Acertar a trajetória e a cotação do dólar se tornou uma das tarefas mais difíceis para o mercado em 2021 | Foto: Ricardo Moraes/Reuters (Ricardo Moraes/Reuters/Reuters)
Da Redação
Publicado em 18 de setembro de 2021 às 08h45.
Acertar a direção do dólar e a cotação ao fim do ano se tornou uma das tarefas mais desafiadoras do mercado em 2021. Na semana que passou, o ministro da Economia, Paulo Guedes, disse que o câmbio de equilíbrio deveria estar entre 3,80 e 4,20 reais não fosse o "barulho político" -- as declarações foram dadas no MacroDay, promovido pelo BTG Pactual.
O fato é que, depois de ser negociado abaixo do patamar de 5,00 reais no fim de junho, o dólar voltou a se fortalecer em relação à moeda brasileira nos últimos meses. Na sexta-feira, dia 17, encerrou com cotação de 5,28 reais.
Mas estrategistas do Citi decidiram manter a recomendação "overweight" (acima da média) para o real, bem como para moedas de mercados emergentes, citando que no caso brasileiro a comunicação do Banco Central continua "hawkish" (inclinada a mais altas de juros). Isso deve seguir como o principal determinante do câmbio no curto prazo, disseram em relatório.
A taxa Selic está em 5,25% ao ano e, segundo projeções do boletim Focus, do Banco Central, deve chegar ao fim de 2021 em 8,00%.
Em meio a riscos de menor crescimento da economia doméstica em 2022 e inflação mais alta -- há especialistas que alertam para estagflação --, tendo como pano de fundo externo a iminência do início de redução de estímulos pelo Fed, os profissionais do Citi avaliam que o principal risco para a taxa de câmbio segue do lado das contas públicas.
Na América Latina, o Citi se diz "levemente vendido" em dólar (ou seja, apostando na queda da moeda) dentro da carteira de bônus da região e ainda "comprado" (vendo movimento de alta) no real e no peso uruguaio.
Na região conhecida pelo acrônimo CEEMEA (Europa, África e Oriente Médio), o banco segue vendo ganhos para rublo russo e rand sul-africano. Na Ásia, as apostas são em iuan chinês e ringgit malaio contra peso filipino e baht tailandês.
Em relação ao mercado de renda fixa do Brasil, os estrategistas do Citi dizem ter notado clientes "reticentes" para assumir posições "doadas" de juros -- ou seja, que ganham com a queda nas taxas. É uma postura mais visível entre os investidores locais.
Os motivos vão desde o receio antes da leitura do IPCA de setembro até a deterioração das expectativas de inflação para 2022 -- a projeção passou de 3,90% há quatro semanas para 4,03% na mais recente, segundo o boletim Focus --, passando pelo temor em torno da mudança nas regras de pagamento dos precatórios.
Profissionais de mercado observaram que a queda dos contratos DIs depois da divulgação da carta do presidente Jair Bolsonaro à nação no último dia 9 foi predominantemente ditada por redução de posições tomadoras de juros do que por abertura de posições doadoras.
A carta que sinalizou uma trégua com os demais Poderes e, em especial, com o Supremo Tribunal Federal se seguiu a uma péssima reação de investidores e políticos ao discurso do presidente no feriado de 7 de Setembro, com ataques ao STF e à ordem democrática.
"Por fim, destacamos que o IPCA deve agora atingir o pico em setembro, e não em agosto. Isso empurra um pouco mais para a frente quaisquer janelas para se iniciar posições doadoras em juros com base na lógica que se deve vender taxa quando o IPCA atinge o pico", disseram os estrategistas no relatório.
O IPCA de agosto veio bem acima do esperado, em 0,87%. Foi a taxa mais alta para o mês desde 2000 e, na variação acumulada em 12 meses, a inflação ficou perto de dois dígitos, em 9,68%. O IPCA de setembro será divulgado pelo IBGE em 8 de outubro.
(Com a Reuters)