Impacto da notícia é neutro e não deve ter grande efeito sobre os papéis | Foto: Chet Strange / Correspondente/ Getty Images (Chet Strange / Correspondente/Getty Images)
Beatriz Quesada
Publicado em 1 de outubro de 2021 às 14h46.
Última atualização em 1 de outubro de 2021 às 22h51.
O BNDES Participações (BNDESPar), holding do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, cancelou o processo de venda das ações da JBS (JBSS3) nesta sexta-feira, 1º de outubro. O plano da holding era realizar uma oferta pública secundária de ações para se desfazer de sua posição de 23,16% no capital do frigorífico, dando continuidade a um processo de desinvestimento que tem sido adotado por orientação do governo.
Após o anúncio do cancelamento da oferta, os papéis da JBS chegaram a subir, mas viraram para queda ao longo da tarde. No fechamento, as ações recuaram 1,97%, entre as maiores quedas do Ibovespa no dia. Analistas, no entanto, reforçam que o impacto da notícia é neutro e não deve ter grande efeito sobre os papéis no curto prazo.
“Com as ações da JBS em alta, o desinvestimento do BNDES parece ser uma questão de tempo. Não descartamos que o BNDES use outros mecanismos para sair da JBS”, argumentou Victor Saragiotto, analista do Credit Suisse, em nota.
O BNDESPar não informou os motivos para o cancelamento da oferta, mas uma das hipóteses é de que a instituição esteja esperando novas altas para o papel, que estão próximas do seu all-time high (recorde histórico).
As ações da JBS subiram quase 19% em setembro, registrando um dos melhores desempenhos da bolsa em um mês de fortes perdas. O papel também recebeu recentes recomendações de compra tanto do Morgan Stanley e do Santander, que enxergam um bom potencial de receitas considerando que a demanda chinesa por proteína animal deve continuar forte.
“O fluxo comprador continua forte para empresas de frigoríficos, influenciados principalmente pelo câmbio e margens nos produtos, principalmente no mercado norte-americano. O BNDES pode, então, esperar um melhor momento para realizar esse movimento de oferta de ações”, avalia Regis Chinchila, analista da Terra Investimentos.
Outro ponto a se considerar é a situação atual dos mercados. Os índices americanos registraram em setembro o pior mês desde o início da pandemia, com investidores precificando a retirada de estímulos. O cenário – somado à crises vindas da China e incertezas fiscais no Brasil – pode ser desafiador para uma operação desse porte.
“É possível que as recentes quedas do mercado brasileiro tenham atrapalhado a demanda dos investidores estrangeiros pela oferta. Não seria um momento ruim para fazer a operação por conta do desempenho individual da JBS, mas, como a quantidade de ações é muito grande, a oferta deve ser feita com calma”, afirma Sérgio Berruezo, analista de research da Ativa Investimentos.