Investidor: pessoa física compra R$ 9,25 bilhões em ações, enquanto o capital estrangeiro deixa o país (dowell/Getty Images)
Guilherme Guilherme
Publicado em 3 de março de 2021 às 16h17.
Última atualização em 3 de março de 2021 às 17h44.
Se até alguns anos atrás os investidores pessoas físicas eram conhecidos no mercado por fugirem da bolsa quando o cenário azedava, vendendo na baixa e realizando perdas, esse comportamento mudou.
Entre o dia 19 de fevereiro e o fim da última semana, a interferência do governo na Petrobras para evitar uma alta acentuada dos combustíveis reacendeu no mercado o temor de uma guinada populista, fazendo o Ibovespa cair dos 120.000 pontos para 110.000 pontos.
No período, os investidores pessoas físicas compraram 9,25 bilhões de reais a mais do que venderam em ações, com as compras superando em 17,23% as vendas.
Desta vez, porém, eles não estavam sozinhos. Fundos brasileiros -- os chamados investidores institucionais -- também compraram mais do que venderam, encerrando o período com saldo positivo de 1,96 bilhão de reais. No entanto, os gestores estiveram muito mais cautelosos, com as compras superando as vendas em apenas 2,76%.
Já os maiores vendedores do período foram os estrangeiros, que retiraram 11,35 bilhões de reais no período, chegando a reverter o saldo, que até então estava positivo no mês, em 4,56 milhões de reais.
Em fevereiro, a saída de capital externo da bolsa foi de 6,78 bilhões de reais — sendo o primeiro mês de saldo negativo desde setembro. Mas a fuga de estrangeiros do país não foi sentida apenas na bolsa.
Embora a forte queda das ações tenha encorajado investidores a buscar por boas oportunidades a preços atraentes, especialistas recomendam cuidado redobrado neste momento de poucas certezas e alta volatilidade no mercado local.
Para Alexandre Espírito Santo, economista-chefe da Órama, não é hora de comprar nem de vender. “Não acho que o investidor deve tomar uma decisão agora. Ainda está tudo confuso e há muitos ruídos. Se agir por impulso, o investidor corre o sério risco de fazer uma má escolha”, afirma.
Para Lucas Claro, analista do BTG Pactual digital, o Ibovespa não deve recuperar o patamar dos 120.000 pontos no curto prazo. “[O Ibovespa] deve ficar mais ‘amarrado’, com muita volatilidade, mas sem evoluir para um lado ou para o outro”, diz.
Segundo ele, a melhor alternativa é esperar até que o mercado esboce algum sinal de melhora consistente. “Tem oportunidade na mesa? Sempre tem, mas não é o melhor momento de comprar.”
Analista gráfico da Ativa Investimentos, Marcio Lorega explica que o Ibovespa vem passando por uma tendência de queda de curto prazo, ainda que a de longo prazo seja de alta. Mas, antes de começar a subir, o índice ainda pode chegar a algumas regiões de suporte, que seriam as de 107.000, 105.000 e 103.800 pontos.
“A barreira psicológica da faixa de 100.000 pontos também pode ser um suporte acionado caso haja um movimento mais agressivo com volume na queda”, afirma.