Fitch rebaixa Brasil a "BB-" com desistência da Previdência
Com isso, o Brasil ficou ainda mais longe do chamado grau de investimento, que classifica os países como bons pagadores
Reuters
Publicado em 23 de fevereiro de 2018 às 13h24.
Última atualização em 23 de fevereiro de 2018 às 14h08.
São Paulo - A agência de classificação de risco Fitch rebaixou nesta sexta-feira o rating do Brasil a "BB-" com perspectiva estável, citando a situação fiscal do país e o que chamou de "importante retrocesso" na agenda de reformas após o governo do presidente Michel Temer ter desistido de votar a reforma da Previdência .
Com isso, o Brasil ficou ainda mais longe do chamado "grau de investimento", que classifica os países como bons pagadores.
"O rebaixamento do Brasil reflete seus persistentes e grandes déficits fiscais, alto e crescente peso da dívida pública e a falta de legislação sobre reformas que melhorem o desempenho estrutural das finanças públicas", trouxe a Fitch em nota.
E acrescentou: "A decisão do governo de não colocar a reforma da Previdência em votação no Congresso representa importante retrocesso na agenda de reformas, que mina a confiança na trajetória de médio prazo das finanças públicas e do compromisso político para abordar o problema".
Até então, a Fitch classificava o Brasil como "BB" com perspectiva negativa e nesta semana já havia indicado que faria o movimento de rebaixamento, explicando justamente que o fracasso na reforma da Previdência pressionava a nota do país.
Na segunda-feira, o governo jogou a toalha sobre a votação da matéria e apresentou um conjunto de medidas econômicas, boa parte delas já em tramitação no Congresso, para tentar amenizar o impacto da decisão no ambiente econômico.
Apesar de esperada, a desistência oficializa o adiamento da solução para colocar as contas públicas do Brasil em ordem, o que deve pressionar o próximo governo a ser eleito neste ano.
No início de janeiro, a Standard & Poor's já havia cortado o rating do Brasil a "BB-", ante "BB", justamente em função da demora na aprovação de medidas para reequilibrar as contas públicas e de incertezas ligadas às eleições.
ELEIÇÕES
A Fitch argumentou agora que o ambiente "político desafiador" afetou a capacidade do governo de garantir aprovações do Congresso de medidas que possam consolidar as contas públicas em 2018. Lembrou que o governo não conseguiu aprovar, por exemplo, tributação sobre fundos exclusivos.
"As eleições presidenciais e parlamentares de outubro significam que a reforma da Previdência será adiada até as eleições e há incerteza quanto sobre se a próxima administração poderá garantir sua aprovação em tempo hábil", escreveu a agência.
Do lado positivo, a Fitch destacou que o balanço de pagamentos do Brasil permanecerá relativamente forte e, assim, servindo de colchão para choques domésticos. A agência informou ainda que projeta crescimento médio de 2,6 por cento do país entre 2018 e 2019, acima da expectativa de expansão de 1 por cento para 2017.
Em nota, o Ministério da Fazenda reagiu ao rebaixamento argumentando que governo segue comprometido em progredir com a agenda de reformas macro e microeconômicas destinadas a garantir o equilíbrio das contas públicas". A Fazenda, contudo, não fez nenhuma menção direta à Previdência em sua nota.
Os mercados financeiros brasileiro não reagiram ao rebaixamento da nota soberana brasileira pela Fitch nesta sexta-feira, por ser um movimento esperado e já precificado.
A agência Moody's, também nesta semana, afirmou que a desistência da reforma da Previdência era ruim para a nota brasileira por colocar em risco o cumprimento da regra do teto de gasto. No entanto, ela ainda mantém o país com nota "Ba2", com perspectiva negativa, já sem o chamado "grau de investimento".