Christian Keleti, CEO da Alpha Key: "É uma companhia com potencial para dobrar ou até triplicar de valor na bolsa" (Gunther Werk/Exame)
Publicado em 18 de novembro de 2024 às 17h19.
Última atualização em 19 de novembro de 2024 às 09h46.
Christian Keleti, CEO da gestora de ações Alpha Key, avalia que a bolsa brasileira está em um nível de “extremo pessimismo”, o que considera injustificado diante das expansões de lucro reportadas pelas empresas listadas. Embora enxergue assimetrias favoráveis, Keleti pondera que faltam gatilhos de curto prazo, em razão do baixo apetite de investidores estrangeiros pelo Brasil e da concorrência com a renda fixa.
Apesar do cenário desafiador, a Alpha Key tem mostrado resultados robustos. No ano passado, o principal fundo da casa apresentou um retorno de 33%, enquanto neste ano acumula 12,6%. “Muita coisa quebrou na bolsa [nesse período], sumiu ou não vai voltar ao preço anterior. É muito difícil, mas conseguimos provar que dá para ganhar quando o mercado não mexe”, afirmou Keleti em entrevista ao programa Vozes do Mercado, da Exame.
Entre as ações que mais chamam a atenção de Keleti estão as da Priner. A empresa, que estreou na bolsa como um spin-off da Mills focado em andaimes, diversificou consideravelmente seus negócios. “É uma companhia com potencial para dobrar ou até triplicar de valor na bolsa”, avalia.
O CEO recorda que participou do IPO da empresa no início de 2020, mas vendeu os papéis pouco depois, durante a pandemia, devido à baixa liquidez. “Quando voltamos a olhar, há cerca de um ano e meio, a empresa tinha quadruplicado o Ebitda, mas o valor de mercado seguia o mesmo do IPO, cerca de R$ 450 milhões.”
Desde que retomou posição nas ações, a empresa já se valorizou aproximadamente 50%, segundo o gestor, mas ele acredita que há espaço para uma maior apreciação. “Hoje, o papel está negociando um pouco acima de 3x Ebitda. Antes estava abaixo disso, o que era um absurdo considerando nossos cálculos. Mesmo agora, ainda está muito barato.”
Keleti destaca que a empresa está em uma situação confortável de alavancagem e projeta um forte aumento de receita, impulsionado pela recente aquisição da Real Engenharia, que ele classifica como “transformacional”. “Essa compra deve aumentar a receita em 50%, em um segmento de margens mais altas e com barreiras de entrada relativamente elevadas. Eles trabalham em plataformas de petróleo certificadas pelos nórdicos. A Real presta serviços para a Vale e começará a atuar também em Carajás”, explica. “A Priner tem hoje quatro ou cinco verticais de negócio que não estão valendo nada na bolsa.”
Devido à baixa liquidez das ações, Keleti alocou posições menores nos fundos líquidos da Alpha Key. O principal investimento na Priner, no entanto, foi realizado por meio de um fundo exclusivo, que conta com recursos de sócios e grandes clientes, sem prazo determinado para o desinvestimento. “É uma ação que ainda está nesse preço porque é uma small cap pouco acompanhada, mas que está ganhando liquidez. Ela entrará no Índice de Small Caps no próximo mês e está completamente desarbitrada.”
Keleti cita uma estratégia semelhante adotada na aquisição de ações da GetNinjas, quando a empresa era negociada na bolsa com um valor de mercado inferior ao volume de caixa. “Foi como comprar R$ 1 por R$ 0,40”, relembra. No final, a posição foi vendida para a Reag, que adquiriu o controle da empresa. “Ganhamos 70% em três meses.”
Keleti se define como um investidor “sem preconceitos”, característica que justifica parte de suas apostas fora do consenso do mercado. Entre as posições que mais contribuíram para o desempenho dos fundos da Alpha Key estão Direcional e C&A, que acumularam valorização de cerca de 50% somente neste ano. “Acertar sozinho não é tão simples, mas é muito satisfatório”, afirma.
Outra ação que Keleti decidiu investir antes de atrair os holofotes foi a Porto Seguro, atualmente a segunda maior posição da gestora. “Nos aproximamos da empresa lá atrás, quando todos tinham preconceito. Porto Seguro não é só seguro de automóveis; tem saúde, serviços e o banco, que representa 25% do resultado da companhia. Está negociando a 8 vezes lucro, mas por que não poderia ir para 10 vezes, se cresce 20% ao ano? Quando o mercado tem preconceito e não olha, é justamente onde está a oportunidade”, explica.