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Fed põe em xeque Ibovespa a 140 mil pontos; incerteza com Israel-Hamas entra no radar

Cenário tende a elevar a possibilidade de políticas monetárias restritivas por mais tempo do que o imaginado

Fator extra: conflito entra Israel e Hamas pressiona preço do petróleo (Samuel Corum/Bloomberg)

Fator extra: conflito entra Israel e Hamas pressiona preço do petróleo (Samuel Corum/Bloomberg)

Estadão Conteúdo
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Agência de notícias

Publicado em 15 de outubro de 2023 às 09h29.

As incertezas externas reavivadas principalmente em decorrência da disparada dos títulos do Tesouro dos Estados Unidos começam a colocar sob revisão as projeções de até 140 mil pontos para o Ibovespa deste ano, elevando ainda mais as dúvidas em relação a 2024.

Este cenário já turvo ganha um ingrediente extra: o conflito entre Israel e os terroristas do Hamas, que já deixou centenas de pessoas mortas, e pressiona o petróleo para perto de US$ 90 o barril.

Isso tende a elevar a possibilidade de políticas monetárias restritivas por mais tempo do que o imaginado. Ainda que a valorização do petróleo beneficie as ações do setor petrolífero, a disparada do barril eleva os riscos inflacionários.

Segundo João Daronco, da Suno Research, os efeitos nos mercados dependerão do quanto vai durar o conflito e qual será sua intensidade, além do fato de se a guerra escalará para outras regiões e se mais países aderirão a este acontecimento.

"Isso vai ditar muito sobre o preço do Brent [petróleo do tipo Brent, referência para a Petrobras], se irá ficar alto por mais tempo", afirma. Algumas instituições ainda mantêm suas expectativas de 140 mil pontos para o Índice Bovespa no fim de 2023, mas já não escondem que o número pode terminar em menor nível não só neste ano, mas também no seguinte.

Com uma política monetária apertada no exterior, o espaço para cortes de maior intensidade da taxa Selic tende a diminuir, bem como um eventual ciclo de queda menor.

A Guide Investimentos, por exemplo, colocou sob revisão o preço-alvo do Ibovespa. Antes, a casa esperava 140 mil pontos para o fim de 2023, mas viu que o ambiente de aversão a risco se acentuou lá fora e dificultou uma melhora local, mesmo com o início de trajetória da queda da Selic.

"Os fundamentos internos ainda caminham de forma positiva. A Selic iniciou sua queda e o desempenho das empresas tem sido bom, mas obviamente a piora nos títulos dos EUA não era esperada no começo do ano. Com isso, uma melhora mais consistente do mercado financeiro pode demorar um pouco", afirma o gerente sênior de Research da Guide Investimentos, Fernando Siqueira.

Siqueira diz que três meses parece "pouco tempo" para que o Ibovespa tenha uma virada, mas espera que essa tendência de melhora se concretize em 2024.Assim, mesmo que o Ibovespa não vá para algo entre 130 mil e 140 pontos, a tendência é de um avanço considerável ao considerar o atual nível.

Na última pesquisa do Bank of America (BofA), a maior parte dos gestores esperava o Ibovespa entre 130 mil pontos e 140 mil pontos no fim de 2024, colocando como maior risco a este cenário um aumento dos juros americanos.O Inter, contudo, estima desde dezembro de 2022 que o principal índice da B3 deve encerrar 2023 aos 118 mil pontos.

"Continuamos com essa projeção. Não que éramos mensageiros do caos, mas, na nossa opinião, era enxergar a realidade do que já tínhamos. Quando tentávamos olhar para frente, o cenário de corte de juros por aqui já parecia dado, a China desacelerando já era esperado, e os Estados Unidos eram a maior incógnita", afirma a estrategista-chefe do Inter, Gabriela Joubert.

Neste ambiente, especialistas ouvidos pelo Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado) avaliam ser prematuro traçar um cenário para o Índice Bovespa antes de o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) sinalizar o rumo da sua política monetária.

"Vai depender muito dos próximos movimentos do Fed, independente de tudo o que está acontecendo. A partir daí, veremos se o mercado continuará considerando que há ativos baratos ou se buscará proteção", pontua o estrategista-chefe do Grupo Laatus, Jefferson Laatus.

Joubert, do Inter, afirma que a estimativa para o Ibovespa em 2024 ainda está sob revisão, a fim de ter um pouco mais de clareza em termos macroeconômicos. "Se para adivinhar o que vai acontecer com o Fed em novembro já está difícil, imagina prever o que vai ser em 2024?", pontua.

Ainda que muitos considerem que há ativos "descontados" na carteira do Ibovespa, a força da atividade dos EUA e o sinal de uma inflação que custa a ceder rumo à meta de 2,00% reforçam a cautela. Com isso, estima-se que o Fed deixará os juros em nível elevado por mais tempo do que o esperado - isso se não optar por um novo aumento dos Fed Funds ainda em 2023.

"Com essa expectativa e em meio ao nível elevado dos Treasuries, tira força mesmo estando barato. Não vejo muito rali para fim do ano. Tudo o que pode vir para cá é mais do lado negativo do que de positivo. Além do mais, há as incertezas fiscais, se o governo conseguirá aumentar a arrecadação de forma a zerar o déficit fiscal em 2024", relata o operador da mesa institucional da Renascença, Luiz Roberto Monteiro.

O que pode trazer maior tração para o Ibovespa nestes últimos três meses do ano, segundo Joubert, do Inter, é a China. "Caso o cenário de estabilização se confirme na economia asiática, isso sim pode destravar valor, considerando o peso das empresas do segmento no índice, como Vale - que é a companhia com maior peso no Ibovespa", explica.

Contudo, a estrategista-chefe do Inter pontua que "mais uma vez, a política monetária dos EUA ainda é o principal ponto de atenção" e que o último payroll - quando os Estados Unidos criaram 336 mil novos empregos em setembro, ante expectativa de 175 mil vagas, segundo o Projeções Broadcast - adiciona um elemento a mais de incerteza.

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