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Gestor de fundo de ações tem situação dramática, diz diretor

Em 12 meses, até janeiro, os fundos de ações perderam R$ 14 bilhões em depósitos, ou 7% do total investido


	Bovespa: gestoras estão reduzindo equipes, associando-se ou fechando
 (Nacho Doce/Reuters)

Bovespa: gestoras estão reduzindo equipes, associando-se ou fechando (Nacho Doce/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 5 de fevereiro de 2015 às 15h38.

São Paulo - A situação da maioria das gestoras de recursos que cuidam de fundos de renda variável, como ações e multimercados, é “dramática”, desabafa o diretor de uma grande empresa do setor.

Além da fraqueza do mercado acionário, que vai para o quinto ano de resultados ruins, com os preços das ações de empresas de menor porte em queda e sem compradores, há a concorrência dos juros mais altos e dos papéis isentos de imposto de renda, as LCI e LCI, que atraem os investidores locais.

Em 12 meses, até janeiro, os fundos de ações perderam R$ 14 bilhões em depósitos, ou 7% do total investido. O resultado são gestoras reduzindo equipes, associando-se ou fechando.

Os resgates acompanham o mau desempenho do mercado de ações. De dezembro de 2012 até 30 de janeiro deste ano, o Índice de Small Caps, das empresas de menor porte, caiu 38%, sendo 12% só no mês passado.

No mesmo período de três anos, o Ibovespa já caiu 23%.

Cadê o estrangeiro?

Já os estrangeiros, que seriam potenciais compradores na baixa, aproveitando as oportunidades e as pechinchas, querem distância do mercado brasileiro.

“Não há compradores externos pois estão todos esperando o ajuste do câmbio, que hoje está num nível irreal e terá de subir para ajustar as contas externas e reduzir o desaquecimento econômico via exportações”, diz o gestor.

“Os estrangeiros também acham que o impacto de um racionamento de energia não está ainda embutido nos preços das ações e preferem ficar fora”, acrescenta o executivo, que pediu para não ter seu nome e o de sua empresa citados.

Sem esses ajustes e ainda com a incerteza em relação à firmeza da política econômica brasileira, os “gringos” seguem longe do mercado brasileiro, apesar da grande liquidez mundial proporcionada pelos incentivos dados pelos bancos centrais europeu e japonês.

E as ações menos líquidas, de empresas médias, são as que sofrem mais. “Os preços estão achatados, há empresas sendo negociadas por valores abaixo dos de sua geração de caixa, mas não há compradores”, diz.

Em janeiro, apenas 10 ações das 69 que formam o Índice Bovespa fecharam o mês em alta.

A maior, Souza Cruz ON, com 16,41%, seguida de Hypermarcas ON, com 9,49% e Ambev ON, com 9,33%.

As maiores quedas são da operadora Oi PN, com -42,04%, da construtora PDG Realty ON, com -39,53%, da Usiminas PNA, com 33,66%, e da Estácio Participações ON, com -29,93%. Em 12 meses, Oi perde 87,68%, PDG 69,41% e Usiminas, 72,45%.

Além desse fator geral, há os pontuais, como as empresas de educação, que eram as favoritas do mercado, mas começaram o ano com fortes quedas após o governo tornar mais duras as regras de acesso ao financiamento educacional.

Assim, além da Estácio, os da Kroton caem 20,65%e Ser Educacional, presente no Índice Small Caps, cai 54,38%.

Já outros papéis fora do Ibovespa chegam a perder ainda mais, como a empresa de engenharia Mills, com -40,59% no ano e -79,36% em 12 meses, por conta do receio do impacto dos escândalos da Petrobras no setor de infraestrutura com as denúncias contra grandes empreiteiras.

Busca de proteção

Nesse cenário, esse gestor tem tentado se proteger aumentando a parcela de dinheiro em caixa em fundos, aplicado em CDI, e fazendo apostas em dólar nas carteiras onde isso é possível, como nos multimercados.

“O problema é que o ajuste do dólar está demorando e o custo de carregamento é alto”, diz.

Outra estratégia é ficar em prefixados, uma vez que o desaquecimento da economia tende a reduzir a inflação e segurar os juros.

“Um racionamento pode até aumentar os juros num primeiro momento, mas depois, com o impacto na economia, a inflação tende a cair”, diz.

Menos gestores

Outra situação é a redução de gestoras independentes operando com ações.

Com a queda dos volumes, a rentabilidade originada pelas taxas de administração cobradas sobre os patrimônios dos fundos despenca.

E se torna difícil para empresas de menor porte, que ainda não atingiram um volume elevado de investimentos, manter as equipes. E mesmo os grandes bancos tendem a reduzir suas áreas de renda variável.

Recentemente, a Fama Investimentos unificou várias carteiras de ações para reduzir custos e a Capitânia decidiu sair do segmento de multimercados e ações e se concentrar em fundos de crédito, sua especialidade.

Outras estudam associações, como forma de ganhar escala e reduzir custos fixos, o que exige, porém, afinidade entre os participantes e aceitação dos clientes.

“É um pouco difícil fechar a gestora ou se associar, o que é mais comum é o dono ou os principais sócios reduzirem as equipes e ficarem só cuidado do próprio dinheiro”, afirma George Wachsmann, da gestora de patrimônio GPS.

Ele lembra que a fase ruim do mercado de renda variável acentua a necessidade de ajuste das gestoras, com os grandes investidores também se tornando mais seletivos, o que leva a uma concentração do mercado em casas maiores.

Gestores que não tinham a renda variável como negócio principal, por exemplo, podem repensar a estratégia e se concentrar no que fazem melhor.

“Isso é cíclico, estamos em uma fase de baixa do mercado e todos têm de se ajustar”, diz. ”Infelizmente, todo mundo deve reduzir equipes.”

Impacto nas corretoras também

O impacto se estende às corretoras, que ficam sem grandes clientes para operar no mercado de ações e reduzem suas mesas de atacado.

No fim do ano passado, a portuguesa Caixa Geral de Depósitos (CGD) fechou a corretora de atacado no Brasil, mantendo apenas a parte de varejo em parceria com a Rico. E outras estudam seguir pelo mesmo caminho.

Ao mesmo tempo, como as receitas das corretoras de valores estão em baixa, ameaçando sua solidez financeira, os clientes institucionais também ficam mais cuidadosos ao escolher os parceiros para operar no mercado.

Do ano passado para cá, uma grande empresa de gestão reduziu de 25 para 17 o número de corretoras com quem opera no mercado.

“A situação das corretoras já era difícil e ficou ainda pior com o mercado acionário ruim, então temos de ser mais cuidadosos na análise de crédito, para definir com quem vamos trabalhar”, diz um executivo dessa grande gestora.

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