de que a continuidade da seca poderá enfraquecer o desempenho operacional e financeiro da Sabesp abaixo de nossas atuais expectativas”, disse a agência de classificação no comunicado.

A taxa de rendimento a investidores das notas da Sabesp deram um salto de 1,4 ponto porcentual nos últimos três meses e atingiram uma alta recorde de 7,155 por cento no dia 17 de dezembro, de acordo com dados compilados pela Bloomberg.

Os bonds se recuperaram nesta semana para 97,1 centavos de dólar, contra uma mínima recorde de 95,31 centavos de dólar registrada no mês passado.

A Cantareira precisará de “mais algumas” estações chuvosas, que no Brasil vão de outubro a março, para mostrar uma recuperação nos níveis de água, segundo Graziella Gonçalves, meteorologista da Somar Meteorologia.

Os níveis da Cantareira estavam em 7,3 por cento no dia 30 de dezembro, abaixo do total de 13,6 por cento registrado no dia 24 de outubro, quando a Sabesp começou a incluir a segunda camada do chamado volume morto da represa, que são reservatórios com sedimentos que anteriormente não eram usados. Antes da medida, a capacidade da Cantareira estava em 3 por cento.

“As chuvas têm sido irregulares e não têm atingido a Cantareira da forma como precisaríamos”, disse Gonçalves, por telefone, de São Paulo.

“Nós devemos continuar estáveis no momento, mas o problema vem com a estação seca. Após dois anos ruins, nós começaremos com um grande déficit. Não há notícia boa por enquanto”.

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