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Pablo Spyer alerta: preocupação com inflação é unânime no mercado

Em entrevista à EXAME Invest, o novo diretor de operações da EQI diz que o cobertor está curto e que o mercado não sabe o que fazer. E adverte: "os próximos 30 dias serão de mais turbulência"

Pablo Spyer, conhecido como Touro de Ouro: de casa nova, ele agora é diretor de Operações da EQI (Germano Lüders/Exame)

Pablo Spyer, conhecido como Touro de Ouro: de casa nova, ele agora é diretor de Operações da EQI (Germano Lüders/Exame)

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Paula Barra

Publicado em 11 de março de 2021 às 07h31.

Última atualização em 11 de março de 2021 às 21h42.

O cenário global é a grande preocupação do mercado neste momento. “Agora, mais do que nunca, estamos vivendo um momento de incertezas. Os próximos 30 dias serão de mais turbulência”, disse Pablo Spyer, novo diretor de operações da EQI, o maior escritório de agentes autônomos do país e ligado ao BTG Pactual. 

O temor é com a inflação nos Estados Unidos, que pode levar o Federal Reserve a subir os juros a qualquer momento e interromper, como consequência, os estímulos que sustentam a retomada. “Se a inflação vier, os estímulos vão ter que parar na hora. Ninguém vai ficar injetando dinheiro na economia com a inflação comendo solta”, disse Spyer, que ficou conhecido com seus vídeos matinais "Minuto Touro de Ouro", em entrevista à EXAME Invest

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“As principais potências injetaram trilhões de dólares para salvar as economias da crise e isso está trazendo uma preocupação muito forte com a inflação, porque boa parte desse dinheiro foi guardada pelo cidadão. Nunca vi americano com tanto dinheiro em caixa quanto agora. Também nunca vi uma unanimidade tão grande lá fora de que vai ter inflação a qualquer momento.”

Tal cenário tem sido refletido na alta dos juros futuros dos títulos do governo dos Estados Unidos, que tem provocado nervosismo no mercado nas últimas semanas e queda mais acentuada do índice acionário Nasdaq. Do dia 12 de fevereiro até ontem, o índice americano que concentra ações de tecnologia caiu 9,3%.

“Estamos com o cobertor curto e a Bolsa não sabe o que fazer. No geral, o tom do ano deve ser de turbulência e de mais aversão ao risco”, comentou.

Apesar do ambiente mais desafiador, ele acredita que isso não deve jogar uma pá de cal nas conquistas recentes do mercado acionário brasileiro, que viu o número de investidores pessoas físicas saltar 92% do início do ano passado para cá. No total, são cerca de 3,2 milhões de CPFs na B3 agora. Ele atribui ao processo de amadurecimento do investidor. 

Spyer contou também sobre a mudança recente para a EQI depois de mais de uma década como diretor de operações da corretora coreana Mirae Asset. Confira a entrevista na íntegra abaixo à EXAME Invest:    

Como foi o processo de mudança para EQI?

Estou muito animado, mas estive muito nervoso. Não dormi de domingo para segunda (dia 8). Foi um movimento muito grande, estava há mais de dez anos na Mirae, mas toda a estrutura e a proposta me atraíram muito. Cuidei com muito carinho desse movimento e deu tudo certo. 

Depois do sucesso do Touro de Ouro, muitas casas vieram atrás de mim querendo contratar meu passe. Escolhi a EQI porque ela tem uma tecnologia muito mais moderna do que todas as corretoras. Não é à toa que o BTG comprou da concorrência. A XP deve muito do seu sucesso à EQI, que era um de seus maiores escritórios de agentes autônomos. E a EQI também se viu mais forte ao lado do BTG. 

Me convidaram para ter o mesmo cargo que tinha na Mirae, de ser diretor operacional de Bovespa e BM&F e diretor de relações com o mercado. E eu me fascinei com o projeto: eles ainda são uma ‘corretora light’, que tem como retaguarda o BTG Pactual, e estão no processo de se transformar em uma CTVM, já deram entrada no Banco Central. 

Tenho esse conhecimento de estruturar não só negócios do zero mas especificamente corretora. Ajudei a montar uma full broker dealer em Nova York, na qual fui sócio, a própria operação da Mirae em São Paulo. 

A qualidade, a tecnologia que eles têm aqui e a solidez do BTG, além do projeto, tudo isso me atraiu muito. Estou satisfeito porque vou conseguir entregar um serviço de qualidade para o pessoal que me acompanha. Estou com 750 mil seguidores [entre perfil do Instagram e Twitter], além da lista do WhatsApp. 

Entre os próximos passos, tem algo muito interessante que vamos fazer que é um evento semestral chamado Day Touro, que vai ser composto por palestras, entrevistas, com pessoas conhecidas do mercado. Vamos começar já em abril. 

Como está vendo o atual momento do mercado? Qual o maior risco hoje para a Bolsa?

O cenário macroeconômico tende a ser um pouco turbulento, mas mais por causa lá de fora, da impressão de dinheiro nos Estados Unidos, na Europa e no Japão. São as principais potências que injetaram dinheiro para salvar as economias da crise e isso está trazendo uma preocupação muito forte com a inflação, porque boa parte do dinheiro foi guardado pelo cidadão. 

Nunca vi americano com tanto dinheiro em caixa quanto agora e também nunca vi uma unanimidade tão grande lá fora de que vai ter inflação a qualquer momento. Ou em 2021 ou quando forem reabertas as economias. 

A demanda de serviços parou e só não estamos vendo uma inflação tão forte ainda porque a velocidade do dinheiro nunca esteve tão baixa, a troca de mão da moeda. O dinheiro está no banco. 

É uma unanimidade entre gestores e administradores de capital de que teremos inflação mais alta. Está aí a explicação da alta de juros nos EUA. Por isso, os juros do T-10 [os títulos do governo americano com vencimento em 10 anos] passaram de 1,2% [do dia 12 de fevereiro] para 1,5%, aumentou em 0,3 ponto percentual. E isso provocou nervosismo no mercado e a queda da Nasdaq. 

Acredito que devemos ter um ano de turbulências, com preocupações e farol aceso. E podemos esperar um mês mais turbulento, principalmente os próximos 30 dias, por causa disso. 

Olhando para o Brasil, estamos vivendo nossa vida tupiniquim. Algumas surpresas, com riscos político e fiscal, o dilema aqui é sempre o fiscal. 

Na China, vimos a bolsa caindo na terça e o governo entrou para comprar ações para tentar segurar a queda. Temos visto as commodities nas [cotações] máximas. Não só o minério, mas o petróleo, a carne.

Isso também traz preocupações com a inflação. E, com o pacote de 1,9 trilhão de dólares nos EUA, o preço das commodities vai subir mais e puxar ainda mais a inflação. A preocupação, mais do que com o Brasil, é com o momento global. 

E vale lembrar que política também não tem nada a ver com Bolsa, só se mudar as regras do jogo, que aí interfere no risco. 

No geral, o tom do ano deve ser de turbulência, de mais ao aversão risco. Estamos com o cobertor curto, a Bolsa não sabe o que fazer. Difícil fazer uma previsão. 

Podemos ter surpresas com uma alta de juros nos EUA antes do esperado pelo mercado?

Agora mais do que nunca estamos vivendo um momento de incerteza, mais incerto do que em outros momentos. 

Se não fossem as incertezas, o fato de o Federal Reserve garantir que não vai subir os juros até setembro de 2023, não deixaria o T-10 subir. Aparentemente, o mercado não está confiando na palavra deles [dos dirigentes do Fed]. 

O mercado está achando que eventualmente eles vão retirar o forward guidance — que é quando o Banco Central diz o que vai fazer com os juros, com a política monetária — e subir os juros.   

O que aconteceu aqui no Brasil? O BC estava garantindo que não ia subir os juros nos próximos meses. Na reunião passada, o que eles fizeram? Tiraram o forward guidance. Então, nessa reunião [da semana que vem, nos dias 16 e 17 de março], eles já podem subir os juros. Não estão mais prometendo que não vão subir, porque o BC não pode subir os juros prometendo que não vai fazer isso. 

Nesta semana estava conversando com um gestor da EQI e ele estava comentando que a probabilidade implícita está praticamente 50/50 de uma alta de juros aqui no Brasil de 0,5 ponto percentual [p.p.] e de uma alta de 0,75 p.p. na próxima reunião [do Copom] da semana que vem. 

Mas lá nos EUA a qualquer momento eles podem tirar a orientação futura, o forward guidance, e eventualmente subir os juros por lá também. Então essa é a preocupação do mercado, que a inflação bata firme. Ainda mais tendo em mente que os estímulos vão ter que parar na hora quando a inflação vier. Ninguém vai ficar injetando dinheiro com a inflação comendo solta.

Esse cenário agora mais cheio de incertezas pode de alguma forma ameaçar as conquistas do mercado brasileiro, com o investidor mais interessado em aprender sobre finanças e migrando para a Bolsa?

Acredito que pode atrapalhar um pouco, sim, mas pode ser compensado pelo amadurecimento do investidor brasileiro. 

Tínhamos há quatro anos 600 mil pessoas físicas na Bolsa; hoje, temos 3,5 milhões. 

Acho que houve um processo de amadurecimento, do qual a EQI faz parte. O investidor viu que pode sair dos bancos, não tem que ficar preso nos bancões, porque hoje existem assessores de investimento de qualidade que podem ajudar a escolher produtos em um universo de investimentos bem mais sofisticado e diversificado do que antigamente. 

Não só em fundos, dívidas, também em ações, e que, no longo prazo, isso vai ser bom. Óbvio que ainda não vivemos o longo prazo [nesse período de maior amadurecimento do mercado], mas o brasileiro está aprendendo que existe uma gama de investimentos bem mais sofisticada do que antes os bancos falavam.

Antes só existiam os fundos DIs que cobravam uma taxa de administração de 6% ao ano e acabou. Mas também os juros eram de 20%, eles cobravam 6% e ainda dava 14% de retorno, tudo certo. Hoje, não. 

Hoje, o achatamento das taxas de juros fez com que fosse necessário sofisticar a assessoria de investimentos. Para o investidor ter uma rentabilidade superior, ele tem que tomar risco, não tem jeito. A verdade é que o grande risco é não tomar risco hoje, é ficar ganhando 1,5% ao ano. Está todo mundo atrás de uma rentabilidade superior, de ter a possibilidade de garantir a aposentadoria com investimentos. 

Por um lado, a turbulência e a alta dos juros ou aqui ou lá fora e a inflação que venha podem frear um pouco dessa migração em massa que temos visto no mercado acionário e a migração dos bancões para os assessores de investimentos.

Por outro lado, a qualificação do investidor brasileiro e a sofisticação atual vão tornar difícil prender esse investidor no banco e convencê-lo de que investir em ações não faz sentido.

Hoje, tem gente como nós da EQI que mostra o caminho para o investidor, mostrando que o investidor tem que montar uma carteira, tem que se aposentar com dividendos, essa é a grande sacada das ações. Aposentadoria em ações. 

E não é pegar de 15% a 20% do seu patrimônio e investir na Bolsa, mas, sim, diversificar no tempo. Você tem que entrar devagar, comprando devagar. Além de diversificar os setores, as ações dentro dos setores, diversificar o tempo de entrada nas ações. Essa é a verdadeira maximização da segurança.

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