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Ibovespa recua para o menor nível desde maio e fica negativo no ano

Preocupação com desaceleração da retomada econômica derruba bolsas internacionais; cenário fiscal doméstico também preocupa

Ibovespa acumula perdas de 0,94% no ano | Foto: Ricardo Moraes/Reuters (Ricardo Moraes/Reuters)

Ibovespa acumula perdas de 0,94% no ano | Foto: Ricardo Moraes/Reuters (Ricardo Moraes/Reuters)

BQ

Beatriz Quesada

Publicado em 17 de agosto de 2021 às 17h47.

O Ibovespa fechou o pregão desta terça-feira, 17, em queda acompanhando o cenário internacional de maior aversão ao risco, após dados econômicos voltarem a sinalizar uma desaceleração da retomada econômica. Por aqui, investidores continuam preocupados com o quadro político e fiscal. 

O principal índice da B3 caiu 1,07%, aos 117.903 pontos, atingindo a menor pontuação desde o dia 4 de maio. Na semana, as perdas acumuladas são de 2,71%. No ano, o Ibovespa passou de um acumulado positivo de 0,14% para perdas de 0,94%.

No mercado de câmbio, o dólar recuou 0,2% e encerrou a sessão negociado a 5,27 reais. Na máxima do dia, a moeda atingiu os 5,3 reais, o que gerou um fluxo de vendas que ajudou a derrubar a cotação ao final da sessão. O mercado de câmbio também passou hoje por uma correção após a forte alta de 0,68% na véspera. 

Depois da decepção com os indicadores da China no início da semana, foi a vez dos Estados Unidos desapontarem investidores. Divulgadas nesta manhã, as vendas do varejo americano caíram 1,1% em julho ante expectativa de queda de 0,3%. Por lá, ainda saíram os dados de produção industrial, que -- embora tenha crescido 0,9%, acima do esperado para o mês -- não foram suficientes para inverter a direção dos índices americanos, que fecharam em queda. O S&P 500 caiu 0,71%, o Dow Jones, 0,71% e o Nasdaq, 0,93%.

Como pano de fundo das negociações também estiveram as incertezas ligadas ao Oriente Médio, após o Talibã tomar o controle do Afeganistão, e também a possibilidade de o Federal Reserve (Fed, banco central americano) reduzir seus estímulos monetários de 120 bilhões de dólares mensais. Sinalizações sobre o início do processo chamado de "tapering" podem aumentar ainda mais as preocupações sobre o nível da retomada econômica. Por outro lado, a inflação americana continua numa crescente.

Na mínima do dia, o cenário externo derrubou o Ibovespa mais de 2%, levando o índice a recuar para a marca de 116.247 pontos. A bolsa recuperou parte do fôlego após declaração do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. O presidente afirmou que o BC irá cumprir a meta de inflação, mas os riscos fiscais continuam no radar. 

Nesta terça, a Câmara deve votar a reforma do imposto de renda, que pode aumentar a carga tributária sobre as empresas. O presidente da casa, Arthur Lira, já reconheceu, no entanto, que a votação pode acabar adiada mais uma vez por falta de consenso entre os deputados. 

As incertezas do cenário doméstico já começam a afastar investidores, como mostra a pesquisa mensal do Bank of America. O levantamento mostrou que a convicção dos investidores em ações brasileiras na comparação com outras classes de ativos caiu para o pior patamar desde março de 2018. 

Destaques da bolsa

Em um pregão marcado pelo pessimismo, apenas dez ações das 84 que compõe o Ibovespa fecharam o dia em terreno positivo. Entre as maiores altas estão os papéis da Yduqs (YDUQ3) e Cemig (CMIG4), reagindo aos balanços do segundo trimestre divulgados ontem à noite.

A Yduqs avançou 6,23% na bolsa após reverter prejuízo e apurar um lucro de 117 milhões de reais no segundo trimestre, um pouco abaixo do consenso da Bloomberg, de 145,5 milhões de reais. 

Já a Cemig subiu 2,81%, após a companhia apresentar lucro líquido de 1,95 bilhão de reais, 80% acima do registrado no mesmo período do ano passado. Sua receita líquida ficou em 7,35 bilhões de reais, acima do consenso da Bloomberg, de 6,27 bilhões de reais.

Em relatório, o analista Luis Sales, da Guide, classificou o resultado da Cemig como positivo, pontuando que o cenário deve se manter favorável para a companhia no curto prazo. "Acreditamos que a Cemig irá atravessar a crise hídrica com poucas dificuldades, visto que a maior parte do seu resultado é proveniente do segmento de distribuição. Como riscos, acreditamos que, além do inerente risco regulatório do setor elétrico, interferências políticas e potenciais consequências negativas relacionadas à CPI da Cemig, que apura possíveis fraudes em contratações sem licitação, devem ser mantidas no radar."

No extremo negativo, os papéis da Locaweb (LWSA3) despencam 6,91%. Na visão de Rafael Bombini, especialista em renda variável da EWZ Capital, as quedas se explicam pelo movimento de aversão à risco na B3 e no mundo.

“A Locaweb é uma ação que apresenta bastante volatilidade, e acaba sofrendo com a migração de grandes investidores para setores mais sólidos. Além disso o Itaú chegou a vender mais de 1,2 bilhão de reais de ações da empresa, o que ajudou a queda a ser bem expressiva

Já a Embraer (EMBR3), que acumula mais de 120% de alta no ano, caiu 6,63%, após o banco de investimento Cowen iniciar a cobertura do papel com recomendação neutra.

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