Ibovespa: Vale e Petrobras caem e puxam índice para baixo (Germano Lüders/Exame)
Publicado em 1 de agosto de 2024 às 10h45.
Última atualização em 1 de agosto de 2024 às 17h21.
O Ibovespa abriu o mês de agosto em queda. O principal índice da B3 caiu 0,15%, aos 127.395 pontos nesta quinta-feira, 1º. O dia foi marcado por um forte movimento de aversão a risco no exterior que impactou a bolsa brasileira. Investidores reagiram ainda às decisões de política monetária tomadas ontem pelo Banco Central brasileiro e o Federal Reserve (Fed, banco central americano).
No exterior, houve sinais de que o Fed pode começar a cortar juros em setembro – o que ajudou a manter a bolsa no azul pela manhã. Porém, o humor do mercado virou após a divulgação de indicadores econômicos nos EUA.
O índice de gerentes de compras (PMI) do setor industrial dos Estados Unidos recuou a 46,8 pontos em julho, abaixo dos 48,9 pontos previstos por analistas – um sinal de contração econômica. Além disso, os pedidos de seguro-desemprego nos EUA totalizaram 249 mil na semana passada, número acima dos 235 mil esperados pelo mercado.
Analistas e investidores temem que o Fed esteja demorando muito para cortar os juros, colocando os EUA em risco de recessão. A consequência foi um movimento de queda generalizada nas bolsas americanas, com o S&P 500 caindo 1,37%.
Outro fator que impactou a bolsa brasileira nesta quinta-feira foi a desvalorização de Vale (VALE3) e Petrobras (PETR3; PETR4) que fecharam em forte queda. Petrobras devolve os ganhos do dia anterior, quando se beneficiou da alta de quase 5% do petróleo de referência WTI.
Hoje, a commodity caiu até 1,2% acompanhando os temores de escalada no conflito no Oriente Médio após o o ataque de Israel ao Irã, com a morte do líder do Hamas, Ismail Haniyeh.
Assim como apontavam as expectativas, o Fed manteve a taxa de juros inalterada na faixa entre 5,25% e 5,50% ao ano (EUA). Por aqui, o Banco Central (BC) também manteve a taxa de juros em 10,5% ao ano. Essa é a segunda manutenção da Selic consecutiva neste ano.
O principal destaque da reunião do Copom foi em relação à alta da inflação, que não está sendo tão controlada como era previsto, é o que explica Hemelin Mendonça, especialista em mercado de capitais e sócia da AVG Capital.
As projeções de inflação do Copom para o primeiro trimestre de 2026 situam-se em 3,4% no cenário de referência e 3,2% no cenário alternativo, no qual a taxa Selic é mantida constante ao longo do horizonte relevante. "A política fiscal, que ainda está em desajuste, impacta diretamente a política monetária e é citada também como uma preocupação", pontua Mendonça.
Segundo o especialista, o tom do comunicado foi mais 'hawkish' (tendência a alta de juros), em linha com o que os últimos relatórios do Banco Central (BC) têm vindo, com o aumento de projeção da inflação para o final deste ano e 2025, além dos gastos do governo ainda altos, e o dólar no patamar de R$ 5,60.
Diferente do Brasil, onde se fala em uma probabilidade de alta de juros, nos Estados Unidos, o cenário é o inverso. O comunicado enfatizou novamente a necessidade de mais confiança nos dados para cortar juros. Entretanto, as respostas do presidente do Fed, Jerome Powell, aos jornalistas durante a coletiva aumentaram as apostas para o início do corte de juros em setembro.
“De nenhuma forma ele foi claro, mas deu bem mais pistas de que a queda de juros era iminente e que também ela ocorreria em setembro”, diz Beto Saadi, diretor de Investimentos da Nomos. Ao responder uma pergunta se o corte em setembro era esperado, Powell disse: "Um corte de taxa pode estar na mesa na reunião de setembro se a totalidade dos dados contribuir.”
Nesta quinta-feira, 1, o dólar subiu 1,43% a R$ 5,735, maior patamar desde 21 de dezembro de 2021, quando a divisa americana fechou em R$ 5,739. Para o economista André Galhardo, consultor econômico da Remessa Online, o real não está seguro nem mesmo com a possibilidade do início do ciclo de cortes nos EUA em setembro. Isso porque alguns fatores atuais interferem na moeda: aumento nas tensões geopolíticas no Oriente Médio e a última reunião do Copom.
O câmbio também está sendo acompanhado de perto pelo BC, já que a taxa de câmbio, cuja desvalorização foi forte e concentrada em um curto período de tempo, é uma das variáveis que pesam no aumento das expectativas inflacionárias. Caso ele siga pressionado, pode ameaçar o cumprimento da meta de inflação já ao final desse ano, é o que explica Lucas Farina, analista econômico da Genial Investimentos.
Segundo Luiz Rogé, economista, gestor de investimentos e sócio da Matriz Capital Asset, essa questão cambial foi expressamente mencionada no comunicado e como um fator inflacionário assim como também como um fator que altera a expectativa de inflação. "Por conta disso, o Banco Central irá monitorar o comportamento do câmbio."
Principal índice de ações da bolsa brasileira, a B3, o Ibovespa é calculado em tempo real, com base na média do desempenho dessa carteira teórica de ativos, cada uma com seu peso na composição do índice.
Funcionando como um termômetro do desempenho consolidado das principais ações para o mercado, cada ponto do Ibovespa equivale a 1 real. Por isso, se o Ibov está em 100 mil pontos, isso quer dizer que o preço da carteira teórica das ações mais negociadas é de R$ 100 mil.
O horário de negociação na B3 vai das 10h às 17h. A pré-abertura ocorre entre 9h45 e 10h, enquanto o aftermarket ocorre entre 17h25 e 17h45. Já as negociações com o Ibovespa futuro ocorrem entre 9h e 16h55.