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Juros em alta, bolsa também? Por que o ciclo de alta da Selic pode impulsionar as ações

Investidores dão como quase certo aperto monetário reunião do Copom deste mês — e estão otimistas com isso

Gabriel Galípolo: indicado à presidência do BC, diretor do Copom sinalizou possível alta de juros neste mês (Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil)

Gabriel Galípolo: indicado à presidência do BC, diretor do Copom sinalizou possível alta de juros neste mês (Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil)

Guilherme Guilherme
Guilherme Guilherme

Repórter de Invest

Publicado em 3 de setembro de 2024 às 16h16.

Última atualização em 3 de setembro de 2024 às 16h35.

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Juros altos geralmente fortalecem o retorno da renda fixa e prejudicam os investimentos em ações. Uma análise feita pelo JP Morgan mostra que, em todos os ciclos de aperto monetário desde 2008 no Brasil, as ações produziram retornos negativos.  

Desta vez, contudo, há razões para acreditar que a esperada alta de juros na próxima decisão do Banco Central, no dia 18, produza efeitos diferentes.  

“A alta de juros seria benéfica para todo o mercado”, afirma Welliam Wang, head de ações da AZ Quest.  

Ao recobrar a credibilidade do Banco Central após meses de comunicação truncada e ruídos políticos, um aumento – seja na casa dos 25 pontos-base, como é mais provável, ou 50 pontos, como acreditam cada vez mais economistas – teria o poder de reduzir as curvas de juros de longo prazo.  

“Se o ciclo de aumento das taxas iniciar, como esperado, o Banco Central restaurará grande parte de sua credibilidade perdida, em nossa opinião. Tal cenário impactaria positivamente os preços dos ativos no Brasil, fortalecendo o real e reduzindo as taxas de longo prazo”, diz o BTG Pactual (do mesmo grupo de controle da Exame) em relatório. 

A expectativa é que o ciclo de alta de juros seja pequena e curta, na casa dos 150 pontos-base, com alguns economistas já olhando para cortes no próximo ano.  

O comportamento do mercado no pregão de hoje, após a divulgação de um PIB que surpreendeu em muito as expectativas do mercado, já mostra parte desse movimento.  

A taxa de longo prazo é usada como referência na avaliação de fluxos de caixa futuros. Na prática, quanto mais baixo for o juro de longo prazo, mais valiosa tende a ser uma ação. 

A curva de juros reduziu sua inclinação, com aumento na ponta mais curta – reforçando a expectativa de aumento das taxas de juros na próxima reunião – e redução na taxa com vencimento em 2029. 

Ações cíclicas, como varejistas e empresas de educação, estão entre as maiores altas, num dia de Ibovespa no negativo por conta dos preços das commodities.  

Consenso  

Considerada improvável há um mês, a alta de juros tornou-se consenso após as declarações do diretor do Banco Central, Gabriel Galípolo, recém-indicado para suceder Roberto Campos Neto na presidência da instituição.  

Galípolo afirmou mais de uma vez que a alta de juros está na mesa e que a Selic subirá, se necessário. 

Com a economia aquecida (vide o PIB do segundo trimestre), aumento do risco inflacionário e câmbio depreciado, Silvio Campos Neto, sócio e economista-sênior da Tendências, enxerga motivos técnicos suficientes para o Banco Central começar a elevar os juros.  

Porém, a principal sinalização, segundo o especialista, será no quesito credibilidade. 

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva sempre pressionou o Banco Central por juros mais baixos.  “A alta da Selic ajudaria a construir a reputação do ‘novo Banco Central’. Dada a comunicação feita, a manutenção dos juros traria muito mais ruído ao mercado”, afirma o economista. 

"Bom para todo mundo" 

“Uma alta da Selic seria importante no contexto atual. Não apenas pelo risco inflacionário, mas pela credibilidade do BC nessa transição de presidência”, comenta um gestor de ações.  

“Se não subir, certamente será pior, porque a credibilidade do BC será abalada, o câmbio e as expectativas de inflação piorarão, e os juros longos aumentarão.” 

Outra consequência da queda dos juros longos é o ganho com ativos de renda fixa prefixados, dada a marcação a mercado. Isso ocorre porque os títulos emitidos com taxas de juros mais altas passam a oferecer um retorno superior em comparação com novos títulos emitidos em um ambiente de juros mais baixos, aumentando a demanda por esses títulos e elevando seus preços no mercado secundário. 

Além da queda dos juros longos, há a perspectiva de que a alta da Selic abra espaço para o BC iniciar cortes de juros no próximo ano, já com a credibilidade restaurada no mercado.  

O grande risco é – sempre ele – o fiscal.  

Esse foi um dos fatores que impulsionaram a taxa de juros longo nos últimos dias. A razão, segundo Wang, foi o Projeto de Lei Orçamentária Anual, entregue ao Congresso no fim da semana passada. 

“A percepção do mercado é que as premissas de receita e despesas estão muito otimistas. Há o risco de o governo alterar a meta de superávit primário para o próximo ano. Se houver uma desancoragem maior nas expectativas de inflação, será por risco fiscal e não por política monetária.” 

Outra questão é que o aumento dos juros no Brasil vem num momento em que outros países emergentes estão começando a reduzir suas taxas, ou ao menos as mantendo no mesmo patamar, o que, em tese, pode prejudicar  o fluxo estrangeiro.  

“Mas o aperto do ciclo aqui vai coincidir com uma redução na taxa de juros nos Estados Unidos, o que vai trazer um fluxo relevante para ativos de maior risco”, pondera um gestor de um grande fundo de ações da Faria Lima.  

Outro ponto, segundo ele, é que os múltiplos das empresas listadas no Brasil estão muito descontos, num momento em que os lucros tem surpreendido consistentemente para cima.  

“Estou bastante otimista.” 

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