Eles driblaram a crise

Segunda-feira 17 de julho de 2006. Manhã nublada no centro velho do Rio de Janeiro. Um grupo de 15 economistas, analistas de mercado e administradores de recursos discute animadamente os movimentos do mercado e a grande notícia do fim da semana, a tentativa da Sadia de assumir o controle da concorrente Perdigão por meio de uma aquisição hostil. A conversa vai nortear as decisões de compra e venda de ações e títulos de renda fixa nos próximos dias. Mais uma semana está começando na BB DTVM, empresa de administração de recursos do Banco do Brasil, que se sagrou a melhor gestora de fundos de 2006 e também ganhou os prêmios de melhor administrador de fundos de renda fixa, de fundos cambiais e de fundos de varejo. A empresa é a maior administradora de fundos do mercado, com 170 bilhões de reais geridos.

Nunca, desde a primeira edição do Guia EXAME de Investimentos Pessoais, em 1996, um único banco havia ganho tantos prêmios de uma só vez. "É o resultado do nosso processo para aprimorar a consistência e a qualidade de nossa gestão", diz Nelson Rocha Augusto, presidente da empresa. Economista formado pela Unicamp, ele é o primeiro líder da BB DTVM que não foi recrutado no Banco do Brasil. Com passagens anteriores pelo Banco Votorantim e pelo Francês e Brasileiro, coube a Augusto a tarefa de reorientar a BB DTVM. "Tínhamos de nos adaptar a um mercado em crescimento e com redução relativa da participação dos títulos públicos", diz ele. Isso significou investir pesadamente em processos, driblando as tradicionais amarras de qualquer estatal. "Temos de desenvolver talentos internos, pois para nós é mais difícil recrutar pessoas no mercado", diz.

Esse é o caso dos gestores premiados. André Abreu, responsável pelos fundos de renda fixa, é profissional de carreira com 19 anos de BB DTVM. Ele administra 56 bilhões de reais, cuidando do dinheiro de 250 000 cotistas, tanto pessoas físicas como empresas. Qual a sua filosofia de trabalho? "Cautela", diz. "Nossos clientes não suportam oscilações nos fundos." Foi essa atuação cautelosa que garantiu os prêmios ao BB. Em 2004, o banco foi surpreendido pela crise política detonada pelas denúncias de corrupção contra Waldomiro Diniz, assessor do então ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu. O efeito foi péssimo, e os fundos apresentaram as maiores perdas da categoria. "Tudo estava muito bem no início do ano, até percebermos que o mercado vinha assumindo muitos riscos, e nos perguntamos como seria se houvesse um novo caso Waldomiro", diz Aroldo Medeiros, responsável pelos fundos de varejo. Daí a opção pela segurança, fundamental para superar a crise de maio.

A estratégia para os fundos cambiais foi parecida. No início do ano, a euforia que fez o dólar recuar para 2,08 reais não contagiou Marcelo Pacheco, gestor desses fundos no BB. "O mercado começou a ficar muito estreito", diz. A maioria dos bancos assumiu posições mais arriscadas e sofreu quando o dólar avançou para 2,40 reais poucos meses depois. "Deixamos de ganhar, mas evitamos as perdas, o que no fim foi um bom negócio."