André Leite, CIO da TAG Investimentos: "O mundo está claramente mudando, está passando por um processo grande de transformação"
Repórter
Publicado em 22 de julho de 2024 às 16h16.
Última atualização em 22 de julho de 2024 às 16h33.
O fortalecimento da China e a ameaça à hegemonia americana tem aumentado a probabilidade de um conflito em larga escala. Embora tratado como incipiente no mercado, esse risco não pode ser ignorado, na avaliação da André Leite, CIO da TAG Investimentos.
"Os Estados Unidos reinaram sozinhos, mas agora tem a China, que é um grande poder global desafiando os Estados Unidos. Quando tem um um país tentando manter e outro tentando conquistar a hegemonia, com certeza a probabilidade de ter um conflito aumenta", disse Leite ao programa Vozes do Mercado, da Exame Invest.
Uma das vozes que tem alertado para esse risco geopolítico nos Estados Unidos é Jamie Dimon, CEO do maior banco do mundo, o J.P. Morgan. Na última semana, Dimon voltou a afirmar que "o cenário é potencialmente o mais perigoso desde a 2ª Guerra Mundial. Leite concorda com a avaliação do CEO americano.
"As guerras acontecem quando tem mudança no poder dominante, desafiante. No Império Romana não tinha guerra, tinha a Pax Romana, porque era hegemônico. Quando o Império Romano começou a entrar em declínio, começaram a ser desafiados pelos bárbaros. Aí veio a guerra. Isso acontece desde que o mundo é o mundo e hoje estamos vivendo exatamente isso", diz o CIO da TAG
A possibilidade desse caldeirão de pólvora explodir, segundo Leite, é maior em um eventual governo de Donald Trump. O CIO destaca ainda que o ouro te subido desde Trump ganhou maior favoritismo. "[A valorização] é por uma questão geopolítica. O Trump e o [JD Vence, candidato a vice-presidente] já disseram que não vão brigar em três frente ao mesmo tempo. Provavelmente vão abandonar a Ucrânia à própria sorte e focar na China e ser duros com eles. O Vence já disse que não gosta da China. É de se esperar um aumento de tensão geopolítica nesse governo. O mundo está claramente mudando, está passando por um processo grande de transformação."
Casas de apostas seguem precificando uma alta probabilidade de Donald Trump vencer as eleições, mesmo com a desistência de Joe Biden. A atual vice-presidente Kamala Harris, que deverá assumir a campanha pelo partido Democrata, tem 30,5% de chance de vencer as eleições contra 59,7% de Donald Trump, segundo o agregador de dados RealClearPolitics.
Além de uma maior tensão política, Leite avalia que um governo Trump deve ser acompanhado de uma inflação mais alta e um juros longo mais alto. "A expectativa é de que o governo seja até pior do ponto de vista fiscal. Eles devem gastar mais. Também esperam colocar uma tarifa linear sobre produtos importados. Como boa parte dos itens consumidos por americanos são importados, isso é inflação na veia."
Esse aumento de preços, segundo ele, pode deixar a economia americana mais fraca. "Os Estados Unidos está no fim de um ciclo econômico. Começamos a ver a economia um pouco mais fraca, com a taxa de desemprego subindo. E o consumidor americano está com um custo de vida muito alto. Se colocar essa tarifa sobre a importação, a vida dele vai ficar pior. Esse eventual choque inflacionário pode até ser o gatilho de uma recessão."