Sede da Petrobras (PETR3) no centro da cidade do Rio de Janeiro (Sergio Moraes/Reuters/Reuters)
Para a agência de classificação de risco Fitch, as possíveis mudanças na gestão da Petrobras (PETR3) são uma das maiores preocupações dos investidores após a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva para a Presidência da República.
"A eleição de Lula preocupa investidores, dado seu passado com a empresa. Lula foi envolvido na Operação Lava Jato, que investigou supostos recebimentos de propinas por executivos para firmar contratos com construtoras a preços inflacionados", escreveu Saverio Minervini, diretor-sênior da Fitch no Brasil, em um relatório divulgado nesta sexta-feira, 4,, "O então ex-presidente foi condenado por lavagem de dinheiro e corrupção, recebendo uma pena de nove anos e meio, posteriormente aumentada para 17 anos. Ele cumpriu 580 dias e seu processo foi anulado no Supremo Tribunal Federal".
Para a Fitch, a Petrobras de 2022 é "fundamentalmente diferente" do que no período da gestão do Partido dos Trabalhadores (PT), tendo uma estrutura contábil muito mais sólida. "A companhia se reestruturou com o pagamento de quase US$ 100 bilhões em dívidas, 25% das quais financiadas por meio de desinvestimentos de ativos não essenciais, e se posicionou para aumentar a produção a um custo inferior ao de seus pares. Alavancagem e liquidez tornaram-se compatíveis com a categoria de rating ‘A’", explica o relatório.
Por isso, a agência de classificação de risco considera a existência de poucos fundamentos econômicos para interferir na Petrobras, pois a empresa deve gerar fortes fluxos de caixa, mesmo que com a expectativa de uma queda da cotação do petróleo para US$ 55 por barril.
Além disso, segundo a Fitch, o governo é o primeiro beneficiário das significativas receitas fiscais e dividendos da empresa, que podem chegar a quase 1% do PIB. "Permitir que a Petrobras mantenha suas políticas financeiras e seu plano de negócios é a melhor estratégia financeira para o governo federal", escreveu a Fitch, pois a União recebe US$ 22,4 bilhões da estatal petrolífera, além de US$ 25 bilhões em dividendos referentes à participação acionária de 28,7%. Um valor que deveria chegar em US$ 30 bilhões, o que representa 1,5% do PIB e 1,7% das receitas da União.
A Fitch salientou como é muito provável que Lula nomeie novos membros para o Conselho de Administração da Petrobras. "Historicamente, o governo usa sua autoridade para influenciar as decisões do Conselho", escreveram os analistas, explicando como "Lula provavelmente não fará nenhuma mudança material imediata, a fim de acalmar os stakeholders, mas o histórico do Brasil e da região mostra que estatais são utilizadas como instrumentos políticos para cumprir uma agenda mais ampla".
Para a Fitch, as escolhas de Lula para ministro da Fazenda, cargos do primeiro escalão para a direção de empresas e bancos estatais serão os primeiros sinais da direção política que ele pretende adotar.