Mercados

Oi planeja reduzir dívida e enfrenta desconfiança de investidor

Empresa quer utilizar parte do dinheiro que será ganho com a venda de ações para investidores e a Portugal Telecom para deixar de ser a tele mais endividada do continente

Rendimento médio de títulos das teles latino-americanas é maior que o da Oi (Marcelo Correa/EXAME)

Rendimento médio de títulos das teles latino-americanas é maior que o da Oi (Marcelo Correa/EXAME)

DR

Da Redação

Publicado em 21 de fevereiro de 2011 às 08h52.

São Paulo/Nova York - A Tele Norte Leste Participações SA, holding que controla a maior operadora de telefonia fixa do País e a mais endividada empresa de telecomunicações da América Latina, pretende reduzir o peso dessa dívida pela metade em 2011, contrariando as apostas dos detentores desses títulos.

Os papéis de cupom 5,5 por cento e vencimento em 2020 caíram 2,4 por cento nos últimos 30 dias, em comparação a uma perda média de 0,4 por cento dos títulos de empresas brasileiras que fazem parte do índice CEMBI, do JPMorgan Chase & Co. O rendimento subiu para 6,02 por cento em 10 de fevereiro, nível mais alto desde 20 de dezembro, vindo de um piso de 5,67 por cento em 21 de janeiro.

O diretor financeiro do grupo, Alex Zornig, disse que a Tele Norte Leste, que opera sob a marca Oi, planeja reduzir a relação entre dívida líquida e lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização, o Ebitda, para menos de 1,7 vez até o fim de 2011. Hoje, as obrigações somam 3,8 vezes o Ebitda, a maior alavancagem entre as empresas do setor na América Latina, avaliado em mais de US$ 200 milhões, segundo dados da Bloomberg.

A empresa usará parte dos R$ 11 bilhões que pretende levantar com a venda de ações para investidores e para a Portugal Telecom SGPS SA até 31 de março para ajudar a pagar, ou refinanciar, os R$ 7 bilhões em dívida que vence em 2011, disse Zornig em entrevista.

“O fato de eles estarem recebendo dinheiro não prova que eles vão usar o dinheiro bem”, disse Vinicius Pasquarelli, operador de títulos de mercados emergentes da Tradition Asiel Securities Inc. em Nova York em entrevista por telefone. “Então, isso torna o risco da dívida muito complicado”.

Grau de investimento

Os títulos emitidos no exterior por empresas de telefonia da América Latina ofereciam um rendimento médio de 5,87 por cento até 17 de fevereiro, de acordo com dados do Credit Suisse Group AG. As taxas dos títulos da empresa brasileira podem ser comparadas a um rendimento de 4,33 por cento pago por papéis de companhias americanas do setor que têm grau de investimento, segundo o Bank of America Corp.

Os títulos de dívida vendidos pelo grupo Telemar, que incluem a Tele Norte Leste e a Telemar Norte Leste SA, são considerados grau de investimento pelas agências de classificação de risco Moody’s Investors Service Inc., Standard & Poor’s e Fitch Ratings Ltd.


Os empréstimos de longo prazo da operadora de telefonia com sede no Rio de Janeiro quase triplicaram para R$ 22,8 bilhões no terceiro trimestre de 2010 em relação ao mesmo período três anos antes, depois que a companhia decidiu comprar a Brasil Telecom SA em 2008, segundo dados compilados pela Bloomberg.

“Dívida não é problema da Oi”, disse Zornig em entrevista por telefone, de São Paulo, em 17 de fevereiro. “Vamos rolar, ou pagar, o que for mais barato para nós, melhor para acionista. Não somos uma empresa endividada. Temos uma dívida alta, a empresa é grande, a dívida é compatível”.

Alta liquidez

Como os títulos da dívida da Telemar têm alta liquidez, lideram as perdas quando o índice do JPMorgan cai, segundo Zornig.
As ações da Telemar operadora acumularam alta de 1 por cento nos 30 dias até sexta-feira, enquanto os papéis da Tele Norte Leste subiram 0,6 por cento no período. O Ibovespa acumulou perda de 4 por cento no período.

A agência de risco S&P espera que a dívida do grupo caia ao longo do tempo, dado o fluxo de caixa e posição de caixa disponível, disse Marcelo Schwarz, analista de risco da agência de classificação, em entrevista por telefone de São Paulo em 17 de fevereiro.

Fluxo de caixa

O fluxo de caixa da Oi foi de 5,7 vezes o lucro líquido da companhia no terceiro trimestre. O grupo também tinha R$ 9,5 bilhões em caixa, ativos disponíveis e investimentos de curto prazo no mesmo período, segundo dados compilados pela Bloomberg.

“No nosso cenário, a gente incorpora que a empresa deve seguir desalavancando”, disse Schwarz, que tem nota BBB- para a Telemar, com perspectiva estável.

O acordo da Portugal Telecom com a Telemar também é considerado positivo para a empresa brasileira, disseram os analistas Marcos Schmidt e Ricardo Kovacs, da Moody’s, em entrevista por telefone de São Paulo em 17 de fevereiro.
“Há benefícios claros com a chegada da PT, no sentido de que aporta caixa, numa posição favorável”, disse Kovacs. “Agora, resta a companhia de fato executar aquilo que anunciou que faria.”

A Moody’s tem nota de crédito Baa3 com perspectiva estável para a holding Tele Norte Leste e um nível acima, Baa2, para a Telemar operadora.

No atual nível de preços os títulos de dívida da Telemar podem refletir os receios do investidor de que o processo de redução da dívida leve mais tempo do que o previsto, disse Luz Padilla, que ajuda a administrar US$ 7,5 bilhões na gestora de recursos Doubleline Capital LP, em Los Angeles.

“Eu não tenho pressa de comprá-los no mercado agora”, disse ela. “Eles estão a um preço justo no nível atual”.

Acompanhe tudo sobre:3GBrasil TelecomDívidas empresariaisEmpresasEmpresas abertasEmpresas brasileirasEmpresas portuguesasOiOperadoras de celularServiçosTelecomunicaçõesTelemar

Mais de Mercados

Goldman Sachs vê cenário favorável para emergentes, mas deixa Brasil de fora de recomendações

Empresa responsável por pane global de tecnologia perde R$ 65 bi e CEO pede "profundas desculpas"

Bolsa brasileira comunica que não foi afetada por apagão global de tecnologia

Ibovespa fecha perto da estabilidade após corte de gastos e apagão global

Mais na Exame