Aeronave 737 Max da Alaska Airlines: porta de avião da companhia aérea explodiu durante o voo no início deste ano (David Ryder/Bloomberg via /Getty Images)
Repórter
Publicado em 14 de março de 2024 às 18h48.
Última atualização em 14 de março de 2024 às 18h48.
A Boeing tem enfrentado uma tempestade perfeita dentro e fora da empresa, com acusações graves sobre suas linhas de fabricação, quedas de aeronaves e até explosão durante voo. Se já não fosse o suficiente, no fim de semana, um ex-funcionário que denunciou irregularidades na companhia apareceu morto, supostamente em um suicídio por arma de fogo.
Tudo isso tem se refletido no preço das ações da empresa. Os papéis da Boeing já caíram 44% neste ano, provocando uma perda de US$ 86 bilhões em perda de valor de mercado. A queda coloca a companhia na pior performance de todas as quinhentas empresas que compõem S&P 500, principal índice de ações do Estados Unidos. Com a desvalorização, a companhia também perdeu o posto de maior fabricante de aeronaves do mundo, ocupado, hoje, pela europeia Airbus, com US$ 137 bilhões em valor de mercado contra US$ 110 bilhões da Boeing.
Embora a Boeing tenha sofrido neste ano, o pesadelo da companhia começou em 2018. Especificamente, em outubro daquele ano, quando houve o primeiro acidente aéreo envolvendo um 737 Max, na Indonésia.
A aeronave foi lançada pela Boeing como o ápice da tecnologia do setor aéreo. Especulava-se no início que a queda do primeiro 737 seria pela falta de conhecimento do piloto sobre as funcionalidades da aeronave. Mas, pouco tempo depois, ficou provado que houve problemas relacionados ao sistema automático da aeronave, que constantemente estava "puxando" o bico para baixo. Foram mortas no acidente 189 pessoas. Menos de um ano depois, um segundo modelo 737 Max se envolveu em um acidente. Desta vez, na Etiópia, deixando 157 mortos.
A sequência de acidentes deixou todo o setor aéreo em estado de alerta sobre as possíveis consequências de colocar um 737 Max no ar e todos os voos envolvendo o modelo chegaram a ser suspensos. A GOL, que havia encomendado 120 aeronaves 737 Max, decidiu interromper os voos com o avião. Outras companhias fizeram o mesmo ao redor do mundo. Na Indonésia, onde houve o primeiro acidente, o modelo chegou a ser suspenso por dois anos.
Os problemas do 737 Max voltaram a assombrar a Boeing em 2023, levando a empresa a decidir cortar parte das entregas por falhas em componentes feitos por fornecedores. Neste ano, o 737 se envolveu em mais polêmicas, com o estouro de uma das portas de uma aeronave 737 Max da companhia americana Alaska Airlines durante o voo.
A falha, embora não tenha deixado mortos graças ao pouso forçado do avião da Alaska, teve uma série de implicações para a Boeing, a começar pelo preço das ações. Logo no primeiro pregão após o incidente, as ações da Boeing desabaram 8%. A queda foi a maior em quase dois anos, mas apenas um prenúncio do que viria.
Companhias aéreas do mundo inteiro e agências regulatórias tiveram que suspender o uso do modelo até que passassem por uma nova inspeção e atualização de recursos. No Brasil, os voos foram suspensos pela Agência Nacional de Aviação Comercial (ANAC), afetando também as operações das companhias aéreas.
Após uma auditoria de seis semanas, a Administração Federal de Aviação (FAA na sigla em inglês) constatou uma série de problemas na linha de produção das aeronaves 737 Max, de acordo com uma reportagem do New York Times. A constatação é de que a companhia teria sido reprovada em 33 de 89 auditorias na fabricação do modelo. Entre os erros que teriam sido encontrados estaria o uso de detergente no lugar de lubrificantes na vedação da porta.
A companhia afirma que tem inspecionado as aeronaves e realizado atualizações, inclusive, em equipamentos não relacionados ao problema que acarretou a explosão da porta da Alaska Airlines.
Esta não é a primeira vez que a companhia é acusada de cometer erros em sua linha de fabricação. Um das acusações mais graves é quanto ao modelo 787. De acordo com John Barnett, um ex-engenheiro da companhia com 30 anos de casa, os funcionários, sob pressão, estariam deliberadamente instalando peças abaixo do padrão em aeronaves na linha de produção. À BBC, ele ainda afirmou que cerca deum quarto dos sistemas de oxigênio poderia apresentar problemas, caso os passageiros necessitassem.
No último sábado, Barnett, de 62 anos, apareceu morto em sua casa. A causa seria suicídio por arma de fogo. O caso, que segue em investigação, levantou suspeitas e teorias conspiratórias.
Enquanto os problemas da Boeing se avolumam, investidores seguem cobrando o preço nas ações. Somente nesta semana, após a morte de Barnett, a Boeing acumula 8,7% de queda, ou US$ 10 bilhões em valor de mercado.