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A grande fuga de Wall Street: empresas chinesas 'mudam' em massa para Hong Kong

Uma série de grandes empresas chinesas começaram a se delistar das Bolsas de Valores dos Estados Unidos, e outra 200 poderiam seguir

Wall Street, Estados Unidos (Matteo Colombo/Getty Images)

Wall Street, Estados Unidos (Matteo Colombo/Getty Images)

A "grande fuga" das empresas chinesas de Wall Street parece ter começado de vez.

A partir da última sexta-feira, 12, uma série de grandes empresas chinesas começaram a se delistar das Bolsas de Valores dos Estados Unidos.

As cinco gigantes estatais China Life Insurance, PetroChina, China Petroleum & Chemical, Aluminium of China e Sinopec Shanghai Petrochemical, que somam juntas US$ 370 bilhões em capitalização de mercado anunciaram que vão retirar seus ADR (certificados de depósitos americanos). 

A Didi Global já tinha deixado a Bolsa de Valores de Nova York (NYSE) em junho, enquanto o Alibaba (BABA34) informou nos últimos dias que a Bolsa de Valores de Hong Kong será sua "listagem primária".

Outras duzentas empresas também estão prestes a deixar o mercado financeiro americano.

Crise geopolítica e novas regras obrigam a sair de Wall Street

Uma mudança impulsionada pelas tensões geopolíticas entre China e Estados Unidos no estreito de Taiwan, com as pressões das autoridades chinesas para que as empresas "voltem para casa".

Além disso, a aplicação por parte das empresas das novas - e mais duras - leis chinesas sobre o tratamento de informações sensíveis poderia tornar a listagem nos EUA impossível.

Por último, a possibilidade que os reguladores norte-americanos fiscalizarem as auditorias das empresas chinesas impôs a retirada do mercado americano.

Esse último ponto foi confirmado pela Comissão de Valores Mobiliários da China (CSRC), que salientou "preocupações comerciais" como causa dessas delistagens.

A PetroChina apontou o "encargo administrativo considerável para o cumprimento das obrigações de divulgação necessárias à manutenção da cotação na NYSE, devido às diferenças de regras entre os diferentes locais de cotação. Hong Kong e Xangai também são alternativas válidas para melhor proteção dos interesses dos investidores”. 

Para a Sinopec, gigante do petróleo e petroquímica, a culpa está no "importante ônus administrativo decorrente da manutenção da listagem na NYSE, do registro dos anúncios e das ações subjacentes na Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos e no cumprimento a longo prazo das relatórios periódicos e obrigações relacionadas do Exchange Act".

China abre as torneiras do crédito

A saída do maior mercado de capitais do mundo significaria uma redução da capacidade de financiamento de empresas chinesas.

A CSRC já tentou amenizar o impacto, salientando como essa mudança para Hong Kong "não afetará o uso das empresas dos mercados de capitais nacionais e estrangeiros para financiamento e desenvolvimento".

Mas ao deixar Wall Street, símbolo da globalização dos mercados financeiros, as empresas chinesas estão abrindo mão de uma base de investidores de US$ 52,5 trilhões em ativos sob gestão, ante os US$ 7,1 trilhões da China, segundo um estudo de 2020 da McKinsey.

Por outro lado, o dinheiro não vai faltar na China. No começo desse mês, o Banco Central de Pequim cortou surpreendentemente as taxas de juros de 10 pontos base, para 2,75%, abrindo contextualmente as torneiras de liquidez.

Uma ajuda providencial para o setor imobiliário chinês, que enfrenta uma profunda crise, mas também para novos investimentos.

As autoridades locais estão tentando oferecer um alívio para as contas dos bancos. Tarefa difícil em um momento de crise da bolha imobiliária.

Os cidadãos chineses que investiram suas poupanças e não receberam seus imóveis estão protestando contra as incorporadoras, em um fenômeno inédito na China que está ganhando proporções cada vez maiores.

A grande vencedora desse cenário complexo é, sem dúvidas, Hong Kong, que agora está pronta para substituir Wall Street nos investimentos chineses no exterior.

Apesar das manobras políticas de Pequim para acelerar o percurso de reunificação, previstos cinquenta anos após 1997, data da passagem de poderes entre Grã-Bretanha e China, a ex-colônia britânica mantém intacta toda a sua autonomia financeira.

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