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Mercado e BC parecem ignorar provável desaceleração em curso, diz Verde

'Nos parece que as curvas (e o Banco Central) estão muito focadas na inflação corrente', aponta a carta mensal do Fundo Verde, que revela ainda aumento de posições na bolsa

Luis Stuhlberger, sócio e gestor da Verde Asset: cenário global é visto como um 'xadrez multi-dimensional' | Foto: Patricia Monteiro/Bloomberg (Patricia Monteiro/Bloomberg)
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Marcelo Sakate

Publicado em 9 de outubro de 2021 às 17h43.

O aumento dos juros futuros no Brasil parece ignorar uma "provável desaceleração econômica em curso", avalia a Verde Asset, dos gestores Luis Stulhberger e Luiz Parreiras, na carta mensal de setembro do Fundo Verde , distribuída a investidores. A razão para a desaceleração: a perda de renda real por parte do consumidor.

O diagnóstico aponta que tanto o mercado como o próprio Banco Central parecem estar com foco demasiado na inflação corrente, que está muito acima do teto da meta de inflação. Segundo dados divulgados na sexta-feira, dia 8, pelo IBGE, o IPCA em setembro foi o maior desde o início do Plano Real e subiu 1,16%.

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No acumulado em 12 meses, a inflação oficial ao consumidor entrou na casa dos dois dígitos, a 10,25%.

"No mercado de juros nos EUA e Europa, ainda acreditamos que a direção de taxas é para cima, mas reduzimos um pouco as posições. Há que se ter cuidado para não exagerar na dose pensando em 2022", aponta a Verde.

"Em grande medida podemos dizer o mesmo do mercado de juros reais no Brasil: nos parece que as curvas (e o Banco Central) estão muito focadas na inflação corrente, ignorando uma provável desaceleração econômica em curso, fruto da
perda de renda real do consumidor, ainda antes que o efeito completo da alta de juros tenha sido sentido. Temos gradativamente aumentado alocações nesse mercado", completam os autores do documento.

Na carta, a Verde também avalia o cenário para o investimento em bolsa e aponta que há oportunidades que justificam ampliar as posições nas companhias, de forma criteriosa.

"O mercado acionário no Brasil também parece precificar um cenário bastante inóspito. A dinâmica de fluxos, até recentemente bastante favorável, agora sofre com aumento da Selic e má performance recente das empresas que vieram a mercado", apontam os autores da análise, para em seguida concluírem:

"Acreditamos que uma série de boas empresas estão negociando a valores bastante interessantes, e temos, seletivamente e com disciplina, aumentado posição neste mercado."

Em setembro, o Fundo Verde teve ganhos nas posições tomadas em juros nos mercados desenvolvidos e na posição de juro real no mercado local. As perdas vieram das posições em ações no Brasil. No total, o Verde teve rentabilidade negativa de 0,12%, versus alta de 0,44% do CDI. No ano, a rentabilidade é de 1,49% (versus 2,51% do CDI).

Desde o seu início em 1997, no entanto, o Fundo Verde acumula ganho de 18.880,21%, o que o coloca como um dos mais longevos e rentáveis fundos do mercado financeiro do país. No mesmo período, o CDI rendeu 2.281,96%.

Crise energética e 'desequilíbrios múltiplos'

A carta do Fundo Verde em setembro avalia o cenário global como um "xadrez multi-dimensional" e conta que a gestora tem mantido a disciplina de alocação quando os preços exageram para um lado ou para o outro.

"O mundo e os mercados continuam a oscilar à mercê de desequilíbrios múltiplos causados pela reação à pandemia."

"Do lado da demanda, temos economias reabrindo super-estimuladas por injeções fiscais sem precedentes, embora esses impulsos já estejam desacelerando. Está ficando claro que a passagem do bastão da demanda por bens para a
demanda por serviços é tudo menos suave. O lado da oferta tem tornado esse processo ainda mais complexo."

Os autores da análise apontam para "políticas nada sincronizadas de gestão da Covid entre diferentes países do mundo", com efeitos em determinados setores, como o de semicondutores, no mundo inteiro.

"As vicissitudes da produção just-in-time continuam a confundir os sinais macro e microeconômicos que o mercado tenta interpretar e precificar."

"A economia global está vivendo um enorme ciclo de reestocagem e, provavelmente, o crescimento em várias indústrias parece maior do que de fato é, exacerbando os efeitos no preço de muitos bens (e ativos) e dificultando a projeção para a frente. Somam-se a isso efeitos climáticos e oligopólios localizados, como vemos no mercado de energia, e a coisa toda fica mais complicada ainda", apontam os autores da carta nessa parte da análise sobre a economia global.

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